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Solo e água

O “faz de conta” não acontece só no outro mundo do digital imaterial onde nada importa se chove ou não e que já não recorda as estações do ano. Muitos de nós começam a compreender a diferença, mais que não seja pelo sabor dos morangos.

Nas nossas terras todos conhecemos alguns sinais, bons exemplos , indicando-nos que alguma coisa está em processo de mudança para melhor. Enquanto o folclore, às vezes ofensivo, das startups anima os nossos melhores centros de excelência, quase sempre ligados às universidades, a fazerem inutilidades em série, o mundo real onde as pessoas vivem, onde os rios correm e as árvores crescem, começa a mostrar-nos excelentes práticas. Num destes fins de semana tentei visitar num dos bairros, tipicamente rural, da cidade em que habito, um mercado local que começa a ter fama. Os pequenos produtores juntaram-se, ganharam alguma escala, ajudam-se e a coisa está a correr bem; entre a agricultura tradicional e a biológica as pessoas reconhecem a qualidade dos produtos e aderem com natural facilidade. Escrevo “tentei”, porque, como um perfeito urbano, falhei o dia; fui no sábado e o mercado é ao domingo. Mas, graças à simpatia das pessoas simples do campo, rapidamente fui informado que ali mesmo ao lado, num outro bairro – daqueles que não deviam existir porque não é rural nem urbano e de qualidade nada tem – havia nesse mesmo dia um mercado “muito melhor”. Lá fui com expetativa e o que encontrei foi o comum: um conjunto de vendedores, vindos não sei de onde, a venderem produtos que compram nos mercados abastecedores. Este tempo de transição, mais que qualquer outro, é fértil em “gato por lebre”; na verdade o “faz de conta” não acontece só no outro mundo do digital imaterial onde nada importa se chove ou não e que já não recorda as estações do ano. Muitos de nós começam a compreender a diferença, mais que não seja pelo sabor dos morangos.
Nesta mesma semana aconteceu mais uma tertúlia sobre o vinho e, curiosamente, foi de longe a mais concorrida e participada quando o tema da conversa e o local escolhido, o campo, nos inspiravam algum receio de pouca gente presente. Escrevo isto porque está totalmente a favor do que em cima escrevo; falámos da vinha como ato agrícola, em pequenas produções com métodos tradicionais/orgânicos que nos possibilitam obter vinhos únicos excelentes. Sobretudo, a mensagem fundamental foi tomarmos consciência que antes da garrafa de bom vinho a preço acessível nas prateleiras das grandes superfícies há campo (solo), vinha e agricultor; incontornável, meus amigos. É bom que estas verdades estejam na nossa mesa. Bom apetite.
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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