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A vida de músico é como a da formiga: amealhar no Verão para resistir ao Inverno

A vida de músico é como a da formiga: amealhar no Verão para resistir ao Inverno

Frederico Gracias é um homem de vários ofícios, todos ligados à música. Dá apoio à banda D.A.M.A. nos concertos e é o baterista de Rodrigo Leão e de uma banda rock libanesa. Aos 25 anos já correu algum mundo, numa vida agitada que o leva por vezes a suspirar pelos pitéus cozinhados pela avó.

Se um carro de Fórmula 1 avariar há sempre um mecânico. Se um bebé chorar há sempre alguém para o confortar. E se uma corda de uma guitarra se partir durante um concerto há sempre alguém para a arranjar. E é precisamente isto que faz Frederico Gracias, residente em Santarém, que trabalha com a banda D.A.M.A. “Somos os babysitters da banda. Nós tratamos de tudo, desde montar amplificadores, afinar os instrumentos e até arranjá-los, se for o caso. Os músicos só têm de chegar ao palco e tocar”, afirma o jovem de 25 anos.
Mas não só da vida de ‘roadie’ vive Frederico Gracias. Baterista na banda de Rodrigo Leão, admite que a música apareceu espontaneamente na sua vida quando começou a aprender a tocar guitarra eléctrica no Conservatório de Música de Santarém. “Desde pequeno que costumava ouvir música com o meu pai. Foi já aos 16 anos que decidi ir aprender a tocar guitarra e comecei a ganhar o ‘bichinho’ pela música”, conta.
Nascido em Lisboa e criado em Santarém, o baterista confessa que passou uma infância simples e feliz com os pais e avós. “Costumava andar de bicicleta e de skate, jogar à bola... Era uma criança muito activa”, diz. “Foi aos 17 anos que decidi ir estudar para o curso profissional de técnico de som na Escola de Tecnologias, Inovação e Criação (ETIC), em Lisboa, e foi já lá que comecei a tocar bateria nos intervalos das aulas com um colega meu”, revela.
Frederico Gracias não se esquece do dia em que começou a tocar bateria na banda de Rodrigo Leão. Um dia, conta, “o Rodrigo Leão estava a gravar o seu novo álbum ‘Songs’ e decidiu à última hora que precisava de um baterista. Na altura, estava a estagiar nesse estúdio e lembraram-se de mim. Foi quando me chamaram e pediram para gravar um dos temas como teste. A partir daí gravei as versões finais para o álbum e comecei a tocar nos espectáculos ao vivo”, explica.
O jovem músico diz que o aspecto mais negativo da sua carreira é o facto de não ter horários, nem férias, nem dias de descanso, o que o impede, muitas vezes, de nos dias mais importantes não poder estar com a família e os amigos. “É uma vida difícil e muita gente não compreende. Se não trabalhamos no duro durante a época alta é complicado depois sobrevivermos no Inverno. É um pouco como as formigas que trabalham no Verão para poderem sobreviver nos meses mais frios”, admite.
A parte melhor de tudo, confessa o baterista, é a oportunidade que tem de viajar e de ter novas experiências, apesar de, muitas vezes, ser tudo muito à pressa. Tanto que, admite, “já estive em Paris três vezes e nunca saí do aeroporto. Só conheço a Torre Eiffel de fotografias”.

Uma aventura na estrada
Foi há cerca de três anos que Frederico Gracias se tornou um dos ‘roadies’ da banda D.A.M.A. “Basicamente, somos nós que tratamos de todos os caprichos dos músicos. Se ele quiser o amplificador virado para a direita ou para a esquerda ou se quer a guitarra virada ao contrário somos nós que tratamos disso”, adianta.
Aventuras e peripécias é o que não falta para contar ao jovem escalabitano. Um dia, conta, teve um colega, que depois de um concerto dos D.A.M.A., em Espanha decidiu ir divertir-se e quando era umas cinco da manhã telefonou-lhe a dizer que estava muito mal e precisava que lhe abrissem a porta do quarto de hotel. “Vou abrir a porta e não estava lá ninguém. Passado meia hora é que percebi que ele estava no hotel errado. Então, a aventura foi descobrir em que hotel e em que estado estava. Foi bastante atribulada aquela noite”.
Outra história, teve um violinista da banda de Rodrigo Leão como protagonista. “A meio de um concerto, o telemóvel do violinista começou a tocar a meio da música. Ele pousou o instrumento e saiu do palco para atender a chamada. No final foi despedido”, revela.

Saudades da gastronomia ribatejana

Frederico Gracias confessa que do que sente mais saudades é, sobretudo, dos pratos ribatejanos confeccionados pela avó. “Agora estive em Beirute, no Líbano, e fiz questão de experimentar os pratos deles mas não troco os pratos de cá por nada”, admite. E revela: “A última vez que estive 15 dias em tournée pela Europa, quando cheguei a Portugal a primeira coisa que fiz foi comer uma feijoada porque estava a precisar daquilo. Fez-me mesmo muita falta”.
E se a gastronomia é algo que o Ribatejo defende bem, já a nível das artes o jovem de 25 anos não tem dúvidas que ainda há muito a fazer. “Tenho pena que a parte das artes esteja esquecida em Santarém mas a culpa não é só do município. É também das pessoas que não vão aos espectáculos”, refere, dizendo que a cidade podia ter mais bandas. “O que falta só é público, porque jovens promissores há muitos”, conclui.

Baterista de uma banda libanesa

Ser baterista na banda libanesa The Wanton Bishops é a nova aventura de Frederico Gracias que estás prestes a começar. Uma oportunidade que surgiu sem planear e que não deixou escapar. “Há um mês estava a ir para a Corunha com o Rodrigo Leão para fazer um concerto e no aeroporto encontrei um amigo meu que também trabalha na área. Foi quando ele disse que ia para Paris ter com uma banda libanesa e, do nada, lembrou-se que essa banda andava à procura de um baterista e perguntou-me se podia dar o meu nome. Não dei logo a resposta positiva porque queria ouvir as músicas primeiro e saber se era capaz. Disse que sim e passados uns dias fui logo contactado pelo líder da banda para ir para o Líbano e tocar com eles num concerto no Cairo, no Egipto”, conta.

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