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Cabo de forcados que é segurança diz que proteger vinte jovens é mais difícil do que proteger Ronaldo
Nuno Marecos é cabo dos Forcados Amadores da Chamusca há cerca de quatro anos

Cabo de forcados que é segurança diz que proteger vinte jovens é mais difícil do que proteger Ronaldo

Nuno Marecos diz que não há nenhum curso que ensine a liderar um grupo

O cabo dos Forcados Amadores da Chamusca, Nuno Marecos, que é segurança de profissão e que se destacou, em Maio deste ano, por ter acompanhado Cristiano Ronaldo na final da Liga dos Campeões, disputada em Kiev, na Ucrânia, considera que ser cabo do grupo ribatejano acarreta mais responsabilidade do que proteger altas individualidades.
“Quando faço segurança a figuras públicas isso faz parte do meu trabalho e tenho preparação específica para isso. Ser cabo dos Forcados Amadores da Chamusca é diferente porque sou responsável a tempo inteiro por vinte jovens e tudo o que sei sobre essa missão tive que aprender à minha custa”, explica a O MIRANTE cerca de três horas antes do início da corrida de toiros no Campo Pequeno.
O forcado que trabalha para a empresa de segurança ANTHEA - Segurança Privada, já trabalhou como director de segurança no Aeroporto de Lisboa e foi paraquedista e já é habitual vê-lo nos mais diversos cenários como segurança pessoal de altas individualidades. A empresa presta serviços de protecção e segurança pessoal a jogadores da Selecção Nacional de futebol e tem mais de vinte especialistas em segurança pessoal, na sua maioria oriundos das diferentes forças especiais portuguesas e com elevada preparação em matéria de defesa pessoal e desportos de combate, exercem as suas funções, de protecção dos clientes.
Já aconteceu muitas vezes a Nuno Marecos ter que ir trabalhar no dia seguinte depois de uma noite de corrida de toiros. “Em vez de dormirmos oito horas dormimos apenas duas ou três mas pelo nosso grupo de forcados vale o sacrifício. Além disso, sempre tive a sorte de ter patrões que compreendem a minha actividade no mundo dos toiros”, refere.
O forcado diz que, tanto no trabalho como nas pegas de toiros nem tudo é feito à base da força mas que a força física é indispensável. “Tenho que ter uma boa preparação física, tanto como forcado como segurança por isso não a descuro, apesar de nem sempre ter tanto tempo quanto gostaria para treinar”, realça.
Nuno Marecos tem 40 anos e é cabo dos Forcados Amadores da Chamusca há quatro. Natural de Almeirim, começou a pegar toiros com 13 anos. O seu pai tinha talhos e comprava muitos toiros lidados nas praças portuguesas e conhecia empresários e agentes taurinos.
“Desde pequeno que me habituei a andar com o meu pai de um lado para o outro. Levava-me às ganadarias para ver os toiros que mais tarde viria a comprar. Andei sempre neste meio e arrisco-me a dizer que vi mais corridas de toiros em miúdo do que agora. Naquela altura percorria as praças de toiros do país com o meu pai e o bichinho acabou por ficar”, recorda.
A sua primeira pega foi na localidade francesa de Saintes-Maries-de-la-Mer. Confessa que estava nervoso mas que tudo correu bem. Em 26 anos de actividade o cabo dos Amadores da Chamusca recorda algumas lesões: tórax estalado com paragem cardio-respiratória, lesão na coluna, pernas partidas. Diz que não consegue contabilizar quantos ossos já partiu mas refere, em jeito de brincadeira, que nas mãos devem escapar apenas três dedos que ainda não partiu.
Apesar de tantas mazelas nunca pensou em desistir. “Penso é em recuperar o mais rápido possível para poder voltar o quanto antes para dentro da arena”, garante. Explica que as pernas são a zona mais afectada uma vez que é o local do corpo mais castigado no embate com o animal.
Nuno Marecos diz que não consegue adivinhar se uma pega vai correr bem ou mal no momento em que está a citar o toiro mas que antes de estar cara a cara com o animal, percebe alguns sinais que o levam a deduzir se a pega vai ser fácil ou difícil.
“Quando estamos cara a cara com o animal não conseguimos pensar em mais nada, apenas queremos fazer as coisas bem feitas”, diz. Confessa que pensa muito na sua família antes de pegar toiros mas quando chega à praça tudo desaparece. “Naquela altura só pensamos nos toiros e em pegá-los”, refere.

Cabelos compridos ou calções remendados não são permitidos

Nuno Marecos confessa ser um homem de fé que se benze sempre antes de entrar numa praça de toiros e que tem alguns rituais. O barrete tem que ser colocado sempre no mesmo local, entra com pé direito na praça e veste-se sempre da mesma maneira: primeiro as meias, depois os calções, sapatos, camisa, suspensórios, gravata e jaqueta. Os jantares do grupo, em dia de corrida, acontecem sempre no final do espectáculo e duram até de madrugada. Antes da corrida optam por comer sandes e bebem apenas água ou sumos.
O objectivo é não terem o estômago vazio mas também não estarem muito cheios.
A farda do forcado (sapatos, calções, meias, cinta, suspensórios e camisa) é adquirida por cada um dos elementos mas a jaqueta é propriedade do grupo e é o grupo que manda fazê-las a uma senhora da Gouxaria, perto de Almeirim.
O cabo do grupo gosta de ver os seus elementos apresentáveis por isso cabelos compridos não entram e a barba deve estar aparada. Os calções quando se rasgam devem ser substituídos por uns novos. “Não sou apologista de ver calções com remendos e aqui só aparecem se eu não der por isso. Temos que ter brio na forma como nos apresentamos ao público e temos que dar uma boa imagem do nosso grupo e da terra que representamos. Temos que ter uma imagem cuidada”, afirma.
O grupo dos Amadores da Chamusca possui, actualmente, cerca de 40 elementos e todos os anos aparecem jovens para integrar o grupo. Antes de começar uma nova temporada fazem sete ou oito treinos nas ganadarias e na praça de toiros da Chamusca. Além disso, cada forcado é responsável pela sua preparação física durante o ano e tem que estar na melhor forma possível quando começa a temporada.

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