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“Vendemos muito mal o interior”
Autarcas do Médio Tejo debateram o problema da interioridade

“Vendemos muito mal o interior”

Os desafios da interioridade foram debatidos em Abrantes e uma das conclusões a que se chegou é que só com o aumento da natalidade e condições para a fixação de população é possível dar a volta ao actual cenário de um país a duas velocidades.

“Vendemos muito mal o interior porque temos tudo o que os outros têm. Temos de nos vender pela positiva. Temos equipamentos de grande nível e temos o mais importante que é mais tempo e qualidade de vida. Podemos ir buscar os nossos filhos à escola”. As palavras são do presidente da Câmara do Sardoal, Miguel Borges (PSD), que ainda tem uma visão romântica e optimista sobre o interior do país e continua a sublinhar que “interioriade não é sinónimo de inferioridade”.
O autarca falava no debate “Desafios da Interioridade”, promovido pela NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém no dia 23 de Junho, no decorrer da Feira Empresarial de Abrantes, que juntou ainda o presidente da Unidade de Missão de Valorização do Interior, João Paulo Catarino, o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela (PSD), a presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque (PS), e o vice-presidente da NERSANT, Domingos Chambel.
Miguel Borges disse que ainda há uma grande ignorância sobre o que é o interior e deu um exemplo concreto: “A Companhia Nacional de Bailado foi ao Sardoal fazer um espectáculo e alguém da companhia ligou para saber como eram as estradas e se eram seguras porque estavam preocupados se algum artista tinha algum acidente. Nem sequer sabiam que existe uma auto-estrada.
Um dos grandes problemas do interior prende-se com a perda contínua de população há décadas, primeiro devido à migração para o litoral e à emigração acentuada nas últimas décadas pela acentuada quebra da natalidade. “Por mais políticas que tenhamos, o problema é que sem pessoas não conseguimos fazer nada”, sintetizou a presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque (PS).
Na mesma linha de discurso, Vasco Estrela comparou os números dos Censos de 1991 e de 2017 para sublinhar que nesse período a região do Médio Tejo perdeu 31 mil pessoas. “Não tenham a ilusão de que as empresas vão resolver os problemas ou vão salvar os territórios”, disse o autarca de Mação insistindo que o grande problema está na baixa natalidade: “O país foi olhando mas nunca encarou isto como um problema e hoje, por exemplo, quem tem mais de cinco filhos é considerado um extraterrestre”.
Em relação à descentralização, Vasco Estrela recordou que “o primeiro-ministro anunciou uma série de investimentos, mas foram todos para o litoral mais concretamente para Oeiras. O único político que fez alguma coisa pela descentralização foi Santana Lopes, que quis descentralizar os ministérios e toda a gente gozou com o homem”.
Mesmo assim, Vasco Estrela deu os parabéns ao Governo por ter criado a Unidade de Missão de Valorização do Interior, vocacionada para o desenvolvimento dessa parte do território nacional, mas para já não parece muito entusiasmado. “Como é que isto vai acabar ainda não sabemos e para já ninguém do concelho de Mação foi contactado por alguém desta unidade”, disse.
Domingos Chambel deu um exemplo prática do que considera ser uma medida penalizadora para quem vive no Médio Tejo. “Um trabalhador que viva em Torres Novas e vá trabalhar para o Sardoal ou para Mação gasta por dia 8,60 euros em viagens na A23. Ou seja gasta por ano 2322 euros. É uma pescadinha de rabo na boca”, disse o empresário. “Ninguém vem para o interior porque é caro. Por exemplo a A5 em Cascais é muito mais barata e é onde vivem os ricos”, afirmou.
João Paulo Catarino voltou a lembrar que o grande problema do interior e do resto do país é a baixa natalidade e considerou que “os governos têm de ter mais sensibilidade para o interior, mas o problema é que a grande maioria vive em Lisboa”.

“Vendemos muito mal o interior”

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