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Saber dizer a palavra amor é um acto de valentia

Saber dizer a palavra amor é um acto de valentia

Um desgosto de amor atirou-o ao chão e Rodolfo Barquinha, um bandarilheiro natural de Vila Franca de Xira, refugiou-se na poesia e na escrita para ultrapassar o sofrimento da perda. “Um mundo para te ver voar” é o livro que relata a vertiginosa descida aos infernos do amor e de como se consegue regressar de um destino traçado. Uma conversa com um bandarilheiro com alma de poeta.

Hoje vive-se numa sociedade que tem medo de dizer a palavra amor. E quando alguém a consegue dizer, olhos nos olhos da outra pessoa, isso é um acto de valentia. Quem o diz é Rodolfo Barquinha, 36 anos, bandarilheiro vilafranquense que sofreu um desgosto de amor, foi-se abaixo e através da poesia conseguiu reencontrar-se.
“A tauromaquia sempre foi grande inspiração de poetas e músicos e é uma das minhas grandes paixões. Os homens têm a dificuldade de dizer a palavra amor. Esta geração não tem problema em drogar-se em plena rua mas custa-lhes dizer a palavra amor, mesmo sendo o amor uma droga. Dizer amor é um acto de valentia, como na tourada. Escrever um livro de amor é um acto de valentia”, defende.
Rodolfo é bandarilheiro profissional em Portugal e Espanha, iniciou a sua formação na Escola de Toureio José Falcão em Vila Franca de Xira. “A vida encontrou-me com a poesia, comecei a lê-la depois de um desgosto de amor. Naquele túnel escuro em que estamos sem chão e em baixo, a poesia era a única forma de me tirar essa depressão”, conta a O MIRANTE.
Começou a escrever pequenos textos para ultrapassar a situação mas foi a poesia do espanhol Miguel Hernández que lhe abriu a alma. “Um dia li um poema dele que parecia escrito para mim, foi uma terapia, e a partir daí comecei a explorar vários poemas e poetas. Comecei a escrever sobre essa pessoa e o que sentia por ela. O meu objectivo era estar com ela mesmo sem ser fisicamente. Preencheu-me o vazio que tinha”, confessa.
No final deste ano resolveu compilar tudo num livro, “Um mundo só para te ver voar”, pela estampa da Chiado Editora. Um livro “simples” sobre “um amor” que Rodolfo perdeu. “É sobre aquela pessoa, a liberdade de amar e a sinceridade de quando a pessoa já não amar ter a liberdade de voar. Toda a gente tem o direito de amar e ser feliz. A palavra amor tem de estar no nosso dia a dia. Não temos o direito de prender as asas de ninguém quando esse amor já não é correspondido”, refere.
O livro já foi apresentado em várias livrarias FNAC pelo país e Rodolfo espera agora mostrá-lo aos leitores da região, incluindo a Fábrica das Palavras, na sua terra natal. Para já a primeira apresentação do livro está marcada para dia 17 de Dezembro no Clube Recreativo do Paraíso, no Bairro do Paraíso.

“Temos de reconhecer o que é nosso”
Rodolfo Barquinha é bandarilheiro e tem um curso profissional de auxiliar de veterinário. O trabalho não é fácil mas encara-o com paixão. “Temos de ser bons naquilo que fazemos. O bom bandarilheiro em Espanha é muito respeitado. Aqui em Portugal é menos. A tauromaquia está a passar por tempos difíceis e todos os sectores da tauromaquia têm de se unir. Actualmente cada um vai à sua e isso tem prejudicado muito a arte. Temos de nos unir perante os ataques que injustamente a tauromaquia está a sofrer”, defende.
Rodolfo lamenta que Vila Franca de Xira esteja a atravessar um momento “complicado” no que diz respeito à cultura taurina. “Temos de nos identificar mais e defender o que é nosso. Não podemos ir ver os toiros a Badajoz quando não vamos à nossa feira. Não podemos viver do passado. Temos de apoiar os novos valores que estão a começar. Temos de ir ver e apoiar os alunos da escola de toureio, temos de estar activos. Não podemos presumir que Vila Franca é terra de toiros e toureiros se não os apoiamos. Não podemos viver só da nossa história”, conclui.

Razões

“Entre a realidade e o pensamento
Espero-te de noite no mundo dos sonhos,
Ou no balcão de algum bar.
Ali nunca sei onde começam as minhas mãos
E acaba o teu corpo.
Assim vivo eu,
Como um raio de sol,
Num sonho que nunca te lembras
Mas que é real”.

Saber dizer a palavra amor é um acto de valentia

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