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O “ Enfeitar as Fontes” com uma nota de luto por causa da poluição do Tejo

A tradição de enfeitar as fontes, na localidade de Ortiga, concelho de Mação, teve este ano uma particularidade. Como chamada de atenção para o problema que a comunidade Ortiguense sente em relação à poluição que ultimamente tem afectado o rio Tejo e a maldade de que tem vindo a ser vítima o ambientalista Arlindo Consolado Marques, Ortiguense que tem denunciado os ataques de que o rio tem sido objecto, o busto de João de Oliveira Casquilho, não se apresentou com a habitual e alegre coroa de flores.
Quem em vida, manifestando-se, fez questão de se sentir Ortiguense, face a tamanho problema no rio, pela certa partilharia da mesma tristeza que hoje todos os Ortiguenses carregam. Daí, o ter-se vestido de luto.
Mas vamos à tradição. Desde tempos remotos, em Ortiga, freguesia do concelho de Mação, o dia Primeiro de Maio é, em cada ano, marcado por uma acção colectiva muito próxima das festividades cíclicas ligadas à natureza, características das comunidades rurais do mundo antigo, presente o simbolismo dos materiais utilizados e do elemento primordial água. Trata-se do “Enfeitar as Fontes” para o dia Primeiro de Maio.
Para lá das fontes, também não é esquecido o busto de João de Oliveira Casquilho, pessoa nascida em Ortiga que, embora residindo por motivos profissionais e familiares em Tomar, nunca esqueceu as suas raízes e foi grande benemérito ao apoiar, a nível financeiro e político, os investimentos feitos ao longo dos anos visando a melhoria da qualidade de vida dos seus conterrâneos, nomeadamente e de entre vários o total financiamento das explorações de água, das necessárias condutas e da construção da Fonte do Centro, algo que estes também nunca esquecerão.
A tarefa de embelezamento é realizada de forma absolutamente natural e autónoma, com o envolvimento da comunidade de cada bairro no enfeitar da sua fonte, sob lideranças informais geradas no seio do grupo e sem interferência de outras quaisquer pessoas ou organizações. Aqui é de referir o forte empenho e esforço das mulheres no envolvimento de todos, jovens e menos jovens, de ambos os sexos.
Deste modo, envolvendo todos no presente, estão a trabalhar no assegurar do futuro de uma sociedade dotada de forte espírito colectivo e culturalmente muito rica, como é a de Ortiga. Aliás, a naturalidade com que toda a comunidade se envolve e sente a festividade, mostra estarmos em presença de genuína forma de cultura imaterial.
Outro interessante pormenor é o de que os elementos utilizados, desde as flores, às pétalas, aos juncos, aos rosmaninhos, às folhas de árvore, enfim, a todas as espécies vegetais que são utilizadas, tudo é natural e atempadamente recolhido pelos campos fora.
Conscientemente, no respeito pelo espírito que desde sempre marcou esta festividade cíclica, sem competição entre bairros, antes com muita colaboração e mútuos incentivos, foi cumprida a tradição e as Fontes de Ortiga estavam enfeitadas ao nascer do Sol, no dia Primeiro de Maio, para satisfação de toda a comunidade e apreciação das muitas centenas de visitantes.
Como chamada de atenção para o problema que a comunidade Ortiguense sente em relação à poluição que ultimamente tem afectado o rio Tejo e a maldade de que tem vindo a ser vítima o Arlindo Consolado Marques, Ortiguense que tem denunciado os ataques de que o rio tem sido objecto, este ano o busto de João de Oliveira Casquilho não se apresentou com a habitual e alegre coroa de flores. Quem em vida, manifestando-se, fez questão de se sentir Ortiguense, face a tamanho problema no rio, pela certa partilharia da mesma tristeza que hoje todos os Ortiguenses carregam. Daí, o ter-se vestido de luto.
João de Matos Filipe

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