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Ter muitos filhos implica dinheiro, disciplina e empregos com facilidades de horário

“Se a minha esposa não fosse funcionária pública era difícil ter trabalho no privado”. A propósito do Dia Internacional da Família, que se assinala a 15 de Maio, O MIRANTE revela-lhe o quotidiano de duas famílias numerosas da região: a família Carvalho, de Casével, e a família Francisco, de Tomar.

Na família Carvalho a boa disposição é comum a todos os membros, desde os pais à pequena Maria Alice

Catarina Carvalho amamenta crianças ininterruptamente há oito anos

O marido Valter lembra que chegaram a ter que comprar trezentas fraldas por mês

A família Carvalho é composta por pai, mãe e quatro filhos. Valter e Catarina, actualmente com 41 anos, casaram em 2010. Catarina já estava grávida do primeiro filho e desde então surgiram mais três. O objectivo inicial de dois ou três filhos, já foi ultrapassado e o casal quer ficar por aqui. A logística não é fácil, no carro nasceram mais dois lugares e a própria habitação também cresceu. As idas ao supermercado são divertidas mas dispendiosas.
Valter, que trabalha como motorista de pesados para a base do Lidl, em Torres Novas, revela que a conta do supermercado chega facilmente aos 700 euros por mês. Só leite são 40 litros. Os pães consumidos mensalmente andam à volta das duas centenas.
Mas o maior custo aconteceu na altura em que praticamente todos usavam fralda. “Chegámos a gastar 300 fraldas por mês”, desabafa Valter acrescentando que a poupança também se aprende. “Começámos pelas fraldas Chico, com o primeiro mas quando chegámos ao terceiro já estávamos a optar pelas marcas brancas. Desde que não fizessem alergias, eram boas”, comenta bem-disposto.
A boa disposição é aliás comum a toda a família, que se diverte e improvisa brincadeiras enquanto decorre a entrevista. Ainda sobre as idas ao supermercado, dizem que é difícil passarem despercebidos e por vezes são abordados.
“Muita gente se mete connosco e pergunta se são todos filhos do mesmo casamento”, conta Valter, enquanto Catarina realça que aprenderam a aproveitar tudo. “Aqui em casa não há desperdício”.
O Manuel, de oito anos, vai buscar o disfarce que usou no último carnaval e explica como, com uma caixa velha de papel, uma borracha e uma embalagem de detergente a mãe lhe fez um aspirador de fantasmas para completar o seu fato de caça-fantasmas.
Ele é o mais velho. Anda no 3º ano do 1º ciclo. Francisco tem seis anos e anda no 1º ano do 1º ciclo. O mais novo dos rapazes é o Lourenço. Tem quatro anos e frequenta o 1º ano do jardim-de-infância.
Todos estudam na EB de Casével, Santarém. Maria Alice, tem 18 meses e é a primeira dos quatro irmãos a frequentar a creche, na Santa Casa da Misericórdia de Pernes. Catarina chama à creche o “infectário”. Desde Novembro Maria Alice já apanhou duas pneumonias e está frequentemente com febre.
“Se tivesse sido ela a primeira filha provavelmente só teria tido mais um filho no máximo, devido a esses problemas”, confessa Catarina que não se esquece de referir que tem sorte porque sempre teve a ajuda da sogra e da mãe para cuidar das crianças.
O casal é de Casével e ficou em Casével. Só assim lhes é possível ter a ajuda de família e amigos. Se tivessem ido para outro lado era muito mais difícil. Catarina diz que há sempre um plano A (os pais), um plano B (as avós) e um plano C (os amigos), para alguma emergência. “Se fossemos para uma cidade em que não conhecessemos ninguém seria quase impossível”, refere.
Perguntamos se tem ideia de quantos meses esteve grávida, Catarina faz contas por alto e revela que foram 36, mas o que mais impressiona, diz, é o facto de amamentar ininterruptamente há oito anos.
O marido acrescenta que desde 2010 a esposa nunca mais dormiu uma noite inteira. Levanta-se por volta das 07h00 e assim começa um dia agitado. Como ainda tem uma hora de amamentação, pode chegar uma hora mais tarde ao emprego, em Aveiras de Cima, onde é professora do 1º ciclo.
Trata de si, veste os miúdos, prepara pequenos-almoços e lanches para levarem para a escola e aguarda pela carrinha da junta de freguesia que os vem buscar à porta.
Valter tem noção que Catarina teve alguma facilidade por ser funcionária pública. “Qualquer outra mulher nas condições da Catarina a trabalhar no sector privado já teria sido despedida”, diz peremptório. Catarina concorda, mas diz sentir, mesmo assim, alguma discriminação por parte dos colegas, que não vêem com bons olhos o facto de entrar mais tarde.
O casal quer proporcionar actividades extracurriculares aos filhos, nomeadamente aos mais velhos. Manuel tem natação duas vezes por semana e o Francisco anda na escola de futebol de Alcanena também duas vezes por semana. Esses são os dias mais complicados, principalmente para a mãe, pois o pai trabalha cinco dias de noite e cinco dias de dia, e só na semana do turno da noite pode dar uma ajuda.
Quanto à divisão de tarefas domésticas, Manuel, o mais velho, afirma que às vezes ajuda a por a mesa e a lavar a loiça, mas a mãe não confirma e diz que é difícil incutir regras. “Tenho dificuldade em incutir regras, dá trabalho, são muitos, por vezes prefiro ser eu a fazer para despachar”, confessa.

Luís e Luísa confessam que a base para uma família feliz, pequena ou numerosa, é o apoio mútuo e o amor

Uma família numerosa de Tomar onde todos sabem cozinhar

Luís e Luísa Francisco são professores em Tomar e tiveram oito filhos, um dos quais já saiu de casa em tempos chegaram a pensar tirar a carta de motorista de transporte colectivo de crianças

Na família Francisco todos os dias se sentam à mesa nove pessoas. Pai, mãe e sete filhos. No total são oito os filhos de Luís e Luísa mas o mais velho, Pedro, de 27 anos, casou o ano passado e já saiu de casa. Isso faz com que haja mais dois lugares à mesa ao domingo.
Com filhos entre os 12 e os 27 anos as dificuldades são diferentes. “Durante um ano chegámos a ter quatro a estudar fora”, conta-nos Luísa, de 56 anos, professora do 1º ciclo e bibliotecária no Agrupamento de Escolas Templários, em Tomar.
Pedro (27), Tiago (26), André (24) e Miguel (22) estudavam em Lisboa, Guarda, Santarém e Porto.
Os pais confessam que foi complicado em termos de orçamento familiar pagar propinas, alojamento e viagens, mas sempre facilitaram para que todos pudessem regressar a casa ao fim-de-semana. “As questões financeiras resolvem-se, eu preparava a comida para eles levarem para a semana, por exemplo, é uma forma de poupar. O importante era que estivéssemos todos juntos”, explica Luísa.
Os primeiros quatro filhos nasceram nos cinco anos posteriores ao casamento, quando ainda viviam num apartamento. A falta de espaço levou-os a procurar uma casa maior e foi já na moradia junto à Escola Gualdim Pais, em Tomar, que, após um interregno de cinco anos, voltaram a “estar abertos à vida”. Ali nasceram os gémeos Ana e Bernardo, de 17 anos, Leonor de 14 e António, o mais novo dos irmãos, com 12 anos.
Na família do Luís o anúncio de cada nova gravidez era bem recebido, mas o mesmo não acontecia com Luísa. “Desde que fiquei grávida pela primeira vez ouvi a minha mãe ralhar, primeiro era porque tinha casado há pouco tempo, depois porque tinha tido um filho há pouco tempo, depois porque já eram muitos, enfim, havia sempre um motivo para ralhar comigo e ainda por cima era a primeira pessoa da família a quem contava a novidade”, diz Luísa confessando que, depois de nascerem os netos a avó se derretia e mudava de ideias.
Luís confessa que não estava nos planos do casal ter uma família numerosa. “Foi acontecendo mas no fundo somos uma família igual às outras, com miúdos iguais aos outros com as suas birras de criança e crises de adolescência”.
Luís, de 57 anos, é professor no Instituto Politécnico de Tomar, e conta-nos que, quando os filhos eram mais novos, chegava a gastar uma manhã inteira de sábado a levá-los às diversas actividades. Agora que já são crescidos e moram numa zona central da cidade deslocam-se sozinhos e quase sempre a pé. Menos uma dor de cabeça para os pais que chegaram a considerar tirar o certificado de motorista de transporte colectivo de crianças, uma imposição legal quando se transporta mais de nove pessoas num veículo.
Os pais referem com orgulho que todos os filhos sabem cozinhar e fazer as tarefas domésticas. Foram assim educados porque há sempre alguma coisa para fazer e todos têm que contribuir. Nas férias de Verão também trabalham em campos de férias ou nas vindimas, na região de Alcanhões, de onde a mãe é natural.
“Já todos viajaram ao estrangeiro, os pais ajudam, mas eles colaboram com o que vão ganhando nestes trabalhos sazonais”, conta o pai, acrescentando que este fundo de maneio serve também para os pequenos luxos de cada um, como comprar um telemóvel.
Luís recorda os tempos em que os filhos eram pequenos e como alguns amigos o questionavam como conseguia arranjar tempo para brincar com todos. “Na verdade há menos trabalho assim do que só com um ou dois filhos, brincavam uns com os outros e davam-nos algum descanso”, remata. “Agora dou com os mais velhos a dar raspanetes aos mais novos, como os pais fizeram com eles, é muito engraçado”, diz o progenitor.

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