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“Cristiano” é o único arrumador de automóveis com licença na região
Budi Badoi tem licença de arrumador de carros há cerca de três anos

“Cristiano” é o único arrumador de automóveis com licença na região

Nasceu na Bulgária mas ganha a vida a arrumar carros num parque de estacionamento junto ao Hospital Distrital de Santarém. Budi Baboi pagou 14 euros pela licença para exercer uma actividade que já lhe valeu maus-tratos e agressões.

A lei permite que os arrumadores de automóveis peçam licença às autarquias para trabalhar. Mas nos últimos anos na região apenas entrou um pedido de licenciamento. Foi há cerca de três anos e a licença foi passada pela União de Freguesias da Cidade de Santarém. O seu portador é Budi Badoi, um natural da Bulgária que depois de quase oito anos a residir em Santarém já se sente um pouco escalabitano.
Conhecido por “Cristiano”, por ser fã de Cristiano Ronaldo, ainda se lembra bem do dia em que começou a trabalhar devidamente licenciado a arrumar carros no estacionamento em frente à entrada do Hospital Distrital de Santarém. “Foi há cerca de três anos. Nesse dia coloquei o cartão identificativo ao peito e fui trabalhar sem medo que as autoridades me vissem. Na altura, as pessoas viam-me e perguntavam porque tinha o cartão. Era uma novidade”. Pagou 14 euros pela licença e oito euros pela renovação anual.

Entre maus-tratos e agressões
O dia já vai longo. Sentado num banco de madeira junto ao estacionamento, o arrumador de carros de 36 anos começa a fazer contas ao que recebeu durante o dia. O lucro depende dos dias, mas a média andará entre os 15 e os 20 euros. Budi Badoi admite que, ainda hoje já com licença, não é fácil trabalhar a arrumar carros e o problema está na sociedade. “O trabalho é muito mal visto por estar associado à toxicodependência. Depois, como quase todos o fazem de forma ilegal, as pessoas não têm outra reacção senão maltratar e mesmo agredir quem arruma carros”, afirma.
E conta uma história exemplificativa, passada há cerca de dois meses: “Indiquei um lugar para um condutor estacionar o carro e entretanto aproximei-me dele à espera da moedinha. Ele, em vez disso, deu-me dois murros na cabeça e disse-me: ‘Vai para a tua terra. Não fazes cá falta nenhuma’. Depois, chamei as autoridades e tive de ir às urgências do hospital. Sei que ele foi a tribunal, mas depois fiquei sem saber o que lhe aconteceu”.
Casado e com dois filhos, o búlgaro confessa que a sua vida em Santarém não tem sido fácil. Dormiu vários anos com a sua família debaixo de prédios, ao frio e à chuva, e passou dias sem comer. A mulher, como fala mal português, nunca conseguiu arranjar trabalho. Foi então que “Cristiano” começou a arrumar carros e decidiu pedir a devida licença. Um trabalho que não é o dos seus sonhos, mas é o que, neste momento, dá o sustento à família. E tem dado frutos já que há cerca de um mês arrendou por 200 euros uma pequena casa para viver.
Optimista e sem vontade de regressar ao seu país natal, Budi Badoi confessa que, para já, vai-se mantendo como arrumador de carros, mas confessa que se houver outra oportunidade melhor, não hesitará. Afinal, acredita, “o importante é a família estar bem e feliz, porque o resto logo se verá”.

Preço da licença para todos os gostos

Para pedir a licença para exercer a actividade, os arrumadores de automóveis devem ir à junta de freguesia ou câmara da sua área de residência, preencher um requerimento próprio e entregar, além dos documentos habituais de identificação, um certificado do registo criminal, fotocópia de declaração de início de actividade ou declaração do IRS, duas fotografias e apólice de seguro de responsabilidade civil.
Após ser aprovado pelo presidente da junta, é entregue um cartão ao arrumador e este deverá proceder ao pagamento da taxa que variam entre os 10 euros (União das Freguesias de Tomar) e os 51,86 euros (Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira), consoante a autarquia. O mesmo acontece com a renovação que varia entre 5 euros (União das Freguesias de Tomar) e os 20,24 euros. (Câmara de Almeirim). A licença é válida por um ano e a sua renovação deve ser feita novamente através de requerimento durante o mês em que esta caduca.

Seguro obrigatório

Uma das maiores dificuldades que os arrumadores têm tido para pedirem a licença para exercer a actividade tem sido a necessidade de um seguro de responsabilidade civil. Tudo porque as seguradoras consideram que o objecto do seguro é muito vago. É por isso que muitos desistem de se licenciar, refere o presidente da União de Freguesias de Santarém, Carlos Marçal. “Ainda há cerca de um ano tivemos um arrumador de carros que se mostrou interessado em obter a licença, mas ainda não o conseguiu porque as companhias não lhe querem fazer o seguro”, adianta o autarca.

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