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Os doces são a sua especialidade

Os doces são a sua especialidade

Paula Trovão é gerente do restaurante ‘O Trovão’, em Amiais de Cima, Santarém. Uma aposta feita há cerca de três anos. Depois de alguns percalços na vida, o negócio está a correr bem. Estudou só até ao sexto ano e em jovem sonhava ser instrutora de condução.

A vida de Paula Trovão, 49 anos, gerente do restaurante ‘O Trovão’, em Amiais de Cima, concelho de Santarém, não tem sido fácil. A sorte não lhe tem batido à porta. O dia do seu casamento mais parece uma história para os apanhados, marcado por imprevistos e pela morte de um convidado. Mais tarde ficou desempregada e com uma filha para criar. Nunca desistiu e fez-se à vida. Abriu o restaurante há cerca de três anos e, felizmente, clientela não lhe falta.
Paula nasceu em Abrã, concelho de Santarém, e foi lá que passou a sua infância. Estudou até ao 6º ano porque o pai não a deixou prosseguir os estudos. “Era preciso ajudar a minha mãe a tomar conta dos meus irmãos trigémeos que nasceram quando eu tinha oito anos”, conta. “Era boa aluna, os meus pais nunca tiveram problemas comigo. Gostava de ter continuado os estudos”, diz.
Sempre sonhou ser instrutora de condução. “Porque achava que quem ia ao lado do condutor não fazia nada”, diz soltando uma gargalhada. O seu primeiro emprego foi nas vindimas em Almeirim e Paço dos Negros quando tinha 14 anos de idade. Depois trabalhou numa ervanária de uma vizinha e ainda ajudava a sua mãe a fazer molhinhos de eucalipto para depois vender às cerâmicas para servir de combustível.
O dia do casamento de Paula Trovão mais parece uma cena para os apanhados. Paula tinha comprado o vestido de noiva com alguma antecedência e dois dias antes do casamento quando foi tirá-lo do armário, reparou que estava todo comido das traças. Lá conseguiu arranjar outro vestido mas no dia do casamento, o padre que a ia casar teve de ser operado de urgência à apêndice e não a pôde casar. Veio um padre de substituição e lá conseguiu casar mas o casamento havia de ficar marcado por uma tragédia. Um amigo seu, convidado, sentiu-se mal e acabou por morrer naquele dia.
Paula Trovão nunca desistiu de procurar a sorte. Trabalhou durante 15 anos na área de serviço de Santarém da A1 como empregada de limpeza e como o ordenado era pouco, fazia um part-time no restaurante da área de serviço. Nessa altura divorciou-se e por essa razão ainda arranjou mais um trabalho. “Fazia bolos e salgados que vendia para fora, para não faltar nada à minha filha”, conta.
Foi na altura em que ficou desempregada que decidiu, com o dinheiro dos subsídios, abrir um restaurante porque sabia cozinhar e adorava fazer bolos. A filha tinha acabado o 12º ano e juntou-se à mãe para esse desafio.
O negócio tem corrido bem mas Paula diz que tem de trabalhar muito para isso. “Começo às sete da manhã e só termino quando o último cliente se vai embora”, conta. A maior parte dos clientes vem de fábricas situadas ali à volta. “Também vem gente de fora, como por exemplo emigrantes, e passam também muitos peregrinos que vão para Fátima”. Paula espera com a vinda do Papa ter o restaurante cheio todos os dias.
Os doces são a especialidade de Paula que diz que gosta tanto de os fazer como de os comer. “Principalmente quando estou irritada como tudo e mais alguma coisa”, diz. O gosto de fazer bolos já vem de criança. “Já quando estava em casa do meus pais fazia pastéis de nata para vender para fora mas o meu pai não achava muita graça a essa ideia, por isso, tinha de me levantar de noite, enquanto ele estava a dormir para fazer os bolos. Dizia-me que nem para o champô ganhava”, conta Paula por entre sorrisos. Claro que foi apanhada algumas vezes pelo seu pai mas “não ligava”.
“Uma vez apareceram-me aqui uns senhores belgas já perto das quatro da tarde que estavam por esta zona a passear e queriam comer alguma coisa. O problema foi explicar aos senhores que o único prato que havia eram bochechas de porco. Como eu não sei falar francês tive de explicar por gestos e então apertava as minhas bochechas e roncava para lhes explicar. Não sei se perceberam mas que gostaram, lá isso gostaram”, conta com humor.

Os doces são a sua especialidade

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