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“Dar sangue deve ser um acto de cidadania e não uma troca de benefícios”
Engenheiro químico de profissão, Domingos Gomes é secretário da direcção do grupo de dadores de sangue de Vialonga

“Dar sangue deve ser um acto de cidadania e não uma troca de benefícios”

Domingos Gomes, membro da direcção do Grupo de Dadores de Sangue de Vialonga

Aos 13 anos deixou Viseu, sua terra Natal, e de mochila às costas rumou a Lisboa à procura de trabalho. Reside há quarenta anos no concelho de Vila Franca de Xira, agora em Vialonga. Engenheiro químico de profissão, Domingos Gomes, é secretário da direcção do Grupo de Dadores de Sangue de Vialonga, a título voluntário. Diz-se um optimista crónico e um romântico por natureza. Gosta de estar atento ao que o rodeia e informado sobre o que se passa mais longe. Acredita que o dinheiro não compra a felicidade.

A minha infância foi extremamente feliz e passada a brincar. Na altura tínhamos o que agora se chama jogos tradicionais. Viseu, onde nasci, era um lugar calmo, sem grandes movimentações e isso permitia juntar-me com os meus amigos no meio da rua para brincarmos às escondidas, jogar à bola, à pinha e ao pião.
Quando tinha treze anos rumei a Lisboa para trabalhar. Passei por inúmeros empregos e em todos eles dei o máximo de mim. Tenho 61 anos e vivo há 40 no concelho de Vila Franca de Xira, actualmente em Vialonga.
Acho que há falta de bairrismo em Vialonga. As pessoas deixaram de conviver e vivem fechadas em casa. Estão alheadas do que se passa na sua terra. Como até já café expresso se tira em casa, nem para beber uma bica se sai.
Só tive uma namorada na vida, a minha mulher. Sou um homem romântico que gosta de fazer surpresas. A próxima é uma viagem a Tenerife, Espanha, no aniversário dela, a 8 de Março.
Sou um positivo crónico que não vê negativismo em nada. Não sei se é defeito ou virtude, mas é dessa forma que gosto de levar a vida. Talvez seja porque fui viver sozinho para Lisboa quando era apenas um miúdo e tive de aprender a desenvencilhar-me. Olho para a vida de uma forma leve.
Comecei a dar sangue aos 30 anos e arrependo-me de não ter começado mais cedo. Agora já não posso porque fui operado ao coração mas acabo por contribuir de outra forma. Dedico parte do meu tempo à Associação de Dadores de Vialonga.
Não tenho inimigos ou, se tenho, não os conheço (risos). Mas se tiver e eles precisarem dou-lhes do meu sangue. A quem nos deseja mal devemos mostrar a nossa bondade.
Dar sangue é um acto voluntário e de cidadania. Há quem reclame mais incentivos para os dadores, mas para mim isso é errado. É como se estivéssemos a vender o sangue, a fazer da dádiva um acto para proveito próprio. O que falta é sensibilização e não mais benefícios para dadores.
Preferia ser pobre e feliz do que ser rico e não conhecer a felicidade. Esta é uma das certezas que tenho na vida. O dinheiro não compra a felicidade. Ela está nas pequenas coisas. Nos sentimentos que temos pela família, pelos amigos e pela sociedade que nos rodeia.
Tenho um prazer terrível em comer mas não tenho grandes mãos para a cozinha. Sei fazer alguns petiscos mas prefiro deixar essa tarefa para a minha esposa que cozinha lindamente. Jantar fora só para variar e para juntar os amigos à mesa.
Já tenho uma costela ribatejana. Os meus filhos nasceram cá, no meio de um povo trabalhador, que adora o convívio, sabe receber quem vem de fora e é muito ligado às suas tradições.
Apoio as largadas de toiros mas sou contra as touradas. Não sou um entusiasta radical da tauromaquia. Não gosto dos ferimentos que são infligidos aos toiros. Nas corridas de toiros são provocados ferimentos.
Valorizo o cinema português. Sou fã dos filmes antigos com o actor António Silva. Mais recentemente rendi-me ao filme “A Gaiola Dourada”. O enredo diz muito da história do nosso povo, que ainda hoje é marcado pela emigração. Na minha família, por exemplo, fui o único irmão que não emigrou.
Tenho muitos projectos para realizar antes de chegar aos 70. Quero iniciar actividade profissional por conta própria na área da construção civil. O meu objectivo é dedicar-me à recuperação de casas antigas.
Se a minha vida fosse um livro, no último parágrafo, diria que o optimismo deve comandar as nossas acções. Mas um optimismo realista. Sem nos tirar os pés da realidade. Gosto de escrever e está nos meus horizontes lançar um livro sobre jogos tradicionais.

“Dar sangue deve ser um acto de cidadania e não uma troca de benefícios”

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