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Prevenção cardiovascular em jovens
Vitor Paulo Martins Médico Cardiologista e Arritmologista - Diretor Clínico da Clínica do Coração - Santarém

Prevenção cardiovascular em jovens

“Estudos realizados em cuidados primários de saúde concluem que 70% dos portugueses que sofre de risco cardiovascular não tem hábitos de vida saudável, alimentação equilibrada ou pratica atividade física.”

Se considerarmos que um jovem é todo aquele que tem menos de 40 anos, muito teremos que refletir.
A doença cardiovascular é a causa de morte número um no mundo e em Portugal 33.000 pessoas morrem por ano devido às doenças cardiovasculares. Isto ultrapassa largamente todas as causas de cancro que levam à morte.
Sabemos que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade também em Portugal. A hipercolesterolemia, a hipertensão arterial, a obesidade e a diabetes mellitus são alguns dos factores de risco cardiovascular, cuja prevalência continua a aumentar na nossa sociedade.
O aumento da incidência destes factores de risco é particularmente importante na comunidade jovem e, na sua maioria, deve-se a estilos e hábitos de vida inapropriados. No entanto em alguns casos, a carga genética é o principal determinante de risco.
No caso de existirem vários indivíduos na mesma família com colesterol elevado e história familiar de doença cardiovascular prematura, podemos estar na presença de uma doença genética denominada Hipercolesterolemia Familiar (FH).
É essencial a identificação correcta de crianças e jovens com FH, de modo a actuar preventivamente e modificar o risco cardiovascular, através de aconselhamento médico especializado e prescrição de terapêutica dietética adequada e eventualmente farmacológica.
O controlo dos factores de risco é a melhor forma de prevenir as doenças cardiovasculares. Um fator de risco é uma condição que aumenta o risco cardiovascular, ou seja, aumenta a probabilidade de sofrer uma doença cardiovascular. Os factores de risco podem ser divididos em duas grandes categorias: fatores de risco modificáveis e fatores de risco não modificáveis.
Fatores de risco modificáveis: Diabetes, Hipercolesterolemia, Triglicéridos elevados, Hipertensão arterial, Excesso de peso, Tabagismo, Excesso de bebidas alcoólicas e Sedentarismo.
Fatores de risco não modificáveis: Idade, Sexo e Genética (inclui a história familiar de doenças cardiovasculares ou morte súbita).
Se o tabagismo é um dos principais fatores de risco das doenças cardiovasculares, a entrada no mercado dos cigarros eletrónicos levanta dúvidas. Os alimentos que ingerimos, cuja qualidade se torna difícil de aferir, também nos suscitam interrogações.
Mais de metade da população portuguesa entre os 18 e os 79 anos apresenta pelo menos dois fatores de risco para a doença cardiovascular.
Estudos realizados em cuidados primários de saúde concluem que 70% dos portugueses que sofre de risco cardiovascular não tem hábitos de vida saudável, alimentação equilibrada ou pratica atividade física. Contudo a morte e a doença é evitável em 75% dos casos, se houver mudança dos hábitos de vida. Deixar de fumar, só por si, vai reduzir o risco de enfarte de miocárdio para metade.
Cerca de 27% das jovens tem peso a mais e 10% são obesas. Quanto aos rapazes, 29% tem excesso de peso. No entanto morre-se cada vez menos por doenças do aparelho circulatório - redução de 39% das mortes por AVC, entre 2011 e 2015 em Portugal, sobretudo pela melhoria dos valores de pressão arterial e do colesterol, em termos globais.
A morte súbita em jovens atletas é um acontecimento raro, mas catastrófico. A morte súbita no jovem atleta não está geralmente relacionada com a aterosclerose das artérias coronárias, mas sim com anomalias do coração, presentes desde a nascença ou que se desenvolvem ao longo da infância e/ou adolescência. A cardiomiopatia hipertrófica é a primeira causa de morte neste contexto, sendo responsável por cerca de um terço dos casos documentados. É uma doença que atinge o músculo cardíaco (miocárdio), tornando-o anormalmente espesso. Outras situações (anomalias das artérias coronárias, canulopatias, etc.) são mais raras.
O risco de morte súbita durante o exercício é um fenómeno raro, mas existe, com uma incidência anual de cerca de 2 a 3 mortes por cada cem mil jovens atletas. Sabe-se que cerca de 90 % dos casos são provocados por patologia cardíaca e que uma avaliação adequada e prévia à prática desportiva permite identificar a grande maioria das doenças implicadas.
Os sintomas poderão ser: dor torácica; Palpitações e síncope no contexto de esforço; Cansaço e dificuldade respiratória intensa e inexplicável. Independentemente destes sinais de alarme, todas as crianças ou jovens que pretendem praticar desporto em regime de competição devem ser submetidos a uma avaliação específica, dado que o exercício físico vigoroso aumenta em cerca de 2,5 vezes o risco de morte súbita.
As linhas de orientação europeias para rastreio de doença cardíaca em jovens atletas, sugerem no seu protocolo de atuação, a realização de eletrocardiograma de repouso, além da avaliação clÍnica. O jovem atleta deve ser sempre avaliado antes de iniciar a sua prática desportiva e depois em períodos regulares nunca superiores a dois anos.
Em conclusão, é sobretudo importante prevenir e diagnosticar situações que existem desde a nascença, mas sobretudo evitar os factores de risco que tem implicações gravíssimas no futuro. Procure aconselhamento médico sempre que a haja suspeição de algo anormal.
Vitor Paulo Martins
Médico Cardiologista e Arritmologista.
Diretor Clínico da Clínica do Coração - Santarém

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