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O que tem o Bons Sons que os outros festivais não têm?

O que tem o Bons Sons que os outros festivais não têm?

Na oitava edição do Festival Bons Sons, em Cem Soldos, Tomar, O MIRANTE foi tentar perceber junto dos festivaleiros o que é que este festival tem de diferente.

Sara Ribeiro está sentada no chão frente ao Palco Aguardela com o seu namorado. Vivem em Braga e já “há muito” que tinham curiosidade em conhecer tão afamado festival. Dizem à reportagem de O MIRANTE que têm “mais sorte que juízo” e por isso, ali estão. “Ganhámos um passatempo e viemos este ano. Nós estamos sempre pela música mas quisemos perceber o conceito de viver a aldeia, contactar com os habitantes”, conta Sara. O seu namorado, Marcos Pereira, destaca o facto de “se conseguir fazer um festival só com bandas portuguesas e com muita qualidade”. Para o jovem o Bons Sons é um motivo de orgulho para todos os portugueses.
Eduardo Silva deslocou-se de Lisboa. Fala com O MIRANTE enquanto toma conta da filha, com sete anos de idade, e a sua mulher compra um pão com chouriço. “Vim com as miúdas ver uns concertos. É a primeira vez que venho e tinha muita curiosidade para ver como era. É um ambiente familiar e muito agradável”, diz. Já João Rodrigues não quer “ser bombardeado pelas marcas comerciais com publicidade”, por isso no Bons Sons sente-se bem. “É o melhor sítio para se estar, onde não há filas de carros ou para as entradas”. Foi ao festival com duas amigas, a Camila e a Margarida. O que mais gosta é do “ambiente castiço” que se vive na aldeia.
Renato Leitão passeia pela aldeia com a sua namorada. Renato já conhecia festival, tem casa em Torres Novas mas vive em Lisboa. A namorada, Rita Pão Alvo, deslocou-se da Serra da Estrela. Renato não é de Cem Soldos mas mostra à sua cara metade com orgulho a aldeia que sente como sua. Renato afirma que “a maior vantagem deste festival é não ser feito num recinto mas sim no meio da aldeia e toda a gente da aldeia partilha as suas ideias e experiências”.
Sentado na esplanada de um dos cafés existentes na aldeia, Manuel Maria Mota, 80 anos de idade, aprecia o movimento. Natural e residente na aldeia tem de andar de pulseira como todos os outros festivaleiros para poder circular pelo “recinto”, e para poder entrar em casa. Diz a O MIRANTE
que “sempre houve festas na aldeia mas nada como isto”. Manuel Mota foi um dos primeiros presidentes do Clube Operário de Cem Soldos, associação que organiza o festival. Confessa que tem “um orgulho enorme em ver a aldeia a evoluir pelas mãos dos jovens da terra”. O octogenário diz que nas primeiras edições do festival “até eram criticados por organizarem o festival. Agora toda a gente gosta”.
A música é muito importante no festival mas quase todos sentem-se atraídos pelo conceito do festival. David Rodrigues destaca o ambiente familiar. “Podemos andar por aí a passear nas ruas e parar nos cafés. Em todos os festivais que fui nunca senti algo assim tão próximo. As pessoas da terra têm orgulho no seu festival”, refere.
Música para grávidas e oficinas de percussão foram algumas das actividades destinadas às famílias para além da música. Durante os concertos e nos seus intervalos os “Jogos do Helder”, (jogos tradicionais repensados em formato moderno e grande dimensão), são os mais frequentados, tanto pelas crianças como pelos mais velhos. O Bons Sons, que decorreu entre 11 e 14 de Agosto, ficou marcado nesta edição também pela programação paralela ao nível das artes performativas e do cinema.

Um burro que podia ser doutor com tanto livro que carrega

Pelas ruas da aldeia de Cem Soldos um burro carregado de livros não é um doutor mas uma biblioteca itinerante, com o objectivo de levar histórias escritas aos festivaleiros. “Não é um doutor, é uma burroteca”, explicou Joana Braga, dirigente da Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA), que este ano levou ao Festival quatro burros para dar a conhecer a raça autóctone do Planalto Mirandês, que há 15 anos a associação tenta proteger.
Lourenço, Ateneu, Zebro e Iscalhão são os burros que em Cem Soldos assumem o papel de professores, na aula do burro que todas as manhãs é dada no curral da aldeia, ensinando aos festivaleiros “a sua ecologia, os cuidados, necessidades e os costumes a eles associados”, revelou a mesma responsável. A matéria, dada à sombra de árvores, com os alunos sentados em mantas no chão, é simples, mas tem por trás um grande objectivo de contribuir para a protecção e conservação da raça, que há 15 anos estava em risco de extinção, com “apenas oito nascimentos por ano”.

O que tem o Bons Sons que os outros festivais não têm?

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