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A vida deu-lhe mais pancada que os toiros nas arenas

A vida deu-lhe mais pancada que os toiros nas arenas

José Carlos Matos, 69 anos, ex-cabo dos Forcados de Vila Franca de Xira

É considerado “o pai” dos forcados de Vila Franca de Xira. José Carlos Matos foi um dos grandes impulsionadores do grupo e foi o homem que, até aos dias de hoje, mais anos esteve como cabo no grupo. A tradicional corrida nocturna da Feira de Outubro presta-lhe este ano uma homenagem.

Vila Franca de Xira tem sabido promover a festa brava e dar valor ao grupo de forcados da cidade. A ideia é defendida por José Carlos Matos, 69 anos, ex-cabo do grupo de forcados de Vila Franca de Xira. José é considerado “o pai” do grupo e um dos seus grandes dinamizadores nos anos 70 e por esse motivo vai ser homenageado na tradicional corrida nocturna da Feira de Outubro, que se realiza já depois da data de fecho desta edição.
José foi cabo do grupo durante dez anos, de 1973 a 1983 – um recorde que ainda não foi batido. Foi também graças ao seu esforço que o grupo de Vila Franca de Xira começou a pegar sozinho na corrida nocturna da Feira de Outubro, algo que acontece até aos dias de hoje.
Nasceu em Vila Franca de Xira, na rua dos Varinos, que diz ser “a mais castiça da cidade”. Durante a sua vida foi vendedor de automóveis e máquinas agrícolas. “Estive sempre ligado à lavoura e ao campo. Vila Franca de Xira nesse tempo tinha uma vida que hoje não tem. Basta a gente aparecer lá à noite actualmente para perceber. A vida era outra, as coisas mudaram e o 25 de Abril modificou muito a cidade. Era uma terra muito mais castiça e taurina do que é hoje”, defende a O MIRANTE.
Durante a sua vida, José ainda pegou durante um ano nos forcados de Santarém. Há 20 anos que vive em Benavente, uma terra que diz ser “mais calma” que Vila Franca de Xira. “Comecei miúdo nas esperas porque o meu pai estava muito ligado ao campo e ao gado. Os forcados foi uma questão de opção e gosto e eu comecei logo desde pequeno. Nunca mais larguei”, conta.
José Carlos Matos ainda se lembra da primeira pega. “Estava muito nervoso nos dias antes mas depois na arena acalmei. Eu era muito nervoso antes de começar uma corrida de responsabilidade. Quando eram corridas duras, com Palhas e Núncios, eu andava nervoso e quase nem comia. Mas depois quando começavam as cortesias na arena passava-me tudo”, diz.
Quando foi cabo proibiu todos os forcados de meterem os barretes em cima da cama quando se fardam. “Naquela altura consegui construir um bom grupo. Nem sequer tinha expressão nem a visibilidade que tem hoje, era muito diferente. Consegui metê-lo nos melhores do país e meter os grandes grupos do país a pegar connosco”, conta.
O ex-forcado diz que antigamente é que era difícil recrutar jovens para o grupo. “Hoje em dia há muitos miúdos e o futuro está garantido. “Os forcados hoje têm mais qualidade. Antigamente eram poucos mas bons, hoje há muitos mais jovens a participar e por isso aparecem miúdos com mais valor do que antigamente”, refere.
Já perdeu camaradas na arena e viu outros ficarem feridos, mas o que mais lhe marcou foi perder Pitó numa corrida em Arruda dos Vinhos. “Foi um acidente muito grande. O toiro levou-o até à bancada, ele bateu com a cabeça e ficou-se. Isso foi o que mais me marcou. Também me chocou outro forcado do meu tempo, o Rui das bicicletas de Santarém, que estava a dar a primeira ajuda e acabou deitado com uma fractura craniana. Esteve um mês no hospital”, recorda, emocionado.
Se fosse hoje, garante, faria tudo novamente. Confessa que levou umas tareias grandes nas arenas mas nenhumas tão más como as que a vida lhe tem pregado. “Dois enfartes e um acidente de automóvel nos últimos anos”, ironiza. No que toca à homenagem diz que só peca por tardia. “Foi uma boa surpresa, por tudo o que fiz pelo grupo, tenho sempre estado ao seu lado”, conclui.

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