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Há quem vá à farmácia até para tirar uma fotocópia ou fazer o IRS
Cátia Preto, directora técnica da farmácia Eduardo A. César

Há quem vá à farmácia até para tirar uma fotocópia ou fazer o IRS

Médico de serviço, confidente, amigo, conselheiro, o farmacêutico desempenha hoje muitas funções. Para assinalar a data em que se celebra oficialmente o seu dia, 26 de Setembro, O MIRANTE falou com vários profissionais da região e mostra-lhe um retrato do que é ser farmacêutico no século XXI.

Ilda Leitão, directora técnica da farmácia São João, em São João da Ribeira, Rio Maior, considera que o farmacêutico ainda é o médico de serviço sobretudo para os pacientes que não têm médico de família. Apesar de não se substituírem ao médico, tentam perceber qual o problema de saúde e ajudar até onde conseguem.
Para Cátia Preto, directora técnica da farmácia Eduardo A. César, em Vila Franca de Xira, os utentes procuram o farmacêutico para uma primeira avaliação, quando se trata de questões de saúde simples, como gripes, alergias ou constipações. Pedro Silva, director técnico da farmácia Mendonça, em Almeirim, confirma que o farmacêutico é o médico de serviço “essencialmente depois das 20h00 e ao fim-de-semana”, referindo-se aos horários “curtos” praticados pelo Centro de Saúde de Almeirim.
São procurados, normalmente, pelos mais jovens e com vidas mais ocupadas. Embora em locais mais remotos, como o Carvalhal, a 15 km da cidade de Abrantes, a maioria dos clientes sejam idosos, que residem na freguesia e em freguesias vizinhas. Ali, onde há poucos transportes públicos, as pessoas vão à farmácia até para tirar uma fotocópia ou fazer o IRS, diz José Rei, proprietário da farmácia Baptista Rei.
Numa altura em que a concorrência das parafarmácias é feroz não se faz sentir de igual forma pelas farmácias da região. Se para a farmácia Baptista Rei não há concorrência das grandes superfícies, uma vez que a maioria dos seus clientes, idosos, têm receitas médicas, para a responsável da farmácia São João trata-se da lei do mercado e é benéfica para o consumidor. Cátia Preto tem uma voz mais crítica e afirma que a venda livre de medicamentos sem prescrição médica em hipermercados é um estímulo à automedicação.

Receitas electrónicas são bem-vindas
Embora as novas receitas por telemóvel causem alguma confusão, principalmente aos mais idosos, todos os farmacêuticos com quem falámos são apologistas do novo formato que veio facilitar o controlo do receituário entregue ao utente. A opinião geral é de que existe menor margem para erros, uma vez que o sistema dá automaticamente baixa do medicamento no acto da venda. “Agora já não temos que decifrar a letra do médico e interpretar a prescrição, tudo é automático”, refere Pedro Silva, congratulando-se com esta medida que foi implementada em tempo recorde, pouco mais de seis meses.
“As receitas digitais têm também a grande vantagem de as pessoas poderem aviar à medida que necessitam, sem terem que despender o dinheiro todo de uma vez”, afirma José Rei.
A verdade é que há muitos clientes que confessam não comprar todos os medicamentos receitados, por falta de dinheiro. Em meios pequenos, como no Carvalhal, em situações excepcionais, pode-se esperar até ao final do mês para receber o pagamento, que normalmente provém da reforma, mas nos centros urbanos a política da casa é não vender fiado. Cátia Preto, refere, no entanto, que para que a pessoa saia o menos prejudicada possível tenta seleccionar entre os medicamentos receitados aqueles dos quais o utente não deve mesmo abdicar.
Alguns clientes com dificuldades económicas estão a ser ajudados pelo programa “Abem”, uma rede solidária do medicamento, dinamizada pela Associação Dignitude. Acontece por exemplo na farmácia Baptista Rei, no Carvalhal, na farmácia Mendonça, em Almeirim e na farmácia São João, em São João da Ribeira. O “abem” resulta de diversas parcerias instituídas com entidades locais, autarquias, IPSS e outras instituições de cariz social.

Pedro Silva, director da farmácia Mendonça

Medicamentos fora do prazo de validade

Um serviço muito importante desempenhado pela farmácia e pelo farmacêutico é a recolha dos medicamentos fora do prazo de validade que são posteriormente encaminhados para a Valormed, onde são incinerados. Uma acção tida por todos os farmacêuticos entrevistados como de extrema importância, para que os medicamentos não acabem no lixo doméstico e prejudicar o meio ambiente. Os utentes estão sensibilizados e a maioria entrega na farmácia os medicamentos que já não usam ou cuja validade expirou. Segundo Pedro Silva, farmacêutico de Almeirim, falta ainda pensar numa solução para, por exemplo, as fraldas usadas, que podem ser um foco de infecção e não são entregues na farmácia mas também não devem seguir para o lixo comum.

Ilda Leitão, directora da farmácia São João

As pessoas fidelizam-se a um farmacêutico

Mais do que um vendedor de medicamentos, o farmacêutico tem hoje funções que extravasam a mera transacção comercial, embora muitas delas sejam também pagas (normalmente a 50 cêntimos), como medir a tensão, o colesterol e os níveis de glicemia, aplicar vacinas ou até fazer pensos. Segundo Pedro Silva, técnico da farmácia Mendonça, em Almeirim, estes serviços têm vindo a crescer nas farmácias e acabam por ser mais um elo de ligação entre cliente e farmacêutico. “As pessoas fidelizam-se a um farmacêutico e é normalmente esse farmacêutico que as acompanha durante toda a vida”, diz. Para José Rei, proprietário da farmácia no Carvalhal, os utentes estão fidelizados ao seu estabelecimento que serve de ponto de encontro entre habitantes das várias localidades. “É aqui que põem a conversa em dia”, graceja.


José Rei, proprietário da farmácia Baptista Rei

Escondem-se doenças e há embaraço na compra de produtos

Ilda Leitão afirma que ainda há alguma vergonha na hora de comprar preservativos, testes de gravidez ou viagra. “Alguns clientes pedem para esconder num saco, outros dizem que é para um vizinho ou amigo, mas depois pedem recibo no seu nome”, refere a técnica da Farmácia São João. “Da parte das mulheres não há vergonha, já os homens preferem falar no consultório, longe do balcão, e normalmente têm como queixa a falta de erecção”, diz José Rei proprietário da Farmácia Baptista Rei. Os medicamentos para as disfunções erécteis são também apontados por Pedro Silva, da Farmácia Mendonça, como os que ainda causam algum embaraço. Segundo Cátia Preto, da Farmácia Eduardo A. César, a situação mais notória de embaraço acontece na compra da pílula do dia seguinte.

Há quem vá à farmácia até para tirar uma fotocópia ou fazer o IRS

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