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Vendedora de pão deu um novo alento ao mercado de Samora Correia
Foto O MIRANTE - negócio. Ana Lopes e Eugénia Morais são dois rostos do mercado

Vendedora de pão deu um novo alento ao mercado de Samora Correia

Ana Lopes abriu uma padaria que dá algum movimento ao local onde as bancas estão vazias de clientes

Às primeiras horas da manhã de sexta-feira são poucas as bancas que estão abertas no mercado de Samora Correia, concelho de Benavente. Grande parte das cerca de oito vendedoras estão reunidas perto da peixaria para meter a conversa em dia, sempre com um olho dividido entre a banca e a porta do mercado, na esperança de que entre um cliente e traga alguma movimentação a um mercado que está cada vez mais parado. Os poucos que ainda vão entrando encaminham-se para a pequena padaria de Ana Lopes, logo à entrada do edifício.
Com 48 anos, Ana Lopes é um caso de sucesso num mercado que vai decaindo aos poucos. Não tem mãos a medir entre um cliente que sai e outro que está a entrar para apanhar mais uma encomenda, que começou a preparar às 7h da manhã, quando abriu o espaço. Há quatro anos sem trabalho de balconista de lojas de roupa, profissão que já exercia há anos, abraçou o desafio de vender pão caseiro, feito em forno de lenha, na terra que a viu nascer. O convite foi inesperado e surgiu de um conhecido que tinha uma loja para arrendar dentro do mercado.
Desempregada e com uma casa para sustentar, Ana não hesitou, lançou-se à aventura e foi-se adaptando e superando os problemas e os desafios que iam aparecendo. Actualmente continua a vender pão, mas introduziu uma série de produtos tradicionais como o queijo, vinho, doces, compotas, bolos e ginja. “Tento adquirir produtos que não se encontrem à venda nos supermercados e que ajudem a atrair mais clientes”, explica a O MIRANTE.
O mercado de Samora Correia não era um espaço estranho a Ana Lopes, que aqui passou a infância a ajudar a avó numa pequena banca de legumes. Lembra-se que na altura gostava sempre de guardar o dinheiro que a avó recebia e que para isso utilizava um pequeno avental cheio de bolsos, semelhante aos que ainda hoje usa. “Nunca pensei vir parar aqui tantos anos depois, mas é uma coincidência engraçada”, realça.
Muita coisa mudou desde que a avó deixou de vender no Mercado de Samora Correia. A vendedora não fica indiferente à desertificação do mercado e é com alguma mágoa que olha para o espaço praticamente deserto. Ainda que reconheça que o seu negócio é dos que corre melhor e tem registado um aumento no número de clientes, sobretudo jovens, admite que ainda não consegue viver só das receitas que obtém da padaria. Por isso, arranjou recentemente um trabalho a tempo parcial numa loja de roupa.
Acredita que o mercado precisava de uma “cara lavada” que o tornasse mais atractivo para os clientes. Uma pintura nova, mudança na disposição das bancas e até um letreiro maior a identificar o espaço, são algumas das ideias que Ana Lopes considera que podiam ajudar. Já teve conversas com as outras vendedoras e com autarcas, mas nunca obteve respostas satisfatórias. Apesar da mágoa, percebe que a mudança não seja fácil de encarar para a grande maioria das vendedoras, muitas com uma vida inteira passada atrás da mesma banca.

A vendedora que já não vai à missa por causa dos calotes
Eugénia Morais é uma das vendedoras mais antigas. Mais de metade dos 74 anos de vida foram passados a vender legumes no mercado, numa pequena banca que fica em frente à peixaria, onde toda a gente se reúne. Filha de agricultores, lembra-se que o jeito para vender vem desde jovem quando começou a ir para o mercado vender os produtos que os pais cultivavam. De terça a sábado passa todas as manhãs no mercado, mais tempo na conversa com as amigas do que a vender, uma vez que escasseiam clientes. “Se tudo correr bem hoje vou fazer 3,30 euros, vai ser um bom dia”, explica, mostrando uma encomenda de legumes que preparou para uma cliente.
A vendedora, reformada, garante que já não ganha dinheiro na banca e que neste momento só continua a marcar presença no mercado para não estar sozinha em casa. Na única vez que Eugénia Morais pensou em deixar o mercado, na transição dos escudos para o Euro, sofreu uma depressão. Após um mês de “férias” foi aconselhada pelos médicos a regressar ao local onde sempre foi feliz. “O meu marido morreu há 20 anos, os meus filhos estão cada um no seu sítio e eu sentia-me tão sozinha em casa, foi muito complicado”, conta a O MIRANTE.
Mostra uma paixão e dedicação à venda no mercado que é reconhecida por todas as colegas. Foi esta a paixão que a levou a ir para ali trabalhar até ao meio-dia, quando estava prestes a ter o filho. Depois da venda apanhou um autocarro e foi para o Hospital de Vila Franca de Xira para dar à luz. Ao longo de uma grande parte da vida a vender no mercado, Eugénia foi acumulando calotes no livro das dívidas e isso já a fez deixar de ir à missa para não ter de ver pessoas que lhe ficaram a dever.

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