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“Só não fiz o que não estava ao meu alcance”
Manuel e Luís Salgueiro

“Só não fiz o que não estava ao meu alcance”

Manuel Luís Salgueiro foi presidente da Junta de Freguesia do Cartaxo e um dos fundadores do Jardim-de-Infância do Cartaxo, a maior instituição de solidariedade social do concelho.

Por ocasião da celebração do seu 80º aniversário foi alvo de duas homenagens: uma organizada pela Câmara e Junta de Freguesia do Cartaxo e outra pelo Sport Lisboa e Cartaxo, onde fez parte dos órgãos directivos durante vários anos. O MIRANTE juntou o homenageado e o seu filho mais novo, Luís Salgueiro, para falarem de memórias e também de como o filho vê o trabalho que o pai desenvolveu ao longo dos anos na comunidade onde vivem.

Muita emoção e gratidão foi o que Manuel Luís Salgueiro sentiu durante as duas homenagens que lhe foram feitas recentemente aquando da celebração dos seus 80 anos. A primeira homenagem decorreu a 30 de Maio, dia do seu aniversário, e o Centro Cultural do Cartaxo encheu para a cerimónia. No dia 3 de Junho, também foi homenageado, desta vez pelo Sport Lisboa e Cartaxo (SLC), pelos anos que dedicou ao clube. Manuel Salgueiro foi presidente da Junta de Freguesia do Cartaxo durante 20 anos – entre 1993 e 2013 – tendo sido vice-presidente dessa autarquia entre 1989 e 1993. Tinha 50 anos quando foi convidado para a política e até então nunca tinha pensado em desempenhar um cargo político.
“Foi a oportunidade de poder ajudar as pessoas e poder fazer alguma coisa em prol da comunidade que me fez aceitar o convite. Só não fiz o que não estava mesmo ao meu alcance”, confessa em entrevista a
O MIRANTE. Manuel Salgueiro era presidente da Junta do Cartaxo a tempo inteiro mas recebia como se estivesse a meio tempo. “Se recebesse o ordenado de presidente a tempo inteiro era mais dinheiro que saía dos cofres da junta e por isso preferia receber menos e a junta ter mais dinheiro disponível para fazer obra”, conta.
Dos anos que passou à frente da autarquia guarda muitas e boas memórias. Recorda com saudade o Convívio da Amizade que organizou durante 20 anos e juntava os idosos do concelho, iniciativa que entretanto terminou. Diz que deu o melhor de si e fez tudo o que achou que seria melhor para a comunidade naquela altura. Lamenta as dificuldades financeiras da Câmara do Cartaxo e considera que algumas obras foram desnecessárias como por exemplo o Parque Santa Eulália. “É uma obra grande e as pessoas não o utilizam muito, o que acaba por deixar o espaço quase ao abandono. A praça 15 de Dezembro e o parque de estacionamento subterrâneo também são muito criticados. Na altura achei uma boa ideia mas foi um investimento muito alto”, afirma.
O ex-presidente de junta considera que o Cartaxo precisa de empresas que se instalem no Valleyparque, o que vai ajudar a desenvolver a economia do concelho com a criação de mais postos de trabalho.
Manuel Salgueiro foi um dos fundadores do Jardim-de-Infância do Cartaxo (JIC), que ajudou a construir de raiz com um grupo de pessoas do Cartaxo e que se tornou na principal instituição do concelho. Uma instituição que emprega cerca de uma centena de funcionários e que este ano celebra 50 anos de existência. “Dá-me muito orgulho ter ajudado a fundar o JIC porque foi uma obra muito importante para o concelho pois naquela altura não havia nenhuma infraestrutura que pudesse acolher as crianças do Cartaxo”, sublinha.

Um alentejano que se apaixonou pelo Cartaxo
Natural de Montemor-o-Novo [distrito de Évora], veio viver para o Cartaxo, onde reside há 52 anos, por mero acaso. O mais velho de cinco irmãos, Manuel Salgueiro, é oriundo de uma família humilde mas garante que nunca lhe faltou nada, sobretudo amor. A infância foi feliz. Jogou futebol, fez teatro e cantou no grupo coral da igreja. Tinha 14 anos quando venceu um concurso de talentos musicais e entregou os 100 escudos do prémio à mãe. “Quando lhe dei o dinheiro ficou desconfiada. No dia seguinte foi investigar se eu tinha ganho mesmo o prémio”, recorda entre risos.
O primeiro trabalho foi numa loja onde ajudava o patrão. Foi aí que começou a dar os primeiros passos na vida laboral. Tinha 12 anos. Mais tarde entrou para a Casa do Povo de Montemor-o-Novo e era chefe de secretaria dessa instituição quando terminou o Curso Geral de Comércio e concorreu para o Banco Nacional Ultramarino, onde lhe deram a oportunidade de escolher uma terra onde pudesse trabalhar como bancário. Sem conhecer, optou pelo Cartaxo, onde vive há 52 anos. Garante que não se arrepende da escolha que fez e apaixonou-se pela cidade ribatejana.
Com ele veio a esposa, Ana Clara, que conheceu ainda em criança em Montemor-o-Novo, e a filha, Ana Laura, que na altura tinha onze meses. Já no Cartaxo nasceu o filho mais novo, Luís. Dedicou a sua vida ao associativismo e à política. Lamenta que as pessoas não se interessem também pelo associativismo e que a vida nas colectividades vá morrendo aos poucos.

“O meu pai nunca foi um verdadeiro político”

Luís Salgueiro fala do pai como “um homem do povo”. Actual coordenador técnico e membro da comissão administrativa do Sport Lisboa e Cartaxo, diz que a sobrevivência do clube depende da constituição de uma SAD.


Luís Salgueiro tem 51 anos e é o filho mais novo de Manuel Salgueiro. Diz que tudo o que é o deve aos pais, com quem tem uma relação muito próxima. Para demonstrar essa proximidade recorda os tempos em que estudava no Alentejo durante a semana e os pais o iam visitar aos fins-de-semana. “O meu pai saía de lá a chorar e eu ficava a chorar. Somos uma família muito unida e os meus pais sempre lutaram para darem o melhor aos filhos”, afirma.
Foi com emoção e orgulho que os filhos, Luís e Laura, assistiram às homenagens prestadas ao pai numa altura em que celebrou 80 anos. “Uma vida cheia em que o meu pai dedicou o seu tempo a ajudar os outros e a tentar fazer o melhor pela comunidade em que vive. A prova de que o meu pai foi um bom autarca é que o Centro Cultural do Cartaxo ficou lotado”, afirma.
Luís Salgueiro é professor de Educação Física há 25 anos. Actualmente, lecciona no Agrupamento de Escolas de Azambuja. Agradece ao pai o apoio que lhe deu nos momentos de maior indecisão. “Quando entrei para a universidade não tinha a certeza se era mesmo aquilo que queria. O meu pai percebeu isso e levou-me para a área da banca para me ajudar a perceber o meu caminho. Entretanto, teve a capacidade de perceber que não era por ali que eu seria feliz e ajudou-me a encontrar o rumo. Levou-me de volta à universidade e se hoje sou um homem feliz e realizado devo-o a ele e à minha mãe, que me ajudaram sempre”, realça.
No lugar do seu pai, Luís não teria sido uma pessoa tão boa e tão disponível. “O meu pai nunca foi um verdadeiro político. Foi sempre um homem do povo, de causas, que gostava de ajudar. Atendia sempre o telefone e estava sempre disponível e a sua bondade acabou por lhe trazer alguns dissabores porque existem pessoas ingratas”, critica.
O professor de Educação Física recorda os anos que o seu pai dedicou ao SLC para justificar a homenagem que Manuel Salgueiro recebeu recentemente por parte do clube. “O meu pai deu muito a este clube, durante vários anos, por isso esta homenagem é mais do que justa”, afirma.

Tristeza pelo estado do SL Cartaxo
Luís Salgueiro diz que o pai lhe deu o melhor exemplo de vida mas não partilha com ele a paixão pela política, nem tem ambições políticas. “Votava no meu pai porque tinha que ser”, brinca, admitindo ter sido convidado para participar num projecto político nas últimas eleições autárquicas mas que não aceitou devido à sua ligação ao SLC. Para si, o Cartaxo é uma cidade segura e pacata mas faltam-lhe melhores infraestruturas para dar melhores condições aos atletas de todas as modalidades do concelho.
Coordenador técnico do SLC e membro da comissão administrativa do clube, Luís Salgueiro é um apaixonado pelo clube, onde começou a praticar futebol aos seis anos. Passou por vários clubes da região, e também do Alentejo, como jogador e treinador mas a sua grande paixão sempre foi o SLC. É por isso com mágoa que vê a situação a que o clube chegou. Luís Salgueiro não poupa nas críticas. “Infelizmente, existe muita gente que critica mas que depois não faz nada para ajudar a salvar o clube. Só cá andaram enquanto o clube lhes deu dinheiro a ganhar. Quando surgiram os problemas desapareceram”, lamenta.
Admite que a constituição da SAD, que deve acontecer durante este mês de Junho, vai ser a tábua de salvação do clube e a única hipótese de sobrevivência. “Já fomos das melhores escolas de formação do distrito e queremos voltar a ser”, reforça.

“Só não fiz o que não estava ao meu alcance”

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