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Participam nas eleições portuguesas para se sentirem melhor integrados no país que os recebeu
Edneia Paula de Sousa

Participam nas eleições portuguesas para se sentirem melhor integrados no país que os recebeu

No distrito de Santarém há mais de quatrocentos estrangeiros recenseados para as autárquicas. Há 412 cidadãos estrangeiros inscritos nos cadernos eleitorais dos municípios do distrito de Santarém (a nível nacional são 27.106). Cidadãos de países da União Europeia que residem em Portugal e se inscreveram no recenseamento são 331. Os restantes 81 são cidadãos brasileiros, cabo-verdianos e de outros países com os quais Portugal também tem acordos de reciprocidade em matéria eleitoral, como Argentina, Chile, Colômbia, Islândia, Noruega, Nova Zelândia, Peru, Uruguai e Venezuela.

O MIRANTE tentou encontrar alguns deles para perceber porque se tinham inscrito para poder votar nas autárquicas de 1 de Outubro deste ano, uma vez que o recenseamento não é obrigatório para estrangeiros mas não foi fácil descobri-los entre os 398.769 eleitores da região. Mesmo assim falámos com Edneia Paula de Sousa, brasileira natural da cidade de Maringá, no estado do Paraná, que mora em Almeirim e vai votar e com o também brasileiro, Ronaldo Moura, que trabalha e reside em Alcanena e que também tem intenção de votar.

“Vou votar pela primeira vez”
Edneia Paula de Sousa, brasileira, tem 50 anos e é oriunda da cidade de Maringá, no estado do Paraná, que tem 403.063 habitantes. Casada com um cidadão português e a trabalhar numa loja “chinesa” em Almeirim, diz que acompanha o que se passa na cidade e no país em termos políticos e diz que vai votar numas eleições portuguesas pela primeira vez. É um dos 14 cidadãos estrangeiros com direito a voto naquele concelho, que tem 19.757 eleitores.
A cidadã brasileira veio para Portugal em 2008 e inicialmente trabalhou numa quinta em Almeirim. Ao fim de um mês foi trabalhar para um restaurante e depois para uma loja de produtos chineses, onde ainda está. “Foi na “Mercearia” que me deram o primeiro emprego e o primeiro contrato de trabalho, tudo legal, foi o primeiro empurrão. Depois fui trabalhar para uma loja dos chineses onde ainda estou até hoje. Sou cidadã brasileira com o Estatuto de Igualdade. Voto nos dois países. Vou votar pela primeira vez em Portugal porque acho que o voto é não só direito mas sim um dever. Não é por pertencer a outro país que devemos de nos abstrair da vida política”, explica.
Tal como muitos portugueses, tem dúvidas sobre se vai votar no partido certo mas prefere vir a descobrir que se enganou do que se abster. “Acho que todos deviam votar para ter o direito a reclamar. Para termos direito a alguma coisa também temos de fazer a nossa parte”, diz.
Edneia Paula de Sousa diz que as diferenças que mais se notam entre Portugal e o Brasil têm que ver com a dimensão do território e o número de habitantes. “Penso que o interesse dos políticos pelo bem estar da comunidade é igual mas eu nunca vi o Prefeito da minha cidade ao vivo, só o conheço pelos cartazes ou fotografias ou até mesmo pela televisão. Aqui em Almeirim vamos na rua ou vamos ao café e vemos o presidente e cumprimentamo-lo. Nunca fui falar com ele para resolver nenhum problema porque ainda não tive essa necessidade mas os políticos aqui estão mais próximos do povo e dos problemas”, opina.
Como tem família no Brasil costuma ir lá passar férias e também acompanha o que lá se passa em termos políticos. Conta que sempre que há eleições no Brasil tenta sempre votar no consulado do seu país. Nos seus planos está fazer o pedido da nacionalidade portuguesa, ficando com dupla nacionalidade.

“De início não foi fácil mas agora sinto-me muito bem em Portugal”
Ronaldo Moura tem 38 anos, nasceu no estado de S. Paulo no Brasil mas passou parte da infância e juventude em Pernambuco, na cidade de Porto de Galinhas. Começou a trabalhar aos 16 anos na construção civil e mais tarde trabalhou como mergulhador. Veio para Portugal em 1998 e actualmente trabalha numa fábrica de curtumes em Alcanena. É casado e tem quatro filhos nascidos em Portugal. Recenseou-se e vai votar nas eleições de 1 de Outubro.
“Recenseei-me quando saí de Marinhais e decidi morar em Alcanena porque considero muito importante contribuir para a sociedade e escolher os políticos que nos governam. Isso permite-nos ter autoridade moral para fazer criticas e reivindicar melhores condições para as terras e para o país”, explica.
Alcanena tem 12.315 eleitores e Ronaldo Moura conhece a presidente da câmara, Fernanda Asseiceira, mas na cidade onde vivia no Brasil, que tinha 60 mil habitantes, também conhecia o Prefeito e todos os vereadores, porque estes faziam questão de aparecer e apresentar-se aos cidadãos, questionando-os sobre as necessidades para a cidade, rua, ou até necessidades particulares. “No Brasil, os políticos apostam muito no espectáculo de proximidade para conquistar os votos”, refere.
Os primeiros tempos em Portugal não foram fáceis para este cidadão brasileiro. Ele conta que havia pessoas mal formadas no local onde começou a trabalhar, que lhe chamavam preto e lhe diziam para ir para o seu país porque estava a roubar trabalho a portugueses. A situação alterou-se e Ronaldo Moura, a trabalhar como operário de curtumes há oito anos numa fábrica em Monsanto, sente-se respeitado e garante que a vida agora é tranquila.
Em Portugal gosta da tranquilidade e ainda estranha o tom calmo, quase tímido, das campanhas eleitorais. Não é a primeira vez que vota e por isso sabe do que fala. “Estou num país que me oferece boas condições de segurança para criar os filhos em paz. Aprecio muito o clima e a comida. Tenho os pais e irmãos no Brasil mas a minha missão é aqui”, diz, referindo-se ao chamamento de Deus que diz ter sentido quando decidiu vir para o nosso país. A esposa já tem cidadania portuguesa e Ronaldo Moura também já a requereu.

Ronaldo Moura
Participam nas eleições portuguesas para se sentirem melhor integrados no país que os recebeu

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