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Alverca do Ribatejo tem o único lar do concelho com unidade para demências
Humanidade. Presidente tem criado uma relação de proximidade com os utentes

Alverca do Ribatejo tem o único lar do concelho com unidade para demências

Na Casa São Pedro de Alverca existe um andar colorido destinado a idosos que sofrem de demência. Esta Primavera será ainda inaugurado um Jardim Sensorial. Luciana Nelas, a presidente do lar, quer alargar a sua acção à freguesia e apoiar pessoas com menos recursos.

Luciana Nelas, a presidente da direcção da Casa São Pedro de Alverca, estava a acompanhar o almoço da instituição quando se viu a ela, anos mais tarde, a precisar de ajuda para fazer uma refeição. “Dei-me conta de quanto é confrangedor para aqueles que têm a cabeça sã assistirem à dificuldade que alguns idosos têm até para levarem a comida à boca”, confessou a O MIRANTE.
Tinha chegado ao lar há pouco tempo, depois de se ter reformado da direcção dos serviços administrativos do Agrupamento de Escolas do Bom Sucesso, também em Alverca do Ribatejo, e cada dia era uma aprendizagem. “Estava habituada a lidar com crianças e esta era uma nova realidade”, recorda. Foi há seis anos e entrou este ano no terceiro (garante que será o último) mandato como presidente da instituição. Voltemos ao almoço. “A minha ideia não era separar ou esconder as pessoas que sofrem de demência, mas garantir qualidade de vida para todos”, explicou.
O desabafo chegou aos outros membros da direcção - são cinco e todos eles em regime de voluntariado - e começou a ganhar forma com a visita à Unidade de Cuidados Continuados Bento XVI, em Fátima, destinada a doentes de Alzheimer. A visita aconteceu em 2010 e pouco tempo depois Luciana Nelas começou a fazer aquilo que faz bem: “reuniu as tropas”, ou seja, contagiou a direcção e os funcionários.

Unidade foi construída com dinheiro da casa
“A Unidade para as Demências foi toda construída com o nosso dinheiro, ainda pedimos apoio à Segurança Social mas foi-nos negado”. Não esmoreceu. “Os nossos motoristas trataram das pinturas, comprámos as camas e ainda contratámos duas psicólogas”. Com capacidade para 21 utentes - não há vagas neste momento - a Casa São Pedro de Alverca é o único lar do concelho com uma unidade destinada apenas às demências.
Tal como na unidade de Fátima, aqui há corrimões pintados de diferentes cores, para que os idosos se possam orientar, e a segurança é alta. As famílias aceitaram bem que os seus familiares transitassem para uma unidade onde “são mais acompanhados”. A sala de convívio tem cadeirões vermelhos, porque a cor é importante para quem sofre de demência, e as psicólogas estimulam diariamente os utentes, insistindo para que pintem mandalas ou para que ordenem figuras geométricas. “O objectivo é que não avancem muito na doença”, diz a responsável.
O ano de 2016 foi de conquistas. “Concorremos ao apoio da Fundação Amélia de Mello, do Hospital Vila Franca de Xira, e ganhámos por duas vezes”, revela (ver caixa).
A primeira candidatura aceite permitiu fazer obras no sótão: a casa tem agora duas novas salas de fisioterapia bem equipadas e ainda uma sala de snoezelen: uma sala multi-sensorial que estimula os sentidos e diminui os níveis de ansiedade e tensão. “O tacto é a primeira coisa que ganhamos e a última que perdemos”, ensina-nos Carla Caldeira, a terapeuta responsável por esta sala especial.

A prioridade no acesso é para os sócios mais antigos
Na Casa São Pedro de Alverca trabalham 21 funcionários, além de dois médicos, seis enfermeiras e dois fisioterapeutas. Tem capacidade para 111 utentes internos, 88 de centro de dia e 50 no apoio domiciliário. Recebe maioritariamente utentes do concelho, mas não está fechada a pessoas de outras zonas. “Entra primeiro quem for sócio mais antigo. O valor máximo da mensalidade são 980 euros. Mas há quem pague apenas 500. Quem pode paga, quem não pode encontramos uma forma de ajudar”, garante.
Os muitos utentes espalham-se pelas diferentes salas de convívio: conversam com as visitas, fazem palavras cruzadas, assistem televisão ou fazem renda. Alguns parecem alheados do mundo. Foi para estes que Luciana Nelas decidiu criar um Jardim Sensorial, que se encontra agora em fase de conclusão.
Fica no espaço ao ar livre em frente à casa e inclui uma cascata de água, um terreno com diversos pisos, plantas aromáticas e ainda gaiolas grandes com aves: “Queremos estimular todos os sentidos. Estamos ansiosos pela chegada da Primavera para estrear o Jardim”, confessou. Mais uma vez, para a criação deste espaço, Luciana Nelas “chateou” quem podia: foi um dos filhos, arquitecto, quem desenhou o projecto, e o financiamento veio da Câmara de Vila Franca de Xira.
Luciana Nelas diz que não receia envelhecer: “Tenho é medo de sofrer”. A Casa São Pedro de Alverca pretende que quem atravessa o Inverno da vida que o faça com o mínimo de sofrimento.

Uma casa aberta à comunidade

Um dos grandes objectivos de Luciana Nelas foi “abrir a Casa São Pedro à comunidade”. Nesse sentido, foi criada a Academia Sénior, uma universidade para idosos que conta com 66 alunos, entre eles utentes. Da sua experiência nas escolas do Bom Sucesso, sabia que muitos pais não tinham onde deixar os filhos durante as férias escolares. O projecto “Férias com Avós” traz à casa cerca de 30 crianças, entre os 4 e os 10 anos, durante os meses de Julho e Agosto. Os meninos ouvem histórias e interagem com os idosos, mas também têm actividades orientadas por duas funcionárias da casa e algumas voluntárias. “O meu neto Tomás já participou, o ano passado”, contou a presidente.

Clínica e Loja Social em 2017

A segunda candidatura aceite pela Fundação Amélia de Mello vai permitir avançar com dois projectos que Luciana Nelas considera muito importantes para Alverca do Ribatejo. “Vamos abrir uma Loja Social no Mercado e ainda uma Clínica Social”. A clínica, que contará com o trabalho de médicos voluntários, vai ter consultas de fisioterapia, terapia da fala, psicologia, medicina geral e ainda enfermagem e “é dirigida a pessoas com poucos recursos”, explicou a responsável.

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