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“Trabalhei em informática por pensar que não ganhava a vida com a arte”
Vladimir Cruz defende que o teatro tem de ser introduzido cedo na vida dos jovens

“Trabalhei em informática por pensar que não ganhava a vida com a arte”

Vladimir Cruz, 38 anos, director técnico do Teatro Estúdio Ildefonso Valério

Por influência do pai é apaixonado por jazz e rock n’roll e toca em duas bandas. Director técnico no Teatro Estúdio Ildefonso Valério, a casa mãe da Companhia de Teatro Cegada, em Alverca, há oito anos que Vladimir Cruz é o responsável pelos desenhos de luz e sonoplastia dos espectáculos. Faz também a manutenção dos materiais e é produtor de material gráfico. Já foi técnico de informática por achar que através das artes não ganharia a vida mas desistiu ao fim de uma dúzia de anos. Gosta da simplicidade nas pessoas e sonha viajar sem destino de mochila às costas.

Na minha estreia em palco interpretei um índio, sem falas, que vestia apenas uma tanga. Na altura fiquei envergonhado e senti-me exposto. Tinha 13 anos e pertencia ao clube de teatro da escola. No final da peça, não sei bem porquê, deu-se um clique e ganhei o bichinho do teatro.
Queria ser escuteiro mas acabei a tocar tuba numa filarmónica. Quando me fui inscrever nos escuteiros um amigo que tocava numa filarmónica desencaminhou-me. A minha mãe não gostou da decisão que tomei mas mais tarde percebeu que eu tinha de seguir as pisadas do meu pai.
Passava horas a ouvir concertos de jazz na televisão com o meu pai. Ele foi músico em Cabo Verde, de onde era natural e transmitiu-me aquela paixão. Hoje toco tuba, baixo-eléctrico e contrabaixo em duas bandas, El Bond e La Sonora.
O cinema faz-me viajar mas o teatro dá asas à minha imaginação. São artes que transmitem sentimentos diferentes. O cinema está num nível tão avançado que não deixa muita margem para a nossa imaginação. O teatro é a arte que nos permite sonhar e entrar no mundo do imaginário.
Achava que nas artes não conseguiria um emprego estável. Meti isso na cabeça e tornei-me comercial de informática mas durou o que durou. Ao fim de 12 anos, quando já era efectivo numa empresa tive a dose de teimosia e coragem necessárias para recuar e voltar a agarrar os meus sonhos.
Nunca vivi em Cabo Verde, mas identifico-me tanto com as suas gentes que é como se parte de mim pertencesse àquele lugar. Já visitei o arquipélago três vezes e tenciono lá voltar. A primeira vez que lá fui tinha nove anos. Recordo-me de me sentir em casa desde a primeira vez que pisei aquela terra.
Antes de fazer quarenta anos ainda quero crescer a vários níveis. Quero crescer dentro do teatro, concluir os estudos em música, ler mais, conhecer e trazer novas pessoas para a minha vida, tornar-me melhor profissional bebendo da sabedoria de outros e continuar na estrada a levar o teatro às pessoas.
A viagem dos meus sonhos vai ser feita de mochila às costas. Ainda não me decidi mas vai acontecer. Quero partir sozinho e sem destino, deixando para trás as preocupações do dia-a-dia.
A falta de humildade de alguns actores irrita-me. Não gosto de quem se acha superior e não percebe a importância do trabalho em equipa. No mundo do teatro cada um tem o seu lugar, mas nenhum existe sem o outro. Só com trabalho de equipa se cria um bom espectáculo para o público.
A minha maior virtude é ser paciente. Gosto de uma boa conversa e da simplicidade numa pessoa. E não gosto de falhar na minha profissão, por isso sou muito exigente naquilo que faço.
Tento não falar de música e teatro mas acabo invariavelmente a falar disso. A culpa é da convivência permanente com pessoas ligadas a estas duas artes (risos).
O teatro precisa de renovar o seu público e a chave para o sucesso são as crianças. É importante introduzir o teatro na vida dos jovens para ganharem maior capacidade de concentração, respeito pelas artes e espaço para deixar fluir a imaginação. Para tal é preciso a intervenção das escolas mas sobretudo dos pais.
Sou um bom garfo e teria de fazer um grande esforço para me tornar vegetariano. A cozinha tradicional portuguesa apaixona-me, gosto especialmente de pratos de bacalhau. Faço várias refeições vegetarianas mas confesso que não teria motivação para deixar de comer carne.
A peça de teatro da minha vida foi “Inimigo de Classe”. Tinha 14 anos e decidi ir sozinho ao teatro pela primeira vez. A peça era violenta, abordava o bullying e a incompreensão dos adultos pelos jovens que sofriam nas mãos de outros.

“Trabalhei em informática por pensar que não ganhava a vida com a arte”

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