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Heróico Serafim das Neves

Ia começar a escrever-te este e-mail quando me bateu à porta um senhor que andava a cravar dinheiro para uma organização da qual não retive o nome. Não trazia com ele nenhum terminal de pagamento multibanco o que inviabilizou logo à partida qualquer conversa porque habitualmente não tenho dinheiro em casa.
Assim que me voltei a sentar em frente ao computador voltaram a bater à porta e era um casal de uma igreja que me queria ensinar a melhor maneira de me encontrar com Deus. Recusei a aula e quando voltei ao trabalho a maldizer tanta gente a bater-me à porta lembrei-me daquele casal que vive em S. João da Ribeira, em Rio Maior, à beira da Estrada Nacional 114 a quem, em vez de baterem à porta, batem nas paredes com carros em andamento.
É verdade que sendo os moradores pessoas de 89 e 90 anos já não devem ouvir muito bem mas acho que os visitantes não tinham necessidade de baterem daquela forma para serem ouvidos. Será que os condutores eram vendedores catequizados por manuais de vendas agressivas onde se explica que o primeiro contacto é essencial para o sucesso?
Eu, se me batessem à porta com um carro, fosse de que marca fosse, até podia achar graça na primeira ou na segunda vez mas depois iria achar que era demais. E se o fizessem cinco vezes, como já fizeram ao tal casal, acho que punha um “outdoor” à beira da estrada a avisar que a campainha estava a funcionar e que além do som fazia acender as luzes todas da casa.
Daqui a menos de um mês há eleições locais e eu ando muito atento à campanha eleitoral para saber com que isco é que os candidatos cá da terra vão tentar apanhar o meu voto. Já vi cartazes com as caras dos candidatos e não consegui decidir-me porque estão todos formais, engravatados e retocados.
Também já tentei ler alguns programas eleitorais mas aquilo dá-me uma soneira terrível porque é feito por escriturários incapazes de fazerem uma gracinha qualquer para animar a vida do povo. Uma vez que já ninguém acredita em promessas podiam optar pela escrita humorística e publicar umas boas anedotas mas em vez disso voltam a abusar dos temas de ficção e de horror com ameaças de criação de incubadoras de empresas e de empresários, construção de museus e criação de gabinetes para dar emprego a jovens que ficam em secretárias a ver voar as moscas e a actualizar as páginas das redes sociais.
Ainda por cima fica-me sempre uma grande sensação de Dejá vu. Volta a estrada que foi prometida há quatro anos mas não foi feita; volta a esquadra de polícia que também não foi feita; volta a biblioteca que ia sendo mas que não foi...enfim, só remakes e logo numa altura em que as televisões por cabo apresentam novas sérias e novas temporadas das séries de êxito.
Depois há também algumas campanhas com elementos que, na minha modesta opinião, não devem atrair tanta gente como a daquele candidato de Loures que quer disciplinar os ciganos. É o caso do PSD do Entroncamento que apresenta um hino todo modernaço mas com uma mensagem de fazer fugir qualquer hedonista como nós. “Vem fazer parte da equipa/Vamos trabalhar no duro”, cantam eles, em vez de uma coisa mais apelativa como, sei lá...”Vem fazer parte da equipa/Marisco, cerveja e Kuduro, por exemplo.
A Barquinha vai ter um centro de interpretação templária. A coisa vai custar 152 mil euros e os contribuintes pagam tudo, como é normal nestas coisas de museus, centros de interpretações e outras maravilhas que ajudam a diminuir o desemprego porque são sempre necessárias pessoas para abrir a porta, limpar o pó, fazer estantes para meter lá umas coisas assim a dar para o Templário e produzir uns textos mais ou menos científicos.
Aqui há uns anos um pintor australiano muito bem humorado, chamado Sam Abercromby, que residia em Vila Paço, Torres Novas, disse-me que estava a escrever um livro sobre os hábitos sexuais dos Templários que estiveram instalados aqui na região.
Como os Templários eram muito devotos a Deus mas também andavam muito em contacto com a natureza, eu acho que ele iria especular sobre se eles usavam a posição do missionário ou se era mais à “canzana”, como se dizia naqueles templos...perdão, tempos bárbaros. Achas que o Centro de Observação Templária da Barquinha irá aproveitar aquele material? Eu acho que ajudaria a atrair ainda mais turistas do que aquelas maravilhosas esculturas do parque lá da terra que deixam qualquer turista japonês com os olhos em bico.
Saudações Templárias
Manuel Serra d’Aire

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