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Saúde e força é o que pedem os pescadores da Póvoa em noite de bênção
João Letra e Conceição Letra pediram força para continuar a lançar as redes ao rio

Saúde e força é o que pedem os pescadores da Póvoa em noite de bênção

Num Tejo onde o peixe escasseia os pescadores pedem à Nossa Senhora dos Avieiros ânimo para continuarem a lançar as redes. A bênção dos barcos avieiros, inserida nas festas da Póvoa de Santa Iria, atraiu centenas de povenses e visitantes à margem do cais dos pescadores.

E m noite cerrada, iluminada pela luz das pequenas embarcações a Nossa Senhora dos Avieiros foi recebida na Póvoa de Santa Iria, no sábado, 8 de Setembro. No Tejo dezenas de pescadores e nas margens centenas de curiosos assistiram à cerimónia, inserida no programa das festas da cidade e que este ano contou com um espectáculo de fogo-de-artifício à beira rio.
Para receber a padroeira, a quem pedem saúde e força para continuar a faina, os pescadores limparam e decoraram os seus barcos. A bordo segue a família e os amigos e entre conversas e ambiente festivo esquecem os tormentos de um rio que caminha para a morte. “A poluição é o principal problema. O peixe está a morrer e há espécies cada vez mais raras de apanhar”, refere o pescador avieiro João Letra, de 70 anos, natural de Benavente.
Descendente de pescadores de Vieira de Leiria, João Letra atraca o seu barco, o Pérola Branca, no cais dos pescadores da Póvoa de Santa Iria, cidade onde reside. Nasceu dentro de um barco saveiro de duas bicas, que ainda lhe lembra a palavra casa. Aprendeu a arte com o seu pai, aos 11 anos, e diz que é com ela que vai terminar os seus dias. O filho seguiu-lhe as pisadas, mas João, sempre que a saúde lhe permite, vai lançar as redes ao Tejo. “Muitas vezes vêm vazias. É uma tristeza que nos desmoraliza a ir no dia seguinte”, refere.
O sável que pescava em grandes quantidades, a norte de Vila Franca de Xira, é espécie rara por aquelas águas. O pescador diz que nos últimos dias de Agosto morreu uma quantidade enorme de peixe, uma vez mais por causa de uma descarga poluente. “O peixe não aguenta a poluição, nem mesmo o tratamento que as ETAR fazem. Morre tudo”, diz.
À padroeira, João Letra pediu força para continuar e garante que, “se não fosse a fé, os pescadores não andavam ali, não por causa dos tormentos” mas pela vida difícil que escolheram. O desânimo de muitos anos de luta compensa-o com a companhia da sua esposa Conceição Letra, que o acompanha no barco e ajuda a vender o peixe.

Fé e amor à arte
O MIRANTE subiu a bordo do Norte Sul, o barco de António Pedrosa e Maria da Conceição Pedrosa e com eles seguiu para águas mais fundas deixando para trás o amontoado de lama, que dificultou a partida. O casal de pescadores recebeu a bênção do padre à passagem do barco que transportava a padroeira. Este ano a prece foi a mesma: “Sorte e saúde para trabalhar”, diz António Pedrosa.
Com os dias frios a chegar aumenta o receio de não ganhar para a despesa diária de levar o barco para o rio. “O peixe fica ainda mais escasso e há dias em que fazemos 10 euros de peixe e gastamos 70 de gasolina”.
Nascidos e criados entre Vila Franca de Xira e a Póvoa de Santa Iria, António e Maria da Conceição conheceram-se ao largo do Tejo. Casados há 32 anos lembram os primeiros beijos que trocaram às escondidas entre os barcos dos seus pais.
Hoje agarram-se “à fé ao amor à arte”, refere Maria da Conceição, que em noite de pesca dorme no único compartimento do barco com o marido. Embarcam à uma da madrugada ou às quatro, dependendo da maré, e não há hora de regresso ou certezas de que vem peixe na rede. O importante, diz António Pedrosa a O MIRANTE, é “andar com a vida para a frente e esperar que uns dias compensem outros.”.

Saúde e força é o que pedem os pescadores da Póvoa em noite de bênção

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