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Um chef ribatejano que conhece o sabor das estrelas Michelin

Um chef ribatejano que conhece o sabor das estrelas Michelin

David Costa, natural de Santarém, tem um restaurante premiado nos Estados Unidos da América e esteve recentemente na cidade natal para mostrar a sua arte no Festival Nacional de Gastronomia, na companhia dos irmãos.

São oito da manhã e o despertador toca. O cansaço mói mas é hora de acordar. Prepara-se o pequeno-almoço à pressa. Vai-se ao mercado. Olha-se para as cores dos vegetais e frutas. Toca-se. Cheira-se. Compra-se. Veste-se a jaleca. Enfrenta-se a cozinha de caras. É assim que começa a rotina diária de David Costa, 31 anos, um chef de Santarém que cedo decidiu voar mais alto e, depois de passar por restaurantes conceituados de Lisboa, decidiu concretizar o seu sonho americano: abriu o restaurante Adega em San José, na Califórnia (EUA), juntamente com a sua noiva, Jéssica Carreira, chef pasteleira de profissão, e os sogros. E o mínimo que se pode dizer é que foi um tiro em cheio no alvo, pois o projecto já lhe rendeu uma estrela Michelin, uma espécie de 'Óscar' dos chefs que o pôs nas bocas do mundo. No seu restaurante não falta a ribatejana massa à barrão, a feijoada, o cozido à portuguesa ou a carne de porco à alentejana.
Recentemente, David Costa mostrou a sua arte em Santarém, no Festival Nacional de Gastronomia, onde confeccionou um jantar no restaurante Lucky 13 com os seus irmãos e uma prima. A O MIRANTE diz que desde cedo mostrou gosto por mostrar os seus dotes culinários, não fosse ele o mais novo de três irmãos, todos eles chefs. “Lá em casa, só a minha prima, que vive connosco desde os três anos, é que não trabalha na área da cozinha”, diz o chef que se confessa um bom garfo.
“Na minha casa, a minha mãe prepara sempre os pratos que mais gosto: a sopa da pedra, o cozido à portuguesa e o bacalhau azedo da minha avó que é natural do Couço, Coruche”. Além disso, conta, “gosto de frequentar as tascas e os restaurantes cá da terra para provar os petiscos”. E se for preciso fazer quilómetros para comer um bom prato não hesita. “Não me choca pagar cinco euros por um cozido à portuguesa num restaurante que faz o prato tradicional e depois ir a um mais luxuoso e pagar trinta euros pelo mesmo prato feito de forma mais elaborada. Afinal, o tempo de confecção é maior e os custos também”, admite.
Da sua infância e juventude em Santarém tem boas memórias. “Sempre gostei de estudar e sempre fui dedicado mas nunca deixei de me divertir”. Foi na Escola de Vale de Estacas, em Santarém, que aprendeu a ler e escrever, passando depois pela EB 2,3 Alexandre Herculano até decidir inscrever-se na Escola de Hotelaria e Turismo de Santarém para tirar o curso de cozinha. Mas como não havia alunos suficientes nesse ano foi na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa que aprendeu a arte.
Com o curso feito, passou por estabelecimentos de renome da capital, onde conheceu o amor da sua vida, Jéssica Carreira. Depois disso veio a aventura americana. “Como a vida é feita de sonhos, decidimos concretizar o nosso e abrimos um restaurante com pratos tipicamente portugueses em São José, na Califórnia, Estados Unidos da América”. O espaço já era um restaurante português há 23 anos e a dona queria reformar-se. O jovem casal e os pais de Jéssica aproveitaram e decidiram dar continuidade ao estabelecimento. O nome Adega foi escolhido pelos quatro por a família da noiva ter estado ligada à importação de vinho para os Estados Unidos da América durante quase 30 anos.

Cozinhar para Mourinho e Ronaldo

Cozinhar para figuras públicas foi algo que nunca intimidou o jovem chef até porque, como confessa, “para mim os clientes são todos iguais”. “Cheguei a servir o Cristiano Ronaldo e também o José Mourinho. Servi Mourinho quando ele se mudou para o Chelsea e ele e a equipa vieram a Lisboa fazer um jogo amigável. Fui eu quem preparou todas as refeições da equipa enquanto estiveram cá hospedados”, lembra. E acrescenta: “Os famosos são conhecidos por terem alguns caprichos e serem exigentes mas nem um nem outro pediram nada de anormal. Penso que saíram satisfeitos”.

Pratos com memória

Com o objectivo de dar a conhecer aos estrangeiros a cozinha portuguesa modernizada sem retirar o seu sabor de origem, o restaurante Adega, de David Costa, tem recebido todo o tipo de clientes mas há um que já o marcou. “Tenho um cliente português que vai muitas vezes ao restaurante e já o apanhei a chorar quando comia carne de porco à alentejana e bacalhau à brás, porque diz que lhe faz lembrar a comida da mãe e da avó. Algo que não estava à espera, devido ao aspecto do prato pois nós tentamos transformar o prato em si mas sem destruir o sabor e a origem dele”, explica.

Cães nos restaurantes

O chef escalabitano é a favor da proibição de fumar nos estabelecimentos de restauração mas já em relação à permissão de entrada de animais nos restaurantes a opinião é outra. “Sempre tive cães e tenho um cão em casa, agora não vou agarrar no meu animal de estimação e ir jantar com ele. Não faz sentido até porque há espaço e momentos para tudo”, conclui.

Negócio em terras escalabitanas

Foi já este ano que David Costa decidiu abrir, juntamente com os seus irmãos, Gonçalo e Bruno, e a prima, Loló, o Quiosque do Mercado, junto ao Mercado Municipal de Santarém. Um espaço diferente onde não falta inovação nos petiscos. O chef explica que a ideia surgiu o ano passado depois de o seu irmão, Gonçalo Costa, voltar do Brasil onde trabalhava e ver naquele espaço uma oportunidade de negócio. “Acabámos então os quatro por nos envolvermos naquela ideia e criámos este negócio de família que, neste momento, é gerido pelas esposas dos meus irmãos, Liliane Florêncio e Cátia Teixeira, por estarmos todos em projectos fora de Santarém”, explica.

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