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Termostático Serafim das Neves

Os presidentes das câmaras municipais de Entroncamento e Ourém não respeitaram o luto nacional decretado pelo Governo por causa da tragédia do Pedrógão Grande e não pararam as festas nas suas cidades. Agiram de forma rebelde e insubmissa, desobedecendo ao poder central e imitando o pragmático Marquês de Pombal que, como te recordas, ao ver a destruição feita pelo terramoto de 1755 disse que a prioridade era enterrar os mortos e tratar dos vivos.
Para os socialistas Jorge Faria e Paulo Fonseca, como ainda não era possível enterrar os mortos e como o local da tragédia ficava fora da área de protecção ao município definida nos respectivos planos directores municipais, (PDM) a única coisa que havia a fazer era mandar tratar dos vivos, fazendo seguir a música e as cantorias porque, como se sabe, quem canta seus males espanta.
Em Ourém quem cantou foi o rapaz do Festival da Eurovisão que tem aquela música fantástica que é do melhor que há para as insónias. Constrangido como estava por tantas pessoas terem morrido no incêndio deu-lhe o vírus da generosidade e anunciou que iria doar o dinheiro obtido com os cinquenta cêdês que tinha levado lá para a terra, às vítimas.
Claro que podia ter doado o dinheirito que lhe pagaram pela cantaroleirice mas lá deve ter considerado que seria generosidade a mais. Como toda a gente sabe a hiper-generosidade costuma dar mais diarreia que uma boa barrigada de cerejas e além disso ele já sofre duma coisa qualquer no coração. Quanto ao presidente da câmara, o tal Fonseca, a fonte agora está seca depois de ter sido declarado insolvente e por isso não deve ter dado nada... que lhe pertencesse.
O presidente do Entroncamento, Jorge Faria, subiu ao palco em calções pretos, como convém em dias de luto e discursou ao som do uivo da sirene dos bombeiros. A seguir, uns rapazes que imitam os irlandeses U2 assassinaram com grande profissionalismo o “Sunday Bloody Sunday”, que, como sabes, começa com os versos “I can’t believe the news today” (Não posso acreditar nas notícias de hoje).
Enfim...se calhar também eles não acreditaram que as notícias de Pedrógão fossem verdade e por isso se prestaram a ir gargarejar em inglish para cima do palco. Acontece aos melhores, como se costuma dizer.
A Câmara de Santarém anunciou que vai recorrer a voluntários para a promoção do turismo na cidade. E já começou à procura de pessoas que tenham jeitinho para a coisa e que queiram participar generosamente em missões de pastoreio de turistas pelos campos férteis do Gótico.
Imagino que o PCP e o Bloco de Esquerda já estejam a pensar na integração destes trabalhadores precários nos quadros do município. E também imagino que tu estejas a armar o teu famoso sorriso de troça. Mas antes de continuares naquele crescendo até à gargalhada, lembro-te o caso exemplar do Algarve nos anos sessenta.
Quem dinamizou o turismo algarvio nessa altura, quem foi? Técnicos de Turismo? Especialistas em lazer? Licenciados em psicologia de massas? Não, não e não! Foi tudo, como sabes, obra do famoso voluntário Zezé Camarinha. Quando ele começou a promover em regime de voluntariado aplicado o sucesso foi imediato. Quanto mais ele elevava a sua classe mais cabeleireiras, dactilógrafas e reformadas inglesas chegavam às praias em busca dos calores do astro rei!! Foi verdade ou foi mentira?!
Compreendo o entusiasmo que sentiste ao veres uma modelo de tanga que alguém mergulhou numa lata de tinta azul e enfeitou como se fosse uma árvore de Natal ribatejana a ser guardada por campinos a cavalo na Feira da Agricultura. Eu quando vi a fotografia dei por mim a imaginar como é que a jovem irá aparecer no Festival Nacional de Gastronomia. Irá revestida a chantilly ou barrada com creme de chocolate? Chama-se a isto, perspectivar o futuro, meu caro!
Saudações gulosíssimas
Manuel Serra d’Aire

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