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Populares de Mação inquietos com o que não foi devastado pelos incêndios

As bolsas de floresta que ainda não arderam são agora motivo de inquietação em Mação. As pessoas apontam para o verde, já não como fonte de riqueza, mas como sinónimo de risco, que “o inferno”, acreditam, só vai acabar quando tudo for cinza.
Cândida está no pátio de entrada do lar da Ortiga, a olhar para o horizonte, onde se vê uma pequena coluna de fumo. “Tenho a casa da minha irmã ao pé de um pinhal. Olhe, ali também ainda não ardeu”, aponta a funcionária do lar para uma zona de floresta que se mantém verde e que agora é sinónimo de inquietação.
Para Paula Cristina, também funcionária no lar, “não dá para descansar”. “Andamos sempre preocupados, que isto não fica por aqui. Ainda há zonas verdes e estamos em crer que vai tudo. Vai tudo, mesmo. Acho que só descansam quando queimarem tudo”, lamenta, repetindo, vezes sem conta, que “é muito complicado”.
Teresa Duarte, de 50 anos, que mora em Vila de Rei, mas que andou pela zona norte de Mação assegura que nunca viu nada assim. “Passou Ferreira de Zêzere, lambeu Vila de Rei e saltou para Mação”, conta, sublinhando que na casa dos seus sogros, em Vale de Amêndoas, restou um pequeno espaço verde. Segundo Teresa Duarte, “quem está a pôr [o fogo], está disposto a pôr a arder tudo”.
O verde, hoje, não deixa descansar e assegura que o pedacinho verde por detrás da casa dos sogros também haverá de ir. “Mais valia arder o resto de verde para a gente poder descansar. O verde inquieta, não deixa acalmar agora, mas já é poucochinho o que falta”, realça a funcionária de uma escola na Ortiga, que também acredita que o incêndio só acaba “quando tudo arder”. A floresta, vinca, “era a nossa grande riqueza, mas não querem assim, querem acabar com isto tudo”, diz.
Adelina do Rosário anda calmamente na Borda da Ribeira, concelho de Vila de Rei, mas a uma dúzia de passos da Louriceira, aldeia já no concelho de Mação. “A chama era tão alta, que até metia medo”, conta a octogenária, que se recusou a ir embora, que ainda pode andar. “Agora os novos ficam sem nada”, conta, lamentando que haja cada vez menos por aquelas bandas. “Vão-se quase todos embora. É só gente de idade, como eu”, lamenta Adelina.

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