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Dentro de uma sala de cinema não se devia comer pipocas
Joaquim Salgueiro é projeccionista no Cine-Teatro de Benavente há 16 anos

Dentro de uma sala de cinema não se devia comer pipocas

Joaquim Salgueiro é projeccionista e um apaixonado por cinema. Começou como projeccionista no tempo das bobines e teve de adaptar-se à era do digital em que os filmes chegam à sala de projecção em discos rígidos. Na semana em que se assinalou a Festa do Cinema, O MIRANTE foi conhecer o homem que está atrás das lentes no Cine-Teatro de Benavente.

Numa sala de cinema, para se desfrutar bem dos filmes, não se deveria poder comer pipocas, defende Joaquim Salgueiro, projeccionista do Cine-Teatro de Benavente e um apaixonado pela sua profissão e pela sétima arte.
O tema das pipocas divide opiniões – de um lado quem não consegue imaginar cinema sem elas e do outro quem acha que o barulho é perturbador – mas Joaquim não tem medo de defender a sua opinião. “Não gosto das pipocas nas salas de cinema. O barulho das pessoas a comer tira-me do sério. Num cinema não se devia comer. Quem diz comer diz também usar telemóveis e as luzes que estes provocam. A pessoa deve estar focada no filme e na experiência que está a viver. Ir ao cinema é uma experiência e as pessoas não deviam estar distraídas”, conta a O MIRANTE.
Joaquim Salgueiro tem 37 anos, nasceu e vive em Santo Estêvão, onde também é músico na filarmónica local. O seu momento especial é quando pode estar na sala, sozinho e em silêncio, a testar os filmes. E sem pipocas. Entrou primeiro como motorista para a Câmara de Benavente e em 2003 aceitou o desafio de se tornar projeccionista no cine-teatro municipal.
“Naquele tempo os filmes ainda vinham em bobines divididos em várias caixas e tínhamos de saber colar à mão os frames [um frame é uma unidade de tempo onde está inserida uma imagem estática e é a soma de vários frames que cria a imagem em movimento como a conhecemos]. Por vezes não era um trabalho fácil. Era preciso aguentar todo o filme atento à máquina de projecção para garantir que a imagem estava a sair em condições para o público”, recorda.
Hoje em dia as coisas mudaram. A máquina actual, uma Sony digital, é semelhante à que se usa nos cinemas dos centros comerciais de Lisboa. Os filmes chegam a Benavente num disco rígido, são descarregados para a máquina e a distribuidora envia um código de desbloqueio por tempo limitado para que as sessões se realizem. “Perdeu-se um bocadinho da magia antiga do cinema, de se conseguir ver todos os frames a rodar, hoje em dia é tudo perfeito e basta carregar num botão. O espectador tem mais qualidade, para nós é mais fácil mas perdeu-se essa magia da imagem em movimento”, confessa.
No que toca à imagem, Joaquim parece rendido às qualidades do digital mas não esconde que por vezes o analógico é imbatível. “No que toca ao som prefiro o analógico, no caso, o vinil. O vinil dá-nos o som como ele é na realidade. O que é gravado num vinil é o que ouvimos. O CD não, é uma interpretação digital do som. Pode soar bem mas não é a mesma coisa”, defende.

Pirataria não matou o cinema
Para Joaquim Salgueiro, a pirataria não matou o cinema porque, defende, o acto de ir ao cinema ainda é um momento social. “No limite, a pirataria banalizou as coisas mas não matou o cinema. Por muito boa que seja a nossa televisão em casa e o som que nela tenhamos, o cinema é sempre o cinema, é a sala escura, estar cercado por outras pessoas, ter um tamanho de ecrã superior”, defende.
Joaquim é também técnico de espectáculos e passa pela sua mão tudo o que seja som e luz do cine-teatro. Actualmente o espaço tem sessões gratuitas às quartas-feiras e sessões a 3 euros para adultos, 2,5 euros para crianças e 2 euros para idosos aos sábados. É metade do preço que se paga em Lisboa. A sala tem 440 lugares e as novidades costumam chegar três semanas depois da estreia, ultrapassada a pressão comercial de cada filme. “Costumo dizer, meio a brincar, que quando abrimos matámos o IMAX em Vila Franca de Xira”, ironiza.
Tem na memória o maior sucesso da sala até hoje: três sessões do filme “Mamma Mia”, duas delas esgotadas, em 2008. Quando está a trabalhar só tem olhos para a projecção. Quando não está a trabalhar é raro ir ao cinema, excepto nas férias de Verão com a família e mesmo assim não consegue parar de olhar para os pormenores da projecção em vez de desfrutar do espectáculo.
Adora bandas sonoras, em particular Hans Zimmer, sendo os seus filmes favoritos os de acção. Pelas suas mãos já passaram centenas de filmes e por isso tem dificuldade em nomear alguns dos seus preferidos. “O último samurai” com Tom Cruise, “A Lista de Shindler” com Liam Neeson e “A Vida é Bela” com Roberto Beningni são alguns deles. “A magia do cinema é emocionar-nos e fazer-nos mergulhar num mundo diferente onde, durante aquele tempo, não pensamos em mais nada”, conclui.

Dentro de uma sala de cinema não se devia comer pipocas

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