uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Rui Salvador toureia há 35 anos e recusa praças com toiros de morte
Rui Salvador numa homenagem recente

Rui Salvador toureia há 35 anos e recusa praças com toiros de morte

“Ando há quinze anos a pensar em parar mas vem um cavalo novo e entusiasmo-me”. Com 54 anos de idade, o cavaleiro tauromáquico comemora aniversário da alternativa dia 9 de Agosto no Campo Pequeno em Lisboa e tem uma exposição sobre a sua carreira, “Uma Vida, Uma Paixão” no Centro Cultural de Samora Correia.

Trinta e cinco anos após ter tirado alternativa como cavaleiro tauromáquico profissional, Rui Salvador pensa todos os anos em retirar-se mas a paixão pela profissão fala mais alto e ele mantém-se em actividade.
Orgulha-se de ver novos toureiros a pisar as praças mas diz que os veteranos não lhes roubam protagonismo. O toureiro de 54 anos é homem de fé, da família e tem uma paixão desmedida por cavalos. Defende a corrida de toiros à portuguesa e recusa-se a pisar uma praça onde se mate o toiro. Carrega consigo uma certeza: sem a tauromaquia, o toiro bravo de lide deixa de existir.
Aproxima-se o dia em que Rui Salvador vai comemorar 35 anos de alternativa como cavaleiro tauromáquico profissional, que vai ser assinalado com uma corrida no Campo Pequeno a 9 de Agosto. Mas as comemorações tiveram início em Samora Correia, com a inauguração da exposição “Uma vida, uma paixão”, patente no Centro Cultural da cidade, até 30 de Junho.
Foi entre cartazes de corridas em que participou e casacas bordadas que Rui Salvador reviveu os momentos mais marcantes da sua carreira, rodeado pela família, amigos e aficionados e colegas de profissão. É a olhar para essas memórias que Rui Salvador confessa que anda há 15 anos a pensar em retirar-se.
“Ando um bocado mentiroso”, diz a
O MIRANTE, acrescentando que vê a sua partida como um processo que tem de acontecer naturalmente. “Quando sentir que chegou o momento abandono. O problema é que vem um novo cavalo e volto a criar uma expectativa imensa”. Por isso é que vai aqui andar enquanto tiver capacidades físicas para o fazer e enquanto o público apreciar o seu toureio.
Para o veterano da tauromaquia há mais jovens a interessarem-se pela arte do toureio, em todas as suas vertentes. “Um sinal de que há futuro”, afirma, lembrando que a aquisição de conhecimentos é um processo lento que requer muita prática.
“Não falamos de actores ou cantores, mas de uma profissão de risco que exige um acompanhamento constante. Quem se afasta abre portas para quem vem a seguir e, depois disso continua presente a acompanhar os que nascem e a ajudá-los a cimentar as suas carreiras, não para lhes roubar protagonismo”, diz.
Nasceu em Lisboa, mas foi em Tomar na quinta da família que nasceu a sua paixão pelos cavalos e o sonho de ser cavaleiro tauromáquico. Tinha 10 anos quando num Carnaval se pôs pela primeira vez em frente a uma vaca. “Foi uma adrenalina imensa, apesar de a vaca fugir tanto de mim como eu dela”, lembra entre risos. Como amador toureou com as maiores figuras da época, entre nomes sonantes como David Ribeiro Telles e os irmãos Conde. A alternativa sempre foi uma meta clara. Conquistou-a a 9 de Agosto de 1984 no Campo Pequeno e reafirmou-a em Tomar.
Defende com ganas a corrida de toiros à portuguesa. “Nunca matei um toiro na minha vida. Respeito quem o faz, mas é pela nossa tradição que luto e nela a corrida termina com forcados, não com morte, como nas praças de Espanha. Há uma diferença abismal no sofrimento que é infligido ao animal, ente Espanha e Portugal”, refere. Aceita todas as ganadarias e gosta de “toiros bravos que sejam agressivos, nobres e honestos”.
“Aqueles que quando se lhes imprime o castigo da espetada da bandarilha trazem ao de cima essas características e aqueles que vão à luta; que não fogem e ficam na defensiva. Esses são os melhores”, sublinha. E conclui. “A dor provocada tem um objectivo claro: que é o último teste para a selecção de reprodutor. Se for bravo volta para casa e é tratado naquela noite. Se não for tem o fim que outros bovinos têm”, explica.
Rui Salvador lembra que o toiro de lide vive em média cinco anos, livre no campo. Uma sorte que os outros bovinos não têm. Ainda sobre a proliferação da raça não tem dúvidas de que se não fosse a tauromaquia o toiro bravo já estava extinto ou em vias de extinção porque é um animal muito pouco rentável para quem vende carne”.
Rui Salvador é cavaleiro tauromáquico, arquitecto, agricultor e organiza eventos na quinta da família. Não gosta de estar parado e gosta de tudo o que faz. Mas a verdadeira paixão é a corrida de toiros. Na carreira estão-lhe cravadas onze anestesias gerais, e já perdeu a conta às fracturas que sofreu nas pernas, braços, dedos e clavícula. “É um espectáculo onde arriscamos a vida. No dia em que esse risco deixar de existir, deixa de ter a força que tem”, diz. E é o risco, o medo da morte que o faz ser um homem de fé. Todos os dias agradece “a Deus e à Nossa Senhora da Piedade”, pois só com fé “se consegue alguma segurança interior”.

Rui Salvador toureia há 35 anos e recusa praças com toiros de morte

Mais Notícias

    A carregar...