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Aplicado Serafim das Neves

Sou um dos muitos precários do Estado que ainda não fui chamado para ser integrado. Já Julho vai quase a meio e nada. Não percebo o que se passa. Acho uma injustiça. Não trabalho para o Estado há um, dois ou três anos mas há décadas. Sou esforçado. Sou aplicado. Sou abnegado. Fiz entrar nos cofres das Finanças muitos milhares de euros em impostos. Foi um esforço que me saiu do pelo...e da carteira. Pode haver pessoal efectivo do Ministério das Finanças que tenha feito tanto como eu mas mais do que eu duvido. Na prática sou um efectivo com regalias de eventual. Uma injustiça.
Li aqui há dias que os eleitos do Partido Socialista na assembleia municipal estiveram quarenta minutos a anunciar aos elementos dos outros partidos, que iam oferecer o dinheiro que vão receber por estarem presentes na reunião, aos bombeiros que andaram a combater o incêndio de Pedrógão Grande. Eu gostei muito de saber e elogio o facto de eles não terem deixado de publicitar a sua generosidade. Afinal, de que serve uma pessoa ser generosa se ninguém souber? Ainda por cima, tratando-se de cidadãos que exercem cargos políticos, tal anúncio contribui para a transparência de que tantos falam mas tão poucos praticam.
Reconheço que tenho estado pouco atento a estes anúncios mas já prometi a mim próprio que a partir de agora não me vai escapar nada. Confesso que estou em pulgas para saber onde é que aquelas almas vão aplicar o dinheiro das senhas de presença da próxima assembleia. Será que vão sorteá-lo entre os eleitores? Será que optam por fazer uma jantarada de fim de mandato? Quando souber digo-te, prometo!
Nestas férias, em vez de romances, ando a ler coisas bem mais educativas. Comecei pelos resumos dos contratos de seguro que tive que fazer quando pedi o empréstimo para comprar a casa. Ainda não passei das primeiras páginas mas já aprendi muito. Sabia lá eu que se me assaltarem a casa o seguro só paga se a fechadura da porta da rua for daquelas com barras e se eu tiver alarme? Aprende-se muito Serafim. Aprende-se muito.
E no seguro de vida descobri que se for passar férias às Caraíbas e for devorado por um tubarão a companhia não cobre o resto da minha dívida ao banco porque eu não morri, nem em Portugal nem em nenhum dos países da União Europeia e mais meia dúzia cujos nomes estão lá mas entre os quais não constam as Caraíbas ou o Brasil, por exemplo. Pelo menos agora já sei que se quiser ser engolido por uma baleia tem que ser nos Açores e que se me começar a sentir mal de visita à China tenho que aguentar sem bater as botas até chegar, pelo menos, ao Espaço Schengen.
Vais dizer-me que naqueles contratos há lá partes que são perfeitamente incompreensíveis e eu dou-te razão mas isso também acontece na literatura. Experimenta tentar ler um livro do António Lobo Antunes, por exemplo e diz-me lá se não é mais fácil perceber o que está nos contratos dos bancos, seguradoras, empresas de comunicações, etc, etc, etc...por aí abaixo?!
Deixei o ‘tablet’ em casa e por estes dias voltei à leitura de jornais em papel mas não é a mesma coisa, digo-te. Falta-me aquela emoção de saber qual vai ser o anúncio que vai saltar para me tapar o que estou a ler e quanto tempo tenho de leitura até outro me saltar ao caminho depois de fechar o primeiro. Também sinto falta das galerias de fotos tipo, veja os dez decotes mais famosos do mundo e do vídeo que mostra que uma Rita não sei quê não estava a usar cuecas no concerto de solidariedade com as vítimas dos incêndios. E qual é a piada de poder ler um texto do princípio ao fim sem aparecer de parágrafo em parágrafo uma barra a dizer: “click para continuar a ler”? E nem sequer há nada que nos ajude a escolher o que ler. Qualquer coisa como, “Notícias mais “vistas”, por exemplo. Anseio por voltar ao digital, Serafim. Se puderes manda-me uma tablet. Pode ser com amêndoas ou avelãs!
Saudações bronzeadoras
Manuel Serra d’Aire

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