Uma região com autonomia é um elemento essencial de coesão e de desenvolvimento
O que não aconteceu na região nos últimos trinta anos e deveria ter acontecido?
A regionalização, tal como no todo nacional. Falta esta dimensão administrativa do país, que está definida na Constituição desde 1976 e que, por força do centralismo reinante nos partidos que se têm revezado no governo, tem sido impedida, em prejuízo das regiões e das populações, a diversos níveis. Uma região administrativa com autonomia do Ribatejo ou que englobasse o Ribatejo seria um elemento essencial de coesão e de desenvolvimento.
Portugal aderiu à CEE (actual União Europeia) há pouco mais de trinta anos (1 de Janeiro de 1986). Como acha que seria actualmente o país se essa adesão não tivesse acontecido?
A entrada de Portugal na CEE esteve muito ligada a uma determinada perspectiva política, a uma definição de modelo de sociedade que fosse o oposto de caminho que estava a ser seguido, na sequência do enorme impacto da Revolução de Abril e de todas as conquistas do povo português. Portugal na CEE (UE) é o processo de integração no sistema capitalista, com o progressivo acentuar dos diferentes défices do nosso país (comercial, agrícola, alimentar, energético, etc.) e o aumento da dependência do exterior que, de crise em crise, de que o maior exemplo é a intervenção da “troika”, nos tornam um país submisso, com políticas determinadas pelos interesses estrangeiros.
A ponte Salgueiro Maia, a Ponte das Lezírias, a A23, a extinção das lixeiras a céu aberto, a construção do novos hospitais, foram alguns dos grandes investimentos públicos feitos na região nos últimos trinta anos. Lembra-se do que pensou na altura em que foram feitos?
Foram realizações muito importantes para o distrito de Santarém e para o Ribatejo. No que respeita ao impacto directo em termos pessoais, destaco a ponte Salgueiro Maia, que foi um importante elo de ligação entre os concelhos da região e entre o norte e o sul do país, com tudo o que isso implica de positivo.
Há quantos anos conhece
O MIRANTE? Que relação tem com o jornal e que alterações lhe faria para gostar mais dele?
Leio O MIRANTE desde que começou a aparecer por Alpiarça, no bar dos Águias, logo nos primeiros anos de existência, quando ainda era visto como o jornal da Chamusca. Desde essa altura o jornal deu importantes saltos qualitativos que o levaram a extravasar a nossa região, conquistando milhares de leitores. Quanto à sugestão de alterações, é coisa que não faço. É aspecto que deixo aos seus profissionais e à administração que, tal como até aqui, saberão encontrar as formas de levar um jornal e um jornalismo de qualidade a cada vez mais gente, ultrapassando os enormes desafios que se colocam à imprensa neste momento.
Se voltasse a ter trinta anos e soubesse o que sabe hoje o que faria diferente?
Há tantas coisas que eu faria de forma diferente se voltasse a ter 30 anos.Não sou como “o outro” que dizia que nunca tinha dúvidas e que raramente se enganava. Mas como não voltarei a ter 30 anos também não terei as oportunidades necessárias para fazer as coisas de forma diferente do que fiz e, por isso, nem vale a pena gastar muito tempo a pensar no assunto.
Viveu bem a sua juventude ou desaproveitou-a? Porquê?
Julgo ter aproveitado bem os meus tempos de adolescência e juventude, procurando aprender, divertindo-me, criando amizades para a vida, cometendo erros e fazendo algumas asneiras também, tudo isso aspectos que considero fundamentais para a formação da minha personalidade e do que sou como pessoa. Como diriam os meus avós: “foram tempos bons que não voltam mais”.
Onde residia há trinta anos? Como era a terra há trinta anos? O que é que gostava que voltasse a ser como era?
Há 30 anos, no memorável ano de 1987, vivia na terra mais bonita do mundo, porque é a minha, Alpiarça; tinha feito 18 anos, tinha acabado o 12º ano e jogava futebol no CD “Os Águias” de Alpiarça, entre várias outras coisas que fazia, sobretudo as coisas que cimentam as amizades para a vida. Embora tivesse sempre gostado da minha terra, com 18 anos há a natural vontade de conhecer outras realidades; foi o que aconteceu algum tempo após, com a entrada na Universidade; e depois, passados uns anos, o regresso às origens. A nostalgia da nossa infância e juventude leva-nos muitas vezes a desejar regressar ao passado, o que é impossível.
Lembra-se de alguma decisão pessoal importante que tenha tomado ou sido obrigado a tomar por altura dos trinta anos ou nos últimos trinta anos? Qual foi e que efeitos teve na sua vida?
Lembro. Refiro duas decisões muito importantes na minha vida: foi exactamente quando tinha 30 anos que eu e a minha mulher tomámos a decisão de aumentar a família, ou seja, de termos filhos; foi exactamente quando tinha 30 anos que também decidimos vir viver (no meu caso, de regressar) para Alpiarça, depois de cerca de 10 anos na bonita cidade de Braga.