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Dança do Flamenco afasta rapazes por causa do estigma da homosexualidade

Dança do Flamenco afasta rapazes por causa do estigma da homosexualidade

São na sua grande maioria do sexo feminino os protagonistas das danças sevilhanas e flamenco que se inspiram na tradição da Andaluzia. Existem dezenas de grupos no Ribatejo. Em comum têm o facto de quase não terem rapazes entre os membros por causa do estigma da homossexualidade.

“Os melhores bailarinos de flamenco são homens”, relembra Catarina Ramos, a professora de dança dos grupos Sevilhanas Aps Castanheira, de Castanheira do Ribatejo, e Sevillanas y Flamenco Ayeos, de Alcochete. A professora lamenta ser tão difícil cativar rapazes para acompanharem as bailarinas em palco, uma vez que ainda persiste o estigma de que um bailarino só pode ser homossexual. Por isso, são raparigas que Catarina treina ao ritmo da música da Andaluzia, ela que é uma verdadeira apaixonada por este estilo de dança.
Foi esta professora que criou o grupo Sevilhanas Aps Castanheira, há precisamente sete anos, comemorados no passado sábado, em Cachoeiras, num encontro que juntou seis grupos de bailarinas da dança que nasceu em Sevilha, Espanha, e que em Portugal se inspira na tradição espanhola.
Se é verdade que é em zonas com forte ligação à tauromaquia que este tipo de dança é mais presente - “todas as terrinhas do Ribatejo têm um ou dois grupos de sevilhanas”, diz a professora - a moda já se está a estender para o resto do país, sendo pouco frequente apenas no Norte e no Algarve. Afinal, quem é que resiste a um “olé!” e a um levantar de saias cheias de folhos de bailarinas impecavelmente vestidas, penteadas e maquilhadas? Em Vila Franca de Xira, ninguém, como se provou no encontro que encheu o polidesportivo de Cachoeiras.

Espectáculos ajudam a suportar os custos da indumentária
A entrada para assistir às actuações custava 3 euros e os lugares esgotaram à mesma velocidade em que se multiplicaram as câmaras de filmar e as máquinas fotográficas: “As pessoas gostam muito do espectáculo”, assume Catarina Ramos, que só tem pena de faltarem rapazes nos grupos. “Ainda existe muito aquela mentalidade retrógrada de associar os bailarinos à homossexualidade”, frisa a professora, que tem apenas um menino de oito anos no grupo que ensaia em Alcochete. A esmagadora maioria são meninas, e de uma faixa etária mais nova, porque é preciso tempo para os ensaios e para as apresentações”, diz ainda.
Apesar da escola contribuir com o custo dos vestidos - renovados todos os anos - quando falta dinheiro, são as famílias que suportam a despesas (ver caixa). E cada aluna paga em média 25 euros mensais pelas aulas. “Mas sei que há grupos em Vila Franca de Xira onde se paga muito mais”, revela Catarina Ramos.
São tantas as bailarinas que se apaixonaram pela dança da Andaluzia, que parece fácil aprender, o que é um engano: “É difícil a coordenação entre mãos e pés, porque as mãos estão a fazer uma coisa e os pés outra, e tudo ao mesmo tempo”. Mas as crianças têm vontade de ferro e concentradas conseguem fazer tudo direitinho, mesmo com o nervosismo evidente da professora. Afinal, apesar de amadoras, estas bailarinas encaram o flamenco com seriedade e rigor. Os vestidos bonitos são uma espécie de cereja em cima do bolo.

Ex-alunas mataram saudades e vestiram-se a rigor
Margarida Pereira e Susana Chaparro já não pertencem ao grupo Sevilhanas Aps Castanheira. Estavam ali para ajudar as mais novas e para matar saudades. Deixaram o grupo após seis anos, porque deixaram de ter tempo para os ensaios duas vezes por semana e para as deslocações aos fins-de-semana. Têm pena. Vestiram-se a rigor para receber as bailarinas convidadas. Além dos grupos acima nomeados, participaram no encontro os grupos Sevilhanas.com, de Vila Franca de Xira, o grupo Sabor Flamenco Agisc, de Samora Correia, e ainda a escola de sevilhanas e flamenco Soledad, da Moita.

Vestidos podem custar 200 euros e são renovados anualmente

Os vestidos usados pelas bailarinas chamam a atenção. Tudo é pensado ao pormenor, desde a maquilhagem às flores gigantes no cabelo, apanhado de lado ou num carrapito à moda de Espanha. “Todos os anos a escola manda fazer vestidos novos. Este ano escolheram um tecido e o vestido terão de o usar, mas não têm obrigatoriamente o mesmo modelo”, contou Ana Mira, de 13 anos.
Ela e Mariana, de 18 anos, aproveitavam uma pausa entre a apresentação dos grupos para se refrescarem no pátio do pavilhão polidesportivo de Cachoeiras. Pertencem, ambas, ao grupo Sevilhanas Garnaxa, de Sarilhos Grandes (Setúbal). Revelaram ainda que a escola também tem vestidos no seu espólio, que vão passando de bailarina em bailarina. Custam entre 50 e 200 euros: são os folhos e os pormenores que encarecem os modelos.

Dança do Flamenco afasta rapazes por causa do estigma da homosexualidade

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