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“A constante mudança de regras na Educação cria uma grande instabilidade”

“A constante mudança de regras na Educação cria uma grande instabilidade”

António Pedro é o novo director do Agrupamento de Escolas de Vale Aveiras, no concelho de Azambuja. Professor viveu na pele o que é andar com a casa às costas sobretudo nos primeiros anos de carreira.

António Pedro nasceu há 41 anos em Almeirim e o facto de em aluno ter saltado tanto de escola em escola foi um presságio daquilo que viria a passar como professor, anos mais tarde. A vocação surgiu no 7º ano com os bons e maus exemplos dos professores que tinha. “Tinha professores que admirava muito e pensava que queria ser como eles “quando fosse grande” e outros de que não gostava nada e tinha pena da maneira como os meus colegas os tratavam. Via-os mandar-lhes papéis para as costas e gozarem com eles e pensava que não gostava que fosse assim comigo se fosse professor. Por isso, em parte, tornei-me professor por querer ser como aqueles que me tinham inspirado pela positiva”, confessa.
Enquanto aluno as disciplinas preferidas eram Educação Física e a Geografia e só não seguiu a primeira por não cumprir os pré-requisitos à admissão no curso: “Tinha uma nota muito má em natação. Sabia nadar mas não o suficiente para ser professor. Sempre gostei muito de desporto, pratiquei hóquei em patins nos Tigres de Almeirim, judo, voleibol, atletismo e ainda hoje faço BTT e atletismo, já fiz vela e equitação, portanto foi mesmo a má nota a natação que me impediu”. Enveredou então por Geografia por gostar de conhecer novos países e realidades, características do terreno e a relação das pessoas com o espaço.
A entrada para a Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, onde tirou Geografia na vertente de ensino, foi atrasada dois anos pelo cumprimento do serviço militar obrigatório. Entrou aos 21 anos e viveu o curso da forma mais completa. “Fiz parte da Associação de Estudantes, do Senado da Faculdade e da Comissão de Representantes da Faculdade, o que criou em mim um gosto pela representação da entidade estudantil e pela vida associativa”, recorda, constantando que não vê isso na maioria dos jovens de hoje: “Acho que as pessoas hoje em dia são mais individualistas. O avanço das telecomunicações e o uso do telemóvel e da Internet confinam-nas ao seu espaço e não saem de casa. Nota-se que os miúdos têm pouca destreza na relação uns com os outros”.
No último semestre dos cinco anos do curso estagiou na primeira escola, a Josefa d’Óbidos em Campo de Ourique, onde já dava aulas a uma turma. Nos anos que se seguiram passou por muitas outras. Primeiro esteve na Escola Secundaria de Salvaterra de Magos, onde logo no segundo ano se tornou secretário da direcção. Seguiu-se a Escola Secundária de Velas, na ilha de S. Jorge, nos Açores, para onde se mudou com a mulher, Anabela Ferreira, que conheceu na faculdade, porque a escassez de professores na ilha aumentava as hipóteses de conseguirem ser colocados juntos.
Quando regressaram ao continente, depois do nascimento da primeira filha, Inês, hoje com 16 anos, António entrou para a Escola Mem Ramires, em Santarém, e seguiu-se a Escola Básica de Marinhais, a Escola Básica 2,3 de Salvaterra de Magos, a Escola Febo Moniz em Almeirim e a Escola Secundária de Sá da Bandeira em Santarém.
Depois surgiu o concurso para a direção da Mem Ramires, à qual concorreu “por não haver mais ninguém que mostrasse interesse em concorrer”. Esteve dois anos com uma comissão executiva instaladora e depois foi eleito como director. O mandato seria de quatro anos mas não o cumpriu na íntegra devido à integração dessa escola no Agrupamento de Escolas Ginestal Machado, cuja eleição de outro director em vez dele o desiludiu bastante.
António Pedro passou então para a Escola Alexandre Herculano, também em Santarém, durante dois anos, regressou à Escola Secundária Sá da Bandeira, passou os dois anos seguintes no Agrupamento de Escolas do Forte da Casa e de lá voltou para a Alexandre Herculano, onde estava até agora.

As saudades de dar aulas
Este ano, apesar de continuar a viver em Azóia de Baixo, perto de Santarém, prepara-se para abraçar o desafio de chefiar um agrupamento num concelho diferente: o de Vale Aveiras, no concelho de Azambuja. “Caí aqui um pouco de pára-quedas, mas não me importo nada de copiar as boas experiências de outras direções, porque o conseguir copiar bons exemplos é sempre bom”, admite.
Vai ter saudades de dar aulas “às boas turmas, que fazem valer a pena”, mas neste primeiro ano terá de se focar na parte administrativa do agrupamento. Não esconde que era muito mais fácil ser professor antigamente: “A constante mudança de regras na Educação cria uma instabilidade muito grande para os professores. O Estado não é obrigado a arranjar-me emprego à porta de casa, mas devia manter regras para que eu enquanto cidadão pudesse saber aquilo com que conto. Não podemos adiar a nossa vida e a tomada de decisões. É normal querermos formar família e termos filhos, e depois esses filhos terem os mesmos direitos das outras crianças de fazerem vários anos lectivos na mesma escola, terem os mesmos amigos e terem alguma estabilidade. Nós podemos andar de mochila às costas de um lado para o outro, mas eles não podem ser obrigados a fazê-lo também”.

“A constante mudança de regras na Educação cria uma grande instabilidade”

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