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A médica com um vício pela música que dirige a Banda Marcial Nabantina

A médica com um vício pela música que dirige a Banda Marcial Nabantina

Andreia Carreira toca clarinete na Banda da Mata onde tem a mãe, os irmãos e o marido. Andreia Carreira, que se prepara para ser mãe dentro de pouco tempo, divide a sua vida entre a medicina, trabalhando no Centro de Saúde de Ourém, e a música, tocando clarinete na Banda da Mata e orientando a Banda Republicana Marcial Nabantina. Quando se gosta é fácil conjugar as paixões, apesar de ser extenuante por vezes. Mas quem corre por gosto, como é o caso de Andreia, não se cansa.

Andreia Carreira tem 34 anos e nasceu no mundo da música. O avô era músico e a mãe também. Aos quatro anos foi aprender música para o Choral Phydellius, em Torres Novas, mas aos oito anos levaram-na a ver um concerto da Banda Filarmónica da Mata, aldeia do concelho de Torres Novas de onde é natural e onde cresceu. Nesse dia disse que não queria ir mais para o Choral e ingressou na Banda da Mata, onde aprendeu a tocar clarinete, instrumento ao qual se mantém fiel. Em Abril deste ano completou 25 anos como elemento da Banda da Mata. “Nunca deixei a banda, mesmo quando andava na universidade”, conta a O MIRANTE.
Além de tocar na Banda da Sociedade Filarmónica União Matense, no concelho de Torres Novas, mais conhecida por Banda da Mata, é maestrina na Banda Republicana Marcial Nabantina, a colectividade mais antiga do concelho de Tomar que comemora, a 12 de Setembro, 143 anos. E é professora na escola de música da colectividade. Quando chegou à Nabantina, em Agosto de 2011, percebeu que tinha que formar novos músicos com urgência, uma vez que a banda tinha cerca de 20 elementos e não havia executantes para alguns instrumentos. “Actualmente, temos oito professores e 30 alunos, entre crianças e adultos. Quando os pais vieram inscrever os filhos, desafiei os mais velhos a experimentarem e muitos pais começaram na escola de música ao mesmo tempo que os filhos”, explica a maestrina.
Andreia Carreira tornou-se maestrina por acaso. Em 2009, o maestro da Banda da Mata foi trabalhar para África e a sua presença em Portugal era periódica. Por isso, desafiou a médica para dirigir a banda, onde esteve como maestrina dois anos, até se mudar para a Nabantina. Mas continua a ser música na formação onde iniciou os passos de maestrina. “Sentia-me em casa, a minha mãe, os meus irmãos e o meu marido estão lá, os elementos da banda viram-me crescer e ao substituir o maestro estava a ajudar a banda a não ter que ir buscar alguém de fora. Não tinha formação, foi sempre tudo por instinto e, felizmente, tem corrido bem”, afirma.
Confessa que a música é uma paixão e um vício que não consegue largar. “Às vezes saturo-me porque trabalho e às sextas-feiras dou aulas de música na Nabantina e à sexta-feira é o ensaio em Tomar. Ao sábado também há aulas na Nabantina e tenho o ensaio na Banda da Mata. Há sempre uma altura no ano em que digo que vou desistir porque estou saturada mas é só conversa, porque na realidade não consigo deixar a música. Não consigo viver sem ela. É uma forma de descomprimir da minha actividade profissional que é tão stressante e muitas vezes desgastante”, considera.
A médica prepara-se para ser mãe em Setembro e está em casa a repousar e a aguardar o nascimento do filho. O que lhe custa mais é não poder acompanhar as suas bandas às actuações, uma vez que a gravidez tem pedido repouso. Para que esteja informada das actuações, os colegas músicos criaram um grupo na internet onde lhe enviam fotos e vídeos dos espectáculos. “Para eu ver se não estão a desafinar”, diz em jeito de brincadeira. O marido é que vai ficar responsável pela escola de música de Tomar enquanto Andreia estiver de licença de maternidade. No entanto, a maestrina garante que um mês depois de ter o filho quer voltar à música. “Desde que estou na Nabantina nasceram três ou quatro bebés e as mães trazem-nos para os ensaios. Ficam nos carrinhos. Eu quero fazer o mesmo”, confessa.

“MÚSICAS MAIS MODERNAS AJUDAM A CAPTAR MAIOR INTERESSE PELAS FILARMÓNICAS”
Andreia Carreira considera que as bandas filarmónicas têm sabido renovar-se ao incluírem nos seus reportórios músicas mais ligeiras e modernas, como bandas sonoras de filmes, o que tem captado mais público para os espectáculos. Para a maestrina, o mais difícil é manter os elementos da banda motivados para que compareçam todas as semanas aos ensaios. “Temos que encontrar uma forma de fazer com que venham sempre, mesmo no Inverno, com frio e chuva. O facto de tocarem músicas que gostam ajuda a que isso aconteça e nos últimos anos temos tido muito poucas falhas”, refere.
Nem sempre é fácil ter mão no seu grupo durante os ensaios. Umas vezes tem que gritar, falar mais alto ou virar as costas e dizer que se vai embora. “Sou flexível e deixo-os falar porque sei que estes são momentos de encontro e descontracção e eu também gosto de comunicar e falar com as pessoas. No entanto, quando é para trabalhar temos que nos concentrar e tenho que falar mais alto para os por na ordem. Normalmente, obedecem-me”, conta entre risos, acrescentando que o segredo das bandas que integra é a união e sentirem-se como uma família.
Lamenta que o Governo não aposte na cultura e lamenta que a sul de Coimbra as bandas filarmónicas não tenham tanta importância como no norte do país. “No norte, as bandas filarmónicas cobram pelo menos o dobro do que na zona mais a sul do país. Há quem nos contacte, por exemplo, a dizer que querem que actuemos mas só querem que levemos metade dos músicos para não pagarem tanto. Não conseguimos trabalhar com metade dos músicos, não faz qualquer sentido. Cá em baixo não valorizam tanto o nosso trabalho, o que é uma pena”, realça. Destaca, no entanto, que a Nabantina não sente falta de apoio por parte do município de Tomar.
Como a Banda Nabantina costuma tocar passodobles, Andreia Carreira gostava que a sua filarmónica um dia pudesse tocar na Praça de Toiros do Campo Pequeno, em Lisboa. A banda de Tomar conta actualmente com 44 elementos, entre os oito e os 89 anos. A escola de música conta com cerca de três dezenas de alunos, alguns dos quais vão depois integrar a banda.

Médicos não são valorizados pela elevada carga horária

Andreia Carreira trabalha no Centro de Saúde de Ourém há cerca de um ano, onde é médica de família. É também coordenadora da Unidade de Saúde Familiar de Ourém. Desde criança que sabia que queria trabalhar na área da saúde. Começou por dizer que queria trabalhar numa farmácia mas à medida que foi crescendo percebeu que o seu futuro passava pela medicina. Não conseguiu entrar no curso à primeira, tendo entrado em enfermagem. Nessa altura, teve dúvidas se mudava de curso ou não. Acabou por tentar mais uma vez e conseguiu entrar em medicina. Estudou na Faculdade de Medicina de Lisboa e especializou-se em Medicina Geral e Familiar.
Lamenta que os médicos não sejam valorizados actualmente. “Dou, em média, cerca de 600 consultas por mês, ainda tenho o trabalho burocrático e não nos pagam mais por fazermos horas extras. O tempo que temos para os utentes é muito pouco e acaba por não ser o suficiente para estarmos com os doentes. É frustrante mas as indicações que temos é para que a consulta dure no máximo 20 minutos. É frustrante não podermos fazer mais. Era bom sentirmos que alguém nos elogia sempre que trabalhamos bem mas isso não acontece. Exigem cada vez mais”, critica.
A médica admite que não é fácil conciliar a medicina com a música mas considera que acaba por ser um equilíbrio saudável. “É bom ter algo fora da medicina e a música acaba por ser um escape. Permite-me fazer algo diferente e faz com que esqueça os problemas e o stresse do trabalho. É um óptimo complemento porque com a música consigo comunicar, que é algo que gosto muito de fazer”, conclui.

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