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Vila Flôr, para lá do Marão

O previsto Congresso do Tejo foi adiado, provavelmente não deverá sequer acontecer. A confirmar muito do que escrevi a semana passada, não há mais pachorra para congressos redondos. (...) O Tejo não necessita de mais congressos. O Tejo quer é boa ação.

Hoje é daqueles dias em que o “adoro escrever, só detesto começar” é ainda mais verdade. O previsto Congresso do Tejo foi adiado, provavelmente não deverá sequer acontecer. A confirmar muito do que escrevi a semana passada, não há mais pachorra para congressos redondos. Nestes tempos, que valor tem um grupo de bons amigos juntarem-se numa sala a conversar sobre coisas relevantes sobre o rio? Não muito mais que um dia bem passado. O Tejo não necessita de mais congressos. O Tejo quer é boa ação.
Entretanto, o “Tejo a pé”, um grupo de caminhada informal, esteve em Trás-os-Montes, ou seja, o “Tejo andou no Douro”. Este país é único; rios como os nossos não há mais na Europa. Em contrapartida, todos os outros (Espanha, Itália, França…) têm melhores igrejas, castelos, monumentos… É só por esta verdade que insisto no património natural da nossa terra como o maior dos valores turísticos e verdadeiramente distintivo. Andámos no Douro, mais concretamente no Tua, fruto de uma parceria com a Casa do Lagares Vara e Pedra, muito mais que uma casa de campo, na pessoa do biólogo Paulo Pinto. O Paulo preparou-nos um magnífico fim de semana que incluiu várias dimensões do que faz um humano feliz. Em Vilas Boas, no bonito concelho de Vila Flôr, bem para lá do Marão, no Parque Natural Regional do Vale do Tua, andámos cerca de 11 quilómetros de um encanto difícil de escrever e retratar. Jamais imaginámos que seria possível em Portugal andar tal distância continuamente com vistas soberbas. Se alguém duvidar que este país tem um capital natural único vá até Vilas Boas e comprove-o nos primeiros 10 minutos ao subir à Nossa Senhora da Assunção. Esta geologia que nos é oferecida pela dureza dos quartzitos eleva-nos (quase) até ao céu – suspeitamos que o templo ali construído teve esta como primeira intenção, aproximar-nos do céu. Muito para além da beleza da paisagem, dos magníficos afloramentos rochosos, de todas as formas e cores dadas pelos líquenes, da muitas vezes frondosa vegetação, dos caminhos únicos, das flores por todo o lado, o silêncio da natureza e ausência total de vestígios de humanidade são sem dúvida a grande valia deste território. Na verdade, durante o percurso apenas ouvimos o silêncio e não vimos vivalma. Quanto vale isto? Quanto vale isto para a esmagadora maioria dos humanos, escravos da urbanidade, que vivem aceleradamente no online, na ilusão das estações do ano e do Museu do Louvre à distância de um clique? Hoje é dado como muito bom visitar um museu online e muita gente enriquece com uma excelente startup que fez uma magnífica aplicação para esse “faz de conta”. Boa sorte a deste país que tem rios como o Tejo, Douro, Tua e milhares de outros, vivos à espera de serem vividos. Felizmente não o sabemos, mas o silêncio da natureza é um dos recursos mais raros e de maior valor das nossas terras. Experimente e verá.
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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