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“Ser pai aos dezanove anos vira a nossa vida do avesso”
Luís Ferreira com os dois filhos

“Ser pai aos dezanove anos vira a nossa vida do avesso”

Luís Ferreira e a esposa Raquel decidiram ter um bebé mesmo sendo muito novos. Luís e Raquel conheceram-se no liceu em Almeirim. Apaixonaram-se, namoraram e quando Raquel engravidou decidiram ter o bebé. Sabiam que as suas vidas iam mudar mas nunca pensaram que iriam mudar tão radicalmente. Hoje sentem orgulho na filha de 14 anos e não estão arrependidos mas não aconselham ninguém a assumir aquela responsabilidade tão cedo na vida.

Em qualquer idade ser pai altera a vida, mas aos 19 anos a mudança é mais radical, conta-nos Luís Ferreira a propósito do Dia do Pai que se celebrou a 19 de Março. Um pai que confessa ter vivido as responsabilidades da parentalidade demasiado cedo.
Ser pai altera a vida de qualquer homem para sempre mas ser pai aos dezanove anos pode virar uma vida do avesso. Essa é a opinião de Luís Ferreira, de Almeirim, que foi pai aos dezanove anos.
“Tudo muda na nossa vida, as aspirações profissionais, os sonhos...fica muita coisa por fazer. A juventude não volta e é preciso que seja aproveitada no tempo certo. Hoje apercebo-me disso”, conta-nos Luís Ferreira, agora com 33 anos, pai de uma adolescente de 14 anos. Visivelmente emocionado, acrescenta: “Há uma altura certa para tudo. Mas às vezes há surpresas. Coisas que não escolhemos e que mudam radicalmente o rumo da nossa vida”.
Luís e a esposa, Raquel, um ano mais velha, conheceram-se no liceu de Almeirim e começaram a namorar. Desse namoro resultou uma gravidez e ambos, apesar de muito jovens, decidiram ter a criança, mesmo sabendo que deixariam para trás as saídas à noite, as idas aos concertos e outras actividades típicas da juventude.
Quando a gravidez aconteceu, Raquel estudava em Lisboa, onde estava a completar o 12º ano e Luís fazia o serviço militar em Abrantes. Foi ali, na então Escola Prática de Infantaria, que recebeu o telefonema da namorada com a novidade e foi também ali que procurou aconselhamento junto de um sargento que estava de serviço. “Às vezes é bom ouvir outras pessoas mais experientes, ouvir uma palavra amiga, na altura certa”, diz Luís.
“Quando soube foi um choque, colocámos tudo em causa, mas decidimos logo que iríamos em frente. Para os nossos pais o choque foi maior. A minha mãe perguntou-me o que eu queria fazer mas nunca me tentou influenciar. Ela sabe que tenho ideias fixas e já tinha decidido. Foi um salto muito grande. Tenho dois irmãos mais velhos mas na altura eles não tinham filhos”, explica Luís.
O peso da responsabilidade levou Luís a começar a trabalhar no restaurante dos sogros, “O Pinheiro”, em Almeirim. Começou por fazer fins-de-semana e mais tarde, quando o bebé completou seis meses, também Raquel se juntou a ele para trabalharem a tempo inteiro. “A partir daí ficámos os dois presos, a Mariana (filha) foi acompanhada pelos avós, tanto maternos como paternos. Foram eles que tomaram conta dela, não para que pudéssemos divertir-nos mas para que pudéssemos trabalhar”, lembra Luís, de voz embargada.
Os olhos voltam a encher-se de lágrimas quando lhe perguntamos se lia histórias para a filha adormecer. “Nunca tive tempo para isso. Chegava a casa exausto depois de um dia de trabalho. Ela queria brincar, mas eu já não tinha energia. Foi difícil”. Quando o restaurante passou a servir apenas almoços, durante os dias de semana, a vida de Luís melhorou. Voltou a ser pai há três anos e confessa estar a viver hoje o que é criar um filho e acompanhá-lo.
Coisas simples como poder ir buscar um filho à escola e ter tempo de qualidade durante a semana para brincar com ele ou ler-lhe histórias à noite para adormecer, fazem toda a diferença e dão significado à palavra pai.
“Ser pai é...(Luís hesita e depois prossegue) acompanhar, educar, proteger... (hesita de novo) não encontro palavras... é uma amizade verdadeira e para a vida. Ser pai muda-nos como pessoas, tornamo-nos independentes, temos que tomar conta de nós e dos filhos, assumimos responsabilidades”, conclui Luís. “Há uns anos pintei com a minha filha um quadro com a família que está na parede lá de casa. Não se enquadra nada na decoração mas está lá sempre. É como uma metáfora para o que nos aconteceu. Na altura ter uma filha podia não se encaixar na vida de dois adolescentes, mas ficou para sempre”, conta embevecido.

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