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Utentes concentram-se de madrugada à porta do Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria
foto O MIRANTE

Utentes concentram-se de madrugada à porta do Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria

ACES diz que há pessoas que entopem as consultas de recurso desnecessariamente

O relógio marcava 6h30 quando Georgina Pereira, de 63 anos, chegou à porta do Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira, para tentar obter uma consulta não programada. As portas só abrem às 8h00, mas o facto de por vezes o número de senhas para consultas não chegar para todos os que precisam de consulta no próprio dia, leva a que vários se concentrem de madrugada à porta da unidade de saúde. O Agrupamento de Centros de Saúde diz que não há necessidade de as pessoas se juntarem tão cedo no local, atendendo a que foi aumentada a capacidade de resposta, realçando também que há pessoas a recorrerem a este serviço para mostrarem exames, por exemplo, o que complica o atendimento a outros que precisam de consulta mais urgente.
Uma das utentes, Georgina Pereira, diz que só vai para o centro de saúde para arranjar uma consulta no próprio dia quando é mesmo urgente, porque já lhe aconteceu perder uma manhã de trabalho e não conseguir uma senha para consulta. Sem médico de família, confessa que muitas vezes, em pequenas coisas, recorre ao médico do trabalho da empresa onde está empregada. Nas primeiras vezes que precisou de consulta chegou perto das 8h00 e não conseguiu apanhar uma senha. Agora prefere jogar pelo seguro e levanta-se às cinco da manhã para ir para a porta da unidade. “É inadmissível termos um centro de saúde numa cidade tão grande que não consegue dar resposta aos habitantes”, desabafa.
Com o passar das horas, a fila vai aumentado. Na segunda-feira, 8 de Janeiro, quando
O MIRANTE esteve no local, concentraram-se à porta do centro de saúde três dezenas de utentes. A maior parte são idosos, mas também há alguns jovens. O frio que se faz sentir leva a vários pedidos para que os seguranças abram as portas e deixem as pessoas esperar dentro do centro de saúde. “É uma falta de humanidade”, diz Georgina Pereira.
Com quase 90 anos de idade, Ana de Jesus e Firmino Ferreira já se habituaram a este ritmo e nem o frio, nem a chuva os demove de fazerem o caminho a pé de casa ao centro de saúde no escuro da madrugada. “Temos de nos aguentar, que não há dinheiro para pagar um táxi. Acho que saímos daqui mais doentes do que viemos”, explica Firmino.
Além da falta de médicos uma das causas que os utentes apontam para as horas de espera durante a madrugada é a inconstância no número de senhas que são disponibilizadas. Na segunda-feira foram disponibilizadas senhas para as cerca de 30 pessoas que esperaram na fila. Contudo, há dias em que não é assim e o número de consultas disponíveis não é suficiente para abranger todos aqueles que precisam.
Contactada por O MIRANTE, a directora executiva do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Estuário do Tejo mostrou-se surpreendida com a situação. Explicou que neste momento funcionam duas unidades no Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria – a USF Reynaldo dos Santos e a UCSP da Póvoa de Santa Iria – com o objectivo de abranger o maior número de utentes. Maria do Céu Canhão aponta para os esforços que foram feitos para a contratação de mais três médicos em Novembro de 2017, conforme noticiado por O MIRANTE, de forma a garantir que 21 mil utentes tenham médico de família. “Para os dois mil utentes que ainda não foram abrangidos contratámos uma médica aposentada para dar resposta às necessidades”, concluiu.
Maria do Céu Canhão considera que não existe a necessidade dos utentes se deslocarem de madrugada para esta Unidade de Saúde uma vez que os serviços estão adequados à procura que se faz sentir. Alerta ainda, para o facto de “alguns utentes utilizarem as consultas de urgência para mostrar exames, ocupando as vagas de doentes com situações urgentes”.

Utentes concentram-se de madrugada à porta do Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria

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