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Contra ventos e marés os avieiros da Póvoa continuam a viver do que o Tejo lhes dá

Contra ventos e marés os avieiros da Póvoa continuam a viver do que o Tejo lhes dá

António José da Silva e a mulher, Paula, são um casal de avieiros “à antiga” que ainda subsistem da pesca, mas cada vez com mais dificuldade porque os novos pescadores de ameijoa e as técnicas que usam estão a pôr-lhes em risco o sustento.

“Dantes o Tejo era nosso, dos avieiros, dos que vivemos exclusivamente dele. Eu e a minha mulher, só os dois na embarcação, podíamos pescar onde quiséssemos. Agora de, digamos, 100 quilómetros quadrados, tenho menos de um à minha disposição. E de quem é a culpa? Da ameijoa”. É assim que António José da Silva, 55 anos, avieiro da Póvoa de Santa Iria, alerta para o problema da apanha de ameijoa com ganchorra que tem estado a pôr em risco o único trabalho que ele e a mulher, Paula, 54 anos, tiveram a vida inteira: a pesca.
“Este fenómeno da apanha da ameijoa com ganchorra começou de há poucos anos para cá mas interferiu com todos os métodos ancestrais de apanha de peixe que tínhamos no Tejo”, explica. A técnica preferida de António é o anzol, mas também apanhava com rede. “Mas neste momento agarrar numa rede está praticamente interdito e com anzol ainda é mais difícil”. António explica que devido ao tempo que a apanha com anzol leva, quando chega a hora de ir ver se apanhou alguma coisa, já a cana e o anzol foram levados pela ganchorra. “Não é que eles queiram fazer mal de propósito, mas largam a ganchorra e aquilo leva tudo à frente!”.
Segundo se lê no site da Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, a ganchorra é uma “arte de arrasto de pequena e média dimensão em que a boca é composta por estrutura rígida e o saco é de rede ou constituído por grelha metálica”. E acrescenta: “Esta arte de pesca rebocada, a pé ou por embarcações, actua sobre o fundo e visa a captura de moluscos bivalves”.

Perturbar a “maternidade do Tejo”
António refere-se à área do Tejo que banha as margens da Póvoa de Santa Iria como uma “maternidade” pela enorme variedade de espécies de peixes que ali se vêm reproduzir e que as novas técnicas mais modernas de pesca perturbam. “Isto não é só um estuário, é um autêntico santuário, e não está a ser bem aproveitado. Quem está no poder, o ministro do Mar, não percebe nada da realidade do meu Tejo, que eu conheço porque estou no terreno todo o dia. Por incrível que pareça, o rio ainda dá, ou dava, sustento a muitas famílias, mas tem-se tornado cada vez mais difícil”.
António também defende que não é dada a mesma atenção da parte das autoridades de controlo da pesca aos avieiros e aos pescadores que pescam com ganchorras e outras técnicas modernas no Tejo. “Se for preciso passam por eles e fingem que não os vêem! Não tenho nada contra os agentes da autoridade, gostava era que controlassem toda a gente da mesma forma!”, diz.
António e Paula têm dois filhos e o mais velho, José Augusto, 33 anos, começou a pensar em deixar a profissão de segurança no Jumbo para se juntar a eles na pesca, algo que o pai desaconselhou. “Disse-lhe: ‘Ó filho, então tu vês que já para mim e para a tua mãe mal dá, ainda te queres juntar a nós? Estás em princípio de vida, tens uma filha pequenita e agora vens para aqui? Não há futuro, se fosse antigamente havia mas agora não há hipótese’. E agora estamos limitados... Ando aqui e já não sei se sou pescador. Quero trabalhar e não tenho o Tejo para mim!”. A única solução? Na opinião de António, seria acabar de vez com a ameijoa e o rio voltar a ficar para os pescadores de peixe.

Contra ventos e marés os avieiros da Póvoa continuam a viver do que o Tejo lhes dá

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