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ARPIA festeja 25 anos e enfrenta futuro incerto
Da esquerda para a direita: Maria Eduarda Castanheira com a deputada Maria da Luz Rosinha e a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes

ARPIA festeja 25 anos e enfrenta futuro incerto

Presidente da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Alverca está a cumprir o último mandato e diz que não vê ninguém com vontade de lhe suceder.

Na festa de aniversário da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Alverca (ARPIA), a presidente anunciou que este é o seu último mandato e que terá de abandonar o cargo por motivos de saúde, afirmando que teme pelo futuro da instituição. O mandato termina daqui a um ano e meio e ainda não há quem se tenha perfilado para assumir as rédeas da ARPIA.
Maria Eduarda Castanheira é presidente da associação há 12 anos. Quando entrou, “não havia nada do que há hoje, eram só paredes”. Hoje é o espaço de convívio de mais de 500 idosos que se juntam para jogar às cartas e ao chinquilho, para comer e beber e para partilhar o dia-a-dia com outros que, como eles, não querem ficar sozinhos em casa. “Temos aqui muitos viúvos, ou então pessoas que têm família mas que não se dão com ela. E também muitos que não têm mais ninguém”, explica a presidente, que fundou o grupo de cavaquinhos há nove anos e impulsionou a ideia das aulas de ginástica, que já contam com 68 alunos.
Como é hábito, o município disponibilizou este ano um subsídio de mais de três mil euros para apoiar as actividades da ARPIA, já que o único valor que os sócios têm de pagar é um euro por mês. “Tenho tido muito apoio da câmara, tanto do actual executivo como do antigo. Quando preciso de alguma coisa e peço eles conseguem sempre ajudar”, defende Maria Eduarda. A ARPIA arrancou o ano de 2017 com um saldo positivo de 6.963 euros mas a presidente afirma que se podia chegar mais longe se houvesse uma maior participação e empenho dos sócios e voluntários: “Voluntários para a fotografia há muitos mas depois desaparecem”.
Apesar das melhorias e progressos que a associação tem registado ao longo dos anos ainda subsistem algumas lacunas. “O nosso maior problema é a falta de espaço. Tenho muita pena de dizer isto, mas todos os anos me deparo com situações pouco agradáveis porque não tenho espaço para receber todas as pessoas que quero”, alerta a presidente, que desde que assumiu o cargo vem pedindo apoio para melhorar as valências da instituição. A falta de espaço ficou bem patente na festa de aniversário, em que os convidados tiveram de ser divididos por diversas salas.
A associação tem sede na cave de um dos edifícios antigos da Rua Joaquim Sabino Faria que pertencem à EMPORDERF.
O MIRANTE já tinha dito no final de Março que a Câmara de Vila Franca de Xira queria tomar medidas para a aquisição deste e de outros edifícios, que estão ao abandono, e o presidente do município, Alberto Mesquita, voltou a afirmar, na festa de aniversário, que houve contactos com o Secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, para resolver a questão. O autarca defende que “o exigível agora é tomar-se decisões e estou convicto de que o secretário de Estado será sensível àquilo que temos vindo a colocar e havemos de encontrar uma solução”.
Afonso Costa, presidente da Junta de Freguesia de Alverca e Sobralinho, aproveitou a presença de Alberto Mesquita para frisar a urgência de resolver a questão: “Espero que se consiga encontrar uma solução para dignificar esta área da cidade de Alverca. Ao resolver esta questão de certeza que vamos encontrar melhores condições para servir todos os sócios desta associação”. O presidente da junta ofereceu à ARPIA um novo forno eléctrico como presente de aniversário.
Já Maria Eduarda Castanheira afirmou não ter intenção de voltar a candidatar-se a presidente da ARPIA: “Estou cansada, a minha saúde já não me permite continuar. Já não devia ter feito este mandato mas, na hora da tomada de posse, a lista que ganhou disse que não tinha capacidade para levar isto avante e fiquei eu à frente”. O mandato termina daqui a um ano e meio e a presidente vai abdicar mas não desligar-se da associação. “Quem quiser ficar com isto pode contar com o meu apoio”.
Confessa temer pelo futuro porque “se perguntar aí a vários sócios não vejo interesse de ninguém em pegar” na associação. O encerramento da instituição é uma ameaça a pairar no horizonte, “a menos que surja alguém com coragem que pegue nisto, o que eu espero que aconteça”, diz a presidente.

Uma mulher de armas a liderar a ARPIA

Viveu a guerra civil em Moçambique, perdeu duas grandes paixões, passou por dois AVC (acidente vascular cerebral) e outros problemas de saúde, foi submetida a diversas operações e dedicou-se à vida da ARPIA. Maria Eduarda Castanheira, 62 anos, é uma mulher de armas que está há 12 anos à frente da instituição de Alverca.
Maria Eduarda Castanheira nasceu a 2 de Setembro de 1954 e viveu em Moçambique durante uma das piores épocas da história do país: a guerra civil. “Um dia tive de ir a correr para casa, grávida de seis meses, porque a FRELIMO invadiu a escola onde eu estava. Foi o caos, nunca tive tanto medo”. E viver debaixo da tensão que o país atravessou acelerou-lhe o espírito. “Sou muito impulsiva, toda a gente me diz isso”, confessa, tal como confessou o azar que teve no campo amoroso. “O primeiro rapaz por quem me interessei, em Moçambique, morreu durante a guerra. O meu primeiro marido também morreu pouco depois de casarmos, fiquei viúva aos 29 anos. Comecei a pensar “caramba, então mas que azar é este?”
A nuvem de azar que parecia pairar sobre ela não a impediu de voltar a encontrar o amor ao lado de Mário Silva, que a acompanha ainda hoje na Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Alverca (ARPIA), onde é tesoureiro. “Estamos juntos há 32 anos. Nunca casámos mas temos sido felizes”, revela Maria Eduarda.
Mas também na saúde esteve quase sempre debaixo de fogo. A uma operação a um fibromioma seguiu-se um problema grave nos intestinos, do qual ainda hoje não sabe a causa porque não lhe disseram nada de concreto no hospital. Sofreu dois AVC e foi reformada antecipadamente por invalidez.
Às mazelas físicas somaram-se as psicológicas, e foi uma vizinha, já sócia da ARPIA na altura, que a impediu de ficar sozinha em casa e a convenceu a juntar-se à Associação. Maria Eduarda tornou-se sócia, depois foi convidada para vice-presidente e mais tarde assumiu a direcção. “Comecei a trabalhar no duro para ter tudo o que tenho hoje. Claro, não trabalhei sozinha, mas com toda a equipa da direcção, conselho fiscal, assembleia, todos em conjunto conseguimos levar isto para diante”.
A presidente reconhece que foi por pensar “em dar primeiro o melhor aos outros e só depois a mim” que está tão cansada. “Esqueço-me de mim própria e prejudico a minha saúde em prol dos outros”. E prejudica também o tempo que passa com a família: “As minhas irmãs dizem-me tantas vezes: ‘metes-te ali e agora já não tens tempo para os teus irmãos!’ Deixei de ter vida própria”.

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