uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
A doença pode ser bonita

A doença pode ser bonita

“Ovo Estrelado” e “Ferradura de cavalo” são alguns dos nomes das imagens de patologias oculares que podem ser vistas na exposição de fotografia “Olhar Clínico”, em Samora Correia. Os autores são um médico e um técnico de oftalmologia do Hospital de Vila Franca de Xira.

Só uma das fotografias da exposição, que está patente no átrio do Centro Cultural de Samora Correia (desde 17 de Fevereiro até Maio), mostra um olho são. As restantes duas dezenas são fotografias de patologias oftalmológicas, desde cataratas a deslocamentos da retina, mas também imagens de infecções oculares e de doenças raras e sem tratamento. O curioso é que todas elas são fotografias magníficas. Por causa disso, os autores da exposição “Olhar Clínico”, o médico oftalmologista Miguel Amaro e o técnico de oftalmologia Bruno Pereira, do Hospital Vila Franca de Xira (HVFX), decidiram escolher algumas imagens de um “portfólio enorme” e mostrá-las à população.
“Pensámos que seria interessante mostrar o que fazemos e sensibilizar as pessoas para os problemas oftalmológicos”, explicou a O MIRANTE o médico, que contou com a paixão por fotografia de Bruno Pereira para realizar esta mostra. É dele a maioria das imagens que se podem ver nesta exposição.
“O Bruno usa o seu conhecimento para tirar melhores fotografias e é por isso que temos aqui fotografias raras”, revelou o médico. Como por exemplo a imagem intitulada “Ovo Estrelado”, um nome simples para legendar uma patologia rara: a pseudoviteliforme do adulto, que implica a perda de visão central e para a qual não existe tratamento.
Há mais: a “Ferradura de Cavalo” mostra um deslocamento da retina, o que pode acontecer em virtude de uma queda, por exemplo, e que não apresenta sintomas. “As pessoas pensam que estão a ver bem, mas se lhes pedirmos para fechar o olho são, não vêem nada”, explicou Miguel Amaro, que alertou para a importância do rastreio. A imagem apresentada é a de um jovem recluso em Vale de Judeus que chegou ao HVFX com um deslocamento de retina: “Veio algemado e recebeu tratamento imediato. Estes casos têm de receber tratamento urgente, pois podem implicar cegueira”, revelou o oftalmologista. Como o recluso fizera o deslocamento de retina, o médico não perguntou. “A nós cabe apenas tratar o doente”, disse.

Diagnóstico “à Dr. House”
Tal como o personagem principal da famosa série Dr. House já aconteceu o médico e o técnico depararem-se com patologias difíceis de decifrar. Recordam o caso de uma jovem que apresentava uma infecção no olho, mas não conseguiam detectar a razão. Bastou uma pergunta para chegarem ao diagnóstico: “Tem alguma ferida que não cicatrize?”. A jovem lembrou-se que o gato a arranhara e os médicos perceberam de imediato que a paciente tinha sido infectada pelo animal.
Uma outra imagem que pode ser vista na exposição recebeu o nome “Sunset” e é a fotografia ampliada de um “cristalino descaído”. O nome é bonito, a imagem também, mas as consequências são sérias. Ainda assim esta é uma forma diferente de olhar para as doenças oculares e desmistificar o seu lado negro. Até porque existem cada vez melhores tratamentos e estes “chegam mais rapidamente à população”, frisou Miguel Amaro.

Idosos em zonas rurais são o grupo mais vulnerável

“Aqui na zona, apesar de estarmos perto de Lisboa, estamos muito longe de Lisboa”, explica o médico Miguel Amaro, que destaca “a população mais rural e mais idosa” como a que apresenta patologias oftalmológicas mais avançadas. “Só vão ao hospital quando já não conseguem ver”, explica. Mas no HVFX também surgem muitas pessoas, na faixa etária dos 40 anos, que nunca usaram óculos e deviam. “Surgem-nos principalmente camionistas. Não vêem bem há muitos anos e pensam que não têm problemas de visão”, revela Miguel Amaro.

Operações às cataratas em Cuba acabaram

Na exposição “Olhar Clínico” existem imagens de olhos com cataratas, um dos problemas que levou muitos portugueses a procurarem cirurgias em Cuba, mais baratas e sem lista de espera. No entanto, o médico oftalmologista Miguel Amaro garante que, desde 2011, isso já não acontece, e desaconselha viagens a Cuba para esse fim. “As pessoas não devem ir a Cuba operar as cataratas porque não irão receber os melhores cuidados”, sublinha. Revela ainda que, em relação ao concelho de Vila Franca de Xira e à sua área clínica, “quem precisa de tratamento urgente não fica à espera”.

A doença pode ser bonita

Mais Notícias

    A carregar...