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Uma mulher sem medo ao comando dos Bombeiros de Alhandra
dedicação. Nova comandante entrou no quartel pela primeira vez há mais de 40 anos atrás

Uma mulher sem medo ao comando dos Bombeiros de Alhandra

Carmelita Caetano tem 61 anos e é contra todo o tipo de preconceitos. Subiu a pulso na hierarquia dos bombeiros e chegou a ser distinguida pela Presidência da República com o grau de oficial da Ordem do Mérito numa altura em que era quase escandaloso uma mulher integrar uma corporação de bombeiros. Hoje lidera meia centena de pessoas.

Carmelita Caetano, 61 anos, é a nova comandante dos Bombeiros Voluntários de Alhandra (BVA) e torna-se na única mulher no distrito de Lisboa a liderar uma corporação. É responsável por meia centena de soldados da paz. Está ainda em regime de substituição do anterior comandante - e seu marido - Jerónimo Caetano, figura muito acarinhada no concelho e na região e que foi forçado a retirar-se este ano por ter atingido o limite de idade previsto na lei.
Garante que ser mulher de Jerónimo Caetano é “um legado” que irá carregar até ao fim da vida e afirma que nunca foi pelo marido ser comandante que conseguiu subir na hierarquia. Os homens e mulheres que a acompanham sabem disso e por isso respeitam-na. Sabem que Carmelita foi uma mulher bombeira desde cedo - entrou no quartel pela primeira vez há 40 anos - numa altura em que uma mulher nos bombeiros era algo quase escandaloso.
“Orgulho-me quando digo que fiz carreira. Subi a pulso, fiz recruta a terceira, exames a segunda, exames a primeira, fui sub-chefe, chefe, adjunta de comando, segundo comandante e agora comandante. Não há nada aqui que seja surpresa para mim”, refere.
Carmelita nasceu no dia 8 de Março, Dia da Mulher, uma data simbólica. “Por ser mulher sinto que a responsabilidade é muito grande mas é uma vitória para as mulheres. Já na altura me senti pioneira nestas andanças e agora mais do que nunca sinto que as mulheres estão a ocupar um cargo na sociedade que é merecido e que eu posso contribuir para isso. Dá-me prazer e faz-me sentir bem comigo mesma. Sinto a responsabilidade nos ombros, por ser mulher tenho uma responsabilidade acrescida porque os olhos estão mais postos em nós”, conta a O MIRANTE.
Em Março de 1998 o então Presidente da República Jorge Sampaio condecorou-a com o grau de oficial da Ordem do Mérito e desde então acumulou a distinção com outras que lhe foram dadas, da Câmara de Vila Franca de Xira às entidades ligadas aos bombeiros.
“Se hoje não há mais mulheres nestas posições é porque essas oportunidades não lhes foram dadas. Lembro-me de ir a reuniões com mulheres em que algumas se queixavam de nem sequer os comandantes lhes quererem dar fardas. Durante anos e anos as mulheres foram impedidas de fazer carreira nos bombeiros por ser considerado um mundo masculino. Hoje as oportunidades são diferentes e acredito que daqui a alguns anos mais mulheres estarão no mesmo lugar que eu. Não há obstáculos nem limites para que as mulheres hoje não possam ser grandes”, refere.

Dormir com o rádio na mesa de cabeceira
Carmelita Caetano não desliga da função e até no quarto, em casa, dorme com um rádio dos bombeiros na mesa-de-cabeceira. Quer estar sempre pronta para qualquer emergência. “A minha primeira prova de fogo já foi há muitos anos, por isso poucas coisas são surpresa para mim. Já não há lugar para nervos”, garante.
A nova comandante dos BVA concorda com a obrigação dos comandantes se afastarem aos 66 anos porque “nada é eterno” e as pessoas mais jovens trazem também consigo inovação e novas ideias. Além das dificuldades financeiras Carmelita sabe que um dos maiores desafios é cativar voluntários para os bombeiros. “Essa é uma luta constante e uma ambição minha, conseguir o máximo número possível de voluntários, dos 17 aos 44 anos. Temos de continuar activos e a servir a comunidade”, refere.
Para a comandante, as mulheres têm “mais perspicácia” e uma maior humanidade para certas situações do que os homens, embora trate todos de igual modo. “Se num momento baixo os olhos porque me sinto fraca, no momento a seguir sinto-me a mulher mais forte deste mundo. Há pessoas que caem no desânimo mas eu consigo dar a volta facilmente e quando dou por mim já lá estou em cima outra vez”, revela.

A alegria de juntar o útil ao agradável

Carmelita Caetano nasceu no concelho de Montemor-o-Novo mas desde os 12 anos que vive em Alhandra. Mudou-se quando os pais precisaram de vir para o concelho de Vila Franca de Xira trabalhar. É por isso que diz, sem hesitações, que se considera uma alhandrense. “Alhandra é a minha terra, pela qual nutro um grande amor e onde ando todos os dias. Montemor-o-Novo é diferente, tenho lá casa e vou lá com frequência mas aqui é a minha terra”, conta.
Honestidade, humildade e frontalidade são alguns dos seus principais valores. “Gosto de ser muito directa, comigo tem de ser tudo olhos nos olhos e não pode ser de outra forma, se não for assim não aceito”, conta.
Carmelita diz que os bombeiros são “um bichinho” muito contagioso e tranquiliza a população garantindo que estão em boas mãos. “Tenho o prazer de juntar o útil ao agradável porque isto é o que eu gosto de fazer. Já enfrentei praticamente de tudo. O quartel e as suas pessoas são como a minha casa e a minha família, praticamente sempre vivi aqui”, conclui.

Uma mulher sem medo ao comando dos Bombeiros de Alhandra

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