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31 anos do jornal o Mirante

Inflamável Serafim das Neves

Ando um pouco atarantado com a linha editorial da grande parte dos jornais mas atarantado no bom sentido. Há uma ou duas décadas, quando queríamos ver, verdadeiramente vista, a verdadeira qualidade epidérmica e anatómica de certas senhoras, tínhamos que comprar revistas da especialidade como a Playboy ou a Gina, porque os jornais não ligavam ao que era realmente importante, ou tinham medo de se estamparem nas curvas.
E o mesmo acontecia quando queríamos informação especializada sobre temas de importância vital, como o do homem que curou um cancro engolindo trezentas sanguessugas de uma vez ou da mulher que deu à luz um gato siamês, casos em que éramos obrigados a recorrer ao saudoso Jornal do Incrível.
Agora a abundância informativa sobre tais temas e muitos outros é tanta e de tanta qualidade que nem sei para onde me virar. Todos os jornais dão informação de tal modo interessante e importante que os antigos meios de comunicação parecem, analisados a esta distância, meras publicações para crianças.
Nesta altura estou a abarrotar de informação sensível. Conheço tudo o que é importante conhecer sobre actrizes, modelos, apresentadoras de televisão e outras famosas. Medidas, preferências, cores da lingerie e da falta de lingerie, namorados, namoradas, locais de financiamento, marcas das viaturas... eu sei lá...
Também já absorvi tudo o que é relevante em termos políticos e sociais, desde traições, facadas, alianças, gritarias, embirrações, estados de alma e técnicas de tirar selfies e de tirar dinheiro, seja de políticos ou de políticas. Além disso sei, porque é imprescindível saber, os lugares onde passam férias, as cores e marcas dos calções de banho, a quantidade de gravatas e de graveto e o nome dos seus animais de companhia e dos treinadores pessoais dos mesmos.
E o que me consola é que, mesmo quando estou concentradíssimo a consultar a secção científica de um qualquer jornal ou televisão para perceber melhor a esfericidade das glândulas mamárias de uma celebridade, seja nacional ou estrangeira, não vou ser acusado de assédio ou vítima de um qualquer movimento “mitu” porque, numa democracia verdadeira como a nossa, aquela informação é fulcral para fazer baixar o deficit. E o mesmo acontece quando leio sobre facadas, rusgas, invasões, violações, raptos e assaltos. Essa minha ocupação é considerada altamente cultural e didáctica porque contribui para a acalmia política e tranquilidade social e para Portugal subir no ranking mundial da matemática.
E há outra coisa, Serafim. Há outra coisa. Finalmente temos a liberdade de escolher o que nos interessa e não andarmos com angústias sobre o que é ou não verdade. Na prática é tudo verdade ou tudo mentira, dependendo muito do nosso estado de alma. Esse direito à liberdade de informação e opinião que agora podemos exercer em pleno está na Constituição há décadas mas, como tudo na vida, a aprendizagem do que aquilo significava, foi demorada.
No jornalismo já havia aquela velha máxima, “Não deixes que a verdade te estrague uma boa história” mas, infelizmente, nem todos os jornalistas a seguiam. Havia muitos, que eram casmurros e do contra que embirravam com aquilo. Felizmente, ou já não embirram ou estão na reforma, o que é excelente para a qualidade da informação produzida. E essa qualidade é tanta que, em relação a muitos órgãos de comunicação social, até já é possível falar em jornalismo “gourmet”. Agora só faltam as estrelas Michelin!
Saudações libertárias
Manuel Serra d’Aire

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