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Ceboleiros com o negócio assombrado pelas grandes superfícies

Ceboleiros com o negócio assombrado pelas grandes superfícies

FRIMOR – Feira Nacional da Cebola foi mais uma vez ponto de encontro de produtores do sector em Rio Maior. As condições do certame são hoje muito melhores, mas os clientes têm vindo a diminuir.

São homens e mulheres. Muitos eram netos quando lá foram pela primeira vez e hoje são avós e leva também consigo os seus filhos e netos, perpetuando esse costume familiar. Pessoas que ajudam a manter a tradição, decorando os seus stands a preceito, onde o que nunca falta é a rainha desses dias: a cebola. E desengane-se quem pensa que as cebolas são todas iguais. Em plena FRIMOR – Feira Nacional da Cebola, em Rio Maior, encontramos de tudo, desde a amarela, a branca, a roxa, a chalota e até a doce, para quem não quer chorar.
“Esta é a oportunidade que temos para escoar o produto, mas isto está muito mau”, lamenta José Marques, 80 anos, sentado à sombra num dos stands na Avenida dos Ceboleiros. Vem há 49 anos ao certame, mas admite que tem sido cada vez pior. “Mudámos várias vezes de local, mas este, como está agora, não está bem. Deviam estar vendedores de um lado e do outro para que se concentrassem mais as pessoas e as levassem a comprar mais”, explica.
Quanto ao preço que está o quilo de cebola (50 cêntimos), refere que está barato em relação a outros anos, mas com a concorrência que há das grandes superfícies “não existe desconto que safe”. “As primeiras vezes que vim à feira ainda era solteiro e, na altura, vinha para a feira vender cebolas e, com o dinheiro que ganhava, ia ao circo com a minha namorada, mas às vezes não dava”, lembra-se.
Mais à frente está Armindo Marques. Desgostoso com a pouca adesão de clientes, o ceboleiro admite que estes certames “são umas férias para os agricultores, já que vendemos muito pouco”. E porque o trabalho é duro e sem horários, “aproveitamos esta feira para conviver uns com os outros”, confessa ao mesmo tempo que levanta um garrafão de vinho. “Este está sempre aqui connosco”, ri-se.
Quanto aos cabos de cebolas, admite que é o artista de serviço. “Sou eu que entranço e faço os cabos das cebolas enquanto a minha mulher vai escolhendo as cebolas”, conta, lembrando que as cebolas não eram pesadas, pois as balanças eram escassas e eram vendidas à réstia (conjunto de cebolas entrelaçadas) sempre com 13 cebolas. “Se por acaso faltasse uma cebola do cabo, tínhamos que dar mais uma ao cliente”, recorda. Armindo Marques explica como se entrançam as cebolas: “Escolhe-se a cebola por tamanho e depois pega-se na palha seca que apanham nas ribeiras, divide-se em três e começam a dispor as cebolas formando uma trança”.

“As pessoas vão ao supermercado e compram mais barato”
O MIRANTE foi à procura de um dos mais antigos vendedores na feira e encontrou Ramiro Marques. A frequentar o certame há mais de 60 anos, recordações é o que não lhe falta. “Antes não era nada disto. As pessoas levavam aos dois e três sacos com cabos de cebolas, agora só levam um ou dois. Vão ao supermercado e compram mais barato”, confessa. Se antes vinha habitualmente à feira para comprar cebolas, agora, conta o reformado de 82 anos, já não vêm. “Antes esgotava tudo e agora muito do que está aqui carregamos para casa”, lamenta.
E porque o negócio também é feito pelas mulheres, falamos com Ermelinda Sedas, uma vendedora que é presença assídua há 40 anos mas que, por vontade dela, já tinha deixado de vir. “Só venho por causa do meu marido. Ele é que insiste, porque isto não dá para nada”, confessa a reformada de 74 anos, enquanto lia o emblemático Borda D’Água sentada numa cadeira de praia. “As condições são melhores, o que falta agora é pessoas”, queixa-se Maria Marques, referindo que antigamente o que tinha de bom era que estávamos num lado e no outro da rua juntamente com os quinquilheiros e juntava-se muita gente.

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