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Desligado Manuel Serra d’Aire

Partilho contigo a tua aversão à sobrecarga de ‘informação’ com que somos bombardeados todos os dias e digo já que não sou soldado do numeroso exército de gente que faz questão de dizer ao mundo o que anda a fazer diariamente. Aliás, se há coisa que me intriga é precisamente esse auto-convencimento de tanta gente, que tem uma vida banalíssima como a nossa, de que o mundo precisa de saber, através das bigbrotherianas redes sociais, o que faz a cada instante.
Um tipo vai à praia e lá aparecem as inevitáveis fotografias do mar e do pôr do sol para toda a gente ver e pôr gostos, mesmo que esteja um vento do catano e a água mais gelada do que o Passos Coelho na noite das autárquicas. Um tipo vai comer sushi ou outra qualquer coisa gourmet daquelas da moda (se for cozido à portuguesa ou feijoada não tem sainete) e lá vem a inevitável publicação para meter pirraça e mostrar à malta que aquilo é que é vida. Se vão de férias ao estrangeiro, então, o bombardeamento de fotos e videos parece um massacre à americana. E estou mesmo convencido que há malta que vai de férias ao estrangeiro apenas para publicar fotos no Facebook e no Instagram, pois dificilmente terão tempo para fazer mais alguma coisa, tal é a profusão de publicações.
Os comunistas perderam a Câmara de Constância para o PS mas ensaiaram uma saída em grande estilo, pois atempadamente, talvez prevendo já o descalabro eleitoral, deixaram programadas para este mês duas sessões na biblioteca municipal da vila sobre os 100 anos da Revolução de Outubro. Para os mais distraídos ou ignorantes, a Revolução de Outubro de 1917 assinala o momento em que os bolcheviques limparam o sebo à família real russa e subiram ao poder, onde estiveram, em versões mais ou menos moderadas, durante mais de setenta anos, até ao desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Estou em crer que essas sessões vão contar com a visita de muitos saudosistas desses tempos, numa altura em que os comunistas carpem mágoas com a perda de vários municípios, a maior parte no até há pouco tempo inexpugnável Alentejo, que pode colocar grãos na engrenagem da geringonça governativa. A biblioteca de Constância será provavelmente um local de romagem e de catarse para todos os que ainda acreditam nos amanhãs que cantam e que não se conformam com os resultados dessa invenção da burguesia que é o voto secreto. Não é por acaso que as votações internas no PCP são de braço no ar, em nome da transparência e da frontalidade...
Ainda por falar em eleições, não posso deixar de prestar aqui a minha homenagem aos candidatos derrotados, pois é com eles também que se consolida a democracia. Desse amplo rol, destaco dois praticantes exímios desse exercício da derrota que são Rui Barreiro (candidato do PS em Santarém) e Sónia Sanfona (candidata do PS em Alpiarça). Foram derrotados no sufrágio popular pela segunda vez, mas merecem nova oportunidade. Afinal de contas, como diz o povo, não há duas sem três. E o povo, certamente, sempre justo e conhecedor da valia de tais personalidades, saberá dar resposta à altura. Que não lhes esmoreça a vontade!
Aceita um avante camarada do
Serafim das Neves

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