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Avaliar

A escala global vai certamente ser determinante para um modo de vida diferente, mais salutar, mas o local, a escala um para um, a enorme escala da proximidade, ou melhor ainda da cumplicidade, vai ser igualmente incontornável.

Avaliar é a pior das tarefas de um professor. Custa-me cada vez mais. Talvez porque ao longo da vida profissional, felizmente estupidamente rica, fui encontrando o que de mais estapafúrdio se possa imaginar. A dada altura trabalhei num projeto empresarial onde é preciso dar a resposta requerida no prazo certo com os meios disponíveis (orçamento) com uma licenciada em Ambiente que tinha sido aluna brilhantíssima; o resultado foi catastrófico. Será que as classificações excecionais não correspondem, necessariamente, bons desempenhos profissionais? Cada ano que passa um 12 ou 17 pouco ou nada me dizem. Sei que o modelo vigente, muito semelhante há dezenas de anos (acima de 10 é positivo, abaixo é negativo), não serve e mostra-se incapaz de refletir a aptidão para o desempenho de determinada função. Noto igualmente que há, a par de um alheamento (deixa andar) por parte dos estudantes, uma enorme distância para o “mundo lá fora”. Os meses de aprendizagem passam-se em constantes avaliações, não há tempo para aprender. Será que há disponibilidade para aprender? Ou basta a tal nota para passar? Se o pudesse fazer no primeiro dia de aulas dava a nota a todos os alunos e a partir daí ficávamos, alunos e professor, bem mais disponíveis para aprender. Todos já percebemos que mudanças significativas nos nossos padrões de vida estão em curso. Por esta altura a Universidade devia trabalhar afincadamente neste desafio. Se não for a Universidade a explorar novos caminhos, quem o faz? Quase o mesmo digo aos alunos; de vós todos esperamos alguma coisa de positivo; se não forem vocês quem é? Quem não tem o privilégio de mergulhar nos livros do saber? Onde está a capacidade de integração da ciência com arte, do conhecimento com o saber, da teoria com a prática? Estamos numa encruzilhada que nos vai exigir muita ciência mas também muito do saber ancestral que parecemos ter esquecido. Acredito que o pós – internet vai chegar de repente e que há lugar para quem tem terra com água e saber para a cultivar. A escala global vai certamente ser determinante para um modo de vida diferente, mais salutar, mas o local, a escala um para um, a enorme escala da proximidade, ou melhor ainda da cumplicidade, vai ser igualmente incontornável. Provavelmente mais rápido que muitas maravilhas que se anunciam e que na verdade não nos facilitam o viver.
Carlos A Cupeto
(Universidade de Évora)

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