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Os enfermeiros mal pagos, os médicos a recibo verde e os sindicatos da função pública

Os enfermeiros da urgência de Abrantes, como os enfermeiros em geral, têm razão (são mal pagos e andam sobrecarregados) mas uma posição como a que foi tomada, de pedir a transferência colectiva para outros serviços, não é para levar a sério e só os descredibiliza.
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses é, na minha opinião (e por muito que alguns detestem, por enquanto ainda podemos manifestar a nossa opinião), um sindicato à boa maneira dos sindicatos do pós 25 de Abril, que não conseguiram evoluir e que se mantém acorrentado a velhos métodos.
E a sorte deste sindicato, e de quase todos os outros, é serem sindicatos de funcionários do Estado. Não é por acaso, por exemplo, que as greves dos enfermeiros nos hospitais de parcerias público privadas ou nos hospitais privados não têm grande relevância, por exemplo.
Imaginemos por um momento que as transferências pedidas eram todas aceites. Quem iria ganhar com a saída de profissionais dedicados e com experiência naquela área da urgência. Ninguém, claro! O serviço ficaria a perder. Os doentes, esses então nem se fala, mas os doentes são sempre os principais atingidos pelas greves dos enfermeiros e médicos porque bater em quem nem sequer tem ADSE, por exemplo, como têm esses grevistas, não podendo também pagar outros seguros de saúde, é o mais simples e o mais desumano que se pode fazer.
Os sindicatos são uma peça chave da democracia mas têm que ser eficazes e para isso têm que se renovar. Não podemos ter apenas sindicatos de funcionários públicos (ontem li que na PSP há 16 sindicatos e por ano são concedidos 36 mil dias aos seus dirigentes para trabalho sindical).
Temos que ter sindicatos que defendam eficazmente os trabalhadores do sector privado. E no sector privado, como é fácil perceber, uma ameaça de pedido de transferência colectivo como a dos enfermeiros da urgência de Abrantes, feita só para dar títulos nos jornais e tentar aumentar a força política dos partidos como PCP e BE, não resulta...e no entanto é absolutamente necessário que esses trabalhadores, “sem direitos adquiridos”, sejam defendidos.
Os precários só são integrados no Estado e não no privado. As tolerâncias de ponto antes de feriados prolongados como o da Páscoa, por exemplo, não existem. As 35 horas semanais também não existem (nem sequer para os trabalhadores do Estado que não são funcionários públicos), etc, etc...
E passa-se o mesmo com os médicos a recibos verdes que asseguram as urgências nos hospitais das zonas mais carenciadas do país para onde os outros não querem ir. Esses não são considerados precários e são explorados pelas empresas de prestação de serviços. Há alguns que já trabalham nos hospitais do Estado a recibos verdes há mais de uma década mas como o Estado em vez de os contratar directamente opta por intermediários, tendo transferido o odioso dos recibos verdes para as empresas privadas que ganham com isso, não são precários, claro.
Onde estão os Sindicatos dos médicos onde alguns possam estar inscritos? Onde está a Ordem dos Médicos que os aceita como médicos e que lhe cobra por isso mas que os desvaloriza, dando a entender que não são competentes por serem “tarefeiros”, como se todos os especialistas fossem competentes?
Jorge Moreira Salavisa

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