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A zeladora do jardim

A zeladora do jardim

Cecília Correia decidiu, juntamente com algumas outras pessoas, cuidar do jardim em frente ao seu prédio, na Póvoa de Santa Iria, e agora só pede que a junta ou a câmara criem um sistema de rega eficaz.

Cecília Correia tem 56 anos e nasceu numa aldeia perto de Mirandela, no distrito de Bragança, onde os jardins abundam e onde ganhou a paixão pelas flores. Veio para a Póvoa de Santa Iria há 35 anos, quando o marido começou a trabalhar na cidade, e foi cabeleireira durante mais de 30 anos. Teve de deixar o trabalho a conselho do seu médico porque começou a sentir dores musculares. Aborreceu-se de estar sozinha em casa todo o dia e, há sete anos, decidiu cuidar do jardim em frente ao prédio onde vive, que era terreno de ervas daninhas, ratazanas e cobras.
“Começou como uma brincadeira comigo e com duas vizinhas, e depois juntou-se o marido de uma delas e o meu”. A maior parte do trabalho cabia a Cecília, ainda que tivesse a “ajuda preciosa” dos restantes nas horas vagas. A certa altura uma das vizinhas sofreu um AVC e deixou de a poder ajudar. A outra vizinha perdeu a mãe e ficou responsável pelo pai, doente e a precisar de fazer hemodiálise, além de também ela ter ganho um problema de saúde. Sobraram os dois homens, que continuam a ajudá-la. E já gastaram tanto dinheiro a tratar do jardim e a comprar tudo o que foi necessário para lá que Cecília perdeu a conta ao gasto.
As duas máquinas de cortar relva, por exemplo, custaram cada uma perto de 300 euros. E como o terreno do jardim não é o mais fértil, tiveram de comprar terra adequada onde as plantas se dessem. Algumas das pedras maiores, que também suportam as plantas, foram trazidas em carrinhos de supermercado de perto da loja Mundo da Fruta e do alto das Bragadas. “Nem têm conta os carrinhos que estragámos a trazer aquelas pedras todas!”, conta Cecília.
No princípio, Cecília pediu ajuda a mais vizinhos. Afixou papéis nas portas dos vários prédios em redor do jardim para que todos soubessem o que queria fazer ali e pudessem ajudar monetária ou fisicamente. Mas além dos ajudantes iniciais, Cecília não pôde contar com mais ninguém, o que a desiludiu profundamente: “Eu sei que aqui as pessoas todas elogiam o meu trabalho mas eu não preciso de elogios, precisava era que viessem ajudar. E ainda para mais há pessoas aqui no próprio prédio que às vezes levam o animalzinho para fazer as necessidades lá em baixo”.

Sem ajudas da autarquia
Há sete anos a área do jardim e dos prédios em volta pertencia a proprietários privados mas depois passou para a alçada da Câmara de Vila Franca de Xira. “Nessa altura chegaram a vir cá alguns funcionários da câmara e quando viram o que estávamos a fazer no jardim disseram que mais valia não continuarmos, que ia dar muito trabalho, mas continuámos”. E mesmo com as dores musculares que Cecília continua a ter ao fim de um dia a batalhar no jardim, a moradora sente-se feliz: “Por incrível que pareça, este jardim deu-me mais vida e posso dizer que quanto mais trabalho ali, melhor me sinto!”.
A rega é agora o principal problema. Durante quase dois anos à espera que a câmara os deixasse usar a água de um contador próximo do jardim, Cecília, o marido e o vizinho foram usando a água do início do banho, armazenada em alguidares e garrafões, que despejavam no jardim. Como esse sistema era insuficiente, compraram mangueiras, com a ajuda de mais alguns vizinhos, mas que ainda não chegam. Tudo o que Cecília pede é que a junta instale um sistema de rega. Ainda não fez nenhum pedido formal à autarquia para o conseguir mas disse a
O MIRANTE que já é só o que pede porque o resto vai conseguindo com a pouca ajuda que tem.

A zeladora do jardim

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