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O Colete Encarnado sem as tertúlias não era a mesma coisa
Tertúlia O Autocarro

O Colete Encarnado sem as tertúlias não era a mesma coisa

São pequenos museus taurinos e espaços de convívio onde se aliam os prazeres da boa mesa à conversa, muitas vezes entusiasmada, sobre a festa brava e não só. As tertúlias são uma imagem de marca de Vila Franca de Xira e vivem um período de pujança. O MIRANTE foi conhecer três das mais de quarenta existentes.

No dicionário a designação de tertúlia aparece como “reunião familiar”, “reunião de pessoas com interesses comuns” e, em expressão popular, “embriaguez”. As tertúlias tauromáquicas de Vila Franca de Xira são um pouco desses três conceitos, sendo normalmente a expressão popular uma consequência do convívio com longos almoços e jantares bem regados, como acontece em cada festa do Colete Encarnado.
A tertúlia O Campino, a mais antiga das três que visitámos, foi fundada em 1977. É uma tertúlia familiar que nasceu das mãos de Carlos Santos (já falecido), mais conhecido por “Passarinho”, que ajudou a construir o Monumento ao Campino, inaugurado em 1982, no 50.º aniversário da festa do Colete Encarnado. Hoje O Campino é das suas duas filhas, Maria do Rosário e Idalina Santos, que a mantêm viva como o pai sempre desejou.
Carlos Santos, que também foi um dos fundadores do Clube Taurino Vilafranquense e um grande aficionado, percorria quilómetros só para ir ver uma corrida de toiros. A paixão pela tauromaquia levou-o a várias praças de toiros, tentaderos e ao campo para ver lidar os animais. As suas filhas continuam o seu legado, promovendo almoços, jantares e encontros com os amigos. A tertúlia não tem sócios, por isso é alimentada pela vontade e trabalho de um conjunto de amigos. Apesar de ser particular e familiar, recebe quem a desejar conhecer e, na noite da sardinha assada, abre as portas a quem vier por bem.
As fotografias que enchem as paredes mostram tempos antigos da vida no campo, campinos, ganadeiros, toureiros e touradas. Há toda uma memória e história da tauromaquia e Festa Brava a cada canto do espaço da tertúlia quase idêntica à que se vive nos museus.

Tertúlia sobre rodas
A tertúlia O Autocarro foi criada em 1994 e já teve três autocarros. O primeiro não tinha portas nem motor e tinha o nome Vitor Mendes. Hoje, O Autocarro vem para a área das largadas de toiros pelo seu próprio pé, ou melhor, pelas suas próprias rodas, e assumiu o nome O Autocarro. É essencialmente uma tertúlia ligada às esperas de toiros e serve muitas vezes de primeiro abrigo às pessoas que são magoadas pelos toiros, ajudando ainda a matar a sede aos campinos que por ali passam.
Mas há também quem ali vá só para a conhecer por dentro, pois o facto de a tertúlia estar instalada num veículo torna-a peculiar. O Autocarro só faz as festas do Colete Encarnado e a Feira de Outubro, em Vila Franca de Xira, e as Festas da Castanheira do Ribatejo. O resto do ano descansa, ficando abrigado na Castanheira. Os catorze sócios, familiares e amigos, por terem uma tertúlia móvel ficam sem espaço para se reunirem, mas acabam sempre por arranjar outros locais para se encontrarem como, por exemplo, no Café Nova Imagem, nas Cachoeiras.
Carlos Correia, que entrou para a tertúlia em 1996, explica que o espírito d’O Autocarro se pode designar por “harmonia de aficionados” e que este “vive à base da amizade”. Entre os vários fundadores, o tertuliano destaca a família Ceitil (António, Madalena e Emília Ceitil) e Joaquim Carradinha, entretanto já falecido.

Com a Rédea Curta
A tertúlia mais recente entre estas três, a Rédea Curta, foi criada em 2017 pelo desejo de um grupo de doze amigos em terem um espaço para se reunirem. Os amigos comemoravam as festas do Colete Encarnado juntos, mas sem um local fixo. Quando decidiram criar a tertúlia, passaram a encontrar-se mais vezes e a fazerem muito mais coisas em conjunto. Pelo menos uma vez por mês reúnem-se para conviver, comer, beber, ver touradas ou jogos de futebol na televisão.
O tema principal desta tertúlia são as sevilhanas, mas o nome Rédea Curta vem não só da ligação aos cavalos e à tauromaquia mas também das dificuldades financeiras com que começaram este projecto.
Maria João Peleja conta que, no Colete Encarnado do ano passado, quando as sevilhanas estavam a dançar o Fado de Vila Franca, um vizinho, que é fadista, desceu da sua casa e foi cantar ao vivo enquanto as sevilhanas dançavam.

Um olhar australiano sobre o Colete Encarnado

David e Soraia moram em Vila Franca de Xira há cerca de três meses e foram pela primeira vez jantar a uma tertúlia, neste caso a Rédea Curta. David é australiano e nunca tinha assistido às festas do Colete Encarnado. Nota uma grande diferença entre um dia normal na cidade e um dia de festa. Diz que é curiosa a transformação que ocorre em Vila Franca de Xira, normalmente sossegada, nestes dias, nos quais há festa por todo o lado e muita gente nas ruas.
David, um artista que faz esculturas de grandes dimensões, conta que foi muito emocionante assistir pela primeira vez a um fado cantado ao vivo. A experiência das festas tem sido repleta de novidades, até a forma de comer as sardinhas é uma descoberta, já que David ainda não arranjou uma maneira de evitar comer também as espinhas.
Para David, o mais importante é a festa ser um motivo para se relacionar com novas pessoas e diz, em inglês, resumindo também o ambiente que se vive em Vila Franca de Xira por estes dias: “The party is an escuse to connect with people” (a festa é uma desculpa para as pessoas se relacionarem).

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