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Festa e escola de automóvel

A Feira Nacional da Agricultura necessita do Quim Barreiros para, eventualmente, vingar e justificar a realização do certame.

Primavera, verão e eleições autárquicas é certeza que vamos entrar em festa. Festa continua onde a imaginação não tem limites. Basta passar pelas nossas terras e estradas e os plásticos pendurados em tudo o que é sitio, a maioria com extremo mau gosto, não nos deixam ter dúvidas. Não há lugarejo e fim de semana em que não aconteça muita coisa.
As grandes questões à volta do tema são muitas e significativas. Será que estes eventos contribuem positivamente para o bem estar e qualidade de vida de quem lá vive? Qual é a eficácia do investimento? Esta é mesmo a melhor opção?
Uma coisa é certa, desde logo, a ideia dos plásticos pendurados por tudo o que é sítio é poluição visual e outra que não se recomenda. Quando isto acontece num centro histórico, à entrada de uma cidade, pior ainda. Mas há, pelo menos, uma outra questão pertinente.
À parte o maior ou menor valor da temática que justifica o evento há sempre um programa musical associado. Está claro, e é assumido, que os ditos músicos servem para atrair gente à coisa. Perante esta realidade as minhas orelhas ficam desde logo muito arrebitadas. Significa isto que o tema e motivo, “a causa da coisa”, que justifica organização do evento, só por si, não é suficiente para atrair pessoas e ter público? Se assim é porque se faz? As respostas, certamente muito válidas, devem ser quase infinitas provavelmente com a dimensão e aposta cultural à cabeça. Portanto daqui se conclui que a Feira Nacional da Agricultura necessita do Quim Barreiros para, eventualmente, vingar e justificar a realização do certame.
Se olharmos para os plásticos pendurados por todo o lado o que salta à vista são os artistas. Há na verdade muita coisa que me deixa muitas dúvidas. Custa-me a compreender esta associação entre a temática dos eventos e os dominantes programas musicais. Se não há mercado para o festival de cogumelos porque se faz? É mais ou menos equivalente a alguém que abre uma padaria e depois oferece cafés para atrair clientes. Sobretudo o que mais me incomoda nesta realidade é imaginar o que se investe nestas coisas e no que resulta de benefício para as pessoas que têm carência de muito do essencial – saúde, educação, justiça… Também me questiono se os tais dinheiros comunitários aplicados e geridos regionalmente pagam este tipo de cultura? Como sabemos a grande maioria dos nossos governos locais (autarquias) estão muito endividados, sem dinheiro para muito do que devem fazer. Ou será que a componente não tangível, em matéria de euros, de distrair o povo, ou do faz de conta, tem algum peso nesta equação? Um dia tudo isto vai ficar mais verdadeiro e nós vamos saber, até lá viva a festarola.
A escola, aparentemente, não tem nada a ver com as festas da terra mas há umas semanas escrevi aqui sobre a festa nacional patete de levar os filhos à escola de automóvel. Pois bem, soube-se agora que em Londres quem o fizer está sujeito a pesadas multas. Porque razão temos que esperar umas décadas para fazer melhor?
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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