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Fenomenoso Serafim das Neves 

Fiquei desapontado com as comemorações do 25 de Abril. Imagina que corri tudo para arranjar material para a tradicional sardinhada revolucionária e popular e não encontrei sardinhas. Dir-me-ás que não é drama nenhum e que podia ter feito uma iglantónica grelhada mista anti-reaccionária ou uma rachmaninófica feijoada proletária sem que a festa perdesse energia insurreccional, mas uma sardinhada é uma sardinhada, caraças!! E sem uma sardinhada bem regada com tinto de Alcanhões não há celebrações do 25 de Abril que aqueçam os nossos corações.
Acabei por optar por uma pescada cozida com grelos e um ovo cozido. Mal por mal, ao menos comi algo que não me eleva o mau colesterol e assinalei a revolução de forma saudável, sem ter que recorrer ao bacalhau, peixe que associo ao antigo regime que permitia a exploração capitalista dos pescadores nos bancos da Terra Nova, e ao brando Natal português. Depois do repasto desfilei na minha rua de cravo vermelho ao peito, para espanto de vários jovens vizinhos que me perguntaram se eu já andava a celebrar a vitória do Benfica no campeonato.
Anuncias-me no teu último e-mail que as comemorações do 25 de Abril estão a ficar parecidas com as do 5 de Outubro. Concordo contigo. As diferenças começam a ser poucas. Tanto numas como noutras só há discursos chatos em salões onde só se pode entrar por convite e é impossível assar um porco no espeto e, para além disso, talvez devido ao Alzheimer, já poucos sabem o que aconteceu nesses dias. E há mais uma semelhança a realçar. Para a grande maioria do povo 25 de Abril e 5 de Outubro são datas memoráveis apenas porque nesses dias não se trabalha.
Não sabia que os Bombeiros de Constância tinham uma frota de mais de vinte veículos de transporte de doentes. Realmente são uma espécie de Rodoviária Nacional do pessoal que tem que ir à consulta ou à fisioterapia e não tem carro nem consegue subir os degraus dos transportes públicos ou sentar-se nos estofos de um vulgar táxi dos Transportes a Pedido.
Tens razão quando dizes que não deve haver no mundo um rácio semelhante de ambulâncias “per capita” e que Constância devia mudar o cognome de Vila Poema para Capital da Ambulância. Por aqueles lados ninguém fica stressado por causa do transporte para ir ao tratamento. E a massa que aquilo não dá. Se o Centro Hospitalar do Médio Tejo lhes pagar, assim de repente, os quatrocentos mil euros que lhes deve, relativos a transportes, de certeza que vai haver festa. E até podem fazer uma excursão com toda a população à praia da Nazaré para ver os surfistas e comer uma caldeirada. Transporte não vai faltar...de certeza absoluta! E vão os coxos, os paralíticos e tudo.
O presidente do Tribunal da Relação de Lisboa, que discursou nas Jornadas do Tribunal da Concorrência em Santarém, criticou a linguagem hermética da Justiça. Assim de repente até pode parecer simpático ele dizer tal coisa mas se pensarmos bem, deve ter havido muita gente na sala a abanar a cabeça de forma crítica. Afinal, se a linguagem da justiça não fosse hermética a coisa perdia a piada. Vê lá tu, por exemplo, o que aconteceu ao futebol e diz-me se tenho ou não tenho razão.
Antigamente só uns quantos iluminados é que percebiam de bola e eram respeitados por isso. O guarda-redes era o guardião, um canto era um “corner”, um defesa era um “back”...Depois fez-se aquilo que o juiz quer fazer com a justiça e é o que se vê. É só catedráticos a atropelarem uns aos outros e a atropelarem a língua portuguesa, aos gritos, em todos os canais de televisão. Sinceramente não quero isso na justiça. Se já agora é o que é com toda a gente a botar sentenças e a citar leis que nem sequer existem, com a futebolização da justiça é que ia ser o fim do mundo em cuecas, como dizia a minha avó materna. E quem é que iria contratar um advogado se nesta altura a única coisa que nos impede de sermos advogados de nós próprios é não percebermos patavina do que os juízes dizem?
Cumprimentos legislativos
Manuel Serra D’Aire

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