Tetraplégico pede ajuda para ganhar autonomia
Henrique Correia ficou tetraplégico depois de cair de uma altura de 15 metros quando andava a apanhar pinhas com um amigo na Barragem de Magos, em Salvaterra de Magos. Já lá vão quase 20 anos. O apartamento onde vive com a família teve que ser adaptado à sua nova condição mas falta um elevador que lhe permita deslocar-se sem ajuda entre o primeiro andar onde vive e a entrada do prédio, no rés-do-chão.
O dia 9 de Novembro de 1998 ficou marcado para sempre na vida de Henrique Correia e da sua família. Foi nesse dia que Henrique, na altura com 23 anos, foi apanhar pinhas com um amigo para a Barragem de Magos, em Salvaterra de Magos. Ao subir o pinheiro para alcançar uma pinha mais alta o tronco onde estava apoiado partiu-se e Henrique caiu de uma altura de cerca de 15 metros. Logo na altura percebeu que algo não estava bem porque não se conseguia mexer.
O amigo que estava consigo foi de mota chamar os bombeiros de Salvaterra que o transportaram para o Hospital de São José, em Lisboa, onde esteve internado cerca de uma semana. “Aí disseram-me logo que estava tetraplégico. É um choque indescritível. A nossa vida muda completamente de um dia para o outro e adaptarmo-nos a uma nova condição, a uma vida em que dependemos totalmente dos outros é muito complicado”, conta a O MIRANTE. Três anos antes tinha sofrido um acidente de trabalho que lhe afectou a coluna mas que não tinha causado consequências mais graves.
Depois de ter passado pelo Hospital de Santarém e de ter estado cerca de sete meses no Centro de Reabilitação de Alcoitão, Henrique regressou a casa e aí deparou-se com novos problemas. A casa, um primeiro andar situado perto da Falcoaria Real, em Salvaterra de Magos, teve que ser adaptada. A mãe, Deolinda Gregório, não baixou os braços e mudou a casa para dar o mínimo de condições ao filho. Transformou a marquise no quarto de Henrique por ser mais ampla e estar junto à cozinha, permitindo que o filho faça as refeições com a família. Na casa-de-banho foi retirado o bidé e, depois de ter caído com Henrique, decidiu retirar a banheira e instalou um polibã.
Viver no primeiro andar sem elevador
O principal problema para Henrique é conseguir sair e entrar em casa. O primeiro andar sem elevador obriga-o a utilizar as escadas do prédio. A alternativa usada é inapropriada para a sua condição. É o irmão, Roberto, ou o padrasto que transportam Henrique às cavalitas até ao piso térreo. Outras vezes, vai empurrado na cadeira de rodas mas o espaço é exíguo e no final do primeiro lanço de escadas os seus pés embatem na parede do prédio.
Quando nem o irmão nem o padrasto estão em casa e Henrique quer sair é o próprio que se arrasta pelas escadas abaixo e consegue colocar-se na pequena motorizada eléctrica na qual se desloca pela vila.
É devido à falta de condições que Henrique e a família pedem ajuda para a colocação de um elevador próprio para deficientes que lhe permita deslocar-se em segurança entre o primeiro andar e o rés-do-chão. Também existe a hipótese de alugar o rés-do-chão situado no mesmo prédio onde mora a sua família. No entanto, os escassos rendimentos da família não permitem suportar estar despesas.
“Eu recebo 260 euros de pensão de sobrevivência e a minha mãe também está reformada por invalidez, tem uma reforma muito baixa. Não temos possibilidades de mandar colocar um elevador. Carregar comigo é muito complicado. Além disso, o impacto na minha coluna com os solavancos a descer as escadas é perigoso para a minha saúde. E para a saúde dos meus familiares também”, diz.
A Câmara de Salvaterra de Magos disponibilizou uma casa para Henrique mas este teve que recusar pois fica a dois quilómetros de distância da família e os médicos referem que é importante a família estar por perto. “Se conseguíssemos pagar a renda da casa do rés-do-chão, que está para alugar, era o ideal porque o Henrique estava perto de nós. O problema é que o que ganhamos é quase tudo para comprar medicamentos”, afirma Deolinda Gregório.
Força de vontade não lhe falta
Apesar das adversidades Henrique demonstra ser um homem cheio de força e vontade de vencer os obstáculos que lhe surgem pela frente. Apesar de não ter força nas mãos consegue, fazendo força nos pulsos, movimentá-las. É assim que se veste e conduz a sua motorizada eléctrica. “É ele quem ata os atacadores. Demora tempo mas consegue”, conta a mãe Deolinda. Também é Henrique que se barbeia.
“Uma vez em Alcoitão as técnicas que lá trabalham pediram para eu mostrar aos outros pacientes como é que conseguia fazer uma série de pequenas coisas que eles não conseguiam fazer. Desenvolvi técnicas para conseguir ter um mínimo de autonomia”, refere Henrique.