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Um amor que nasceu a partir de cartas e fotografias
Amélia e Fernando Serrão casaram-se em Hamburgo na Alemanha

Um amor que nasceu a partir de cartas e fotografias

Amélia e Fernando Serrão celebraram as bodas de ouro no sábado, 25 de Maio, em Abitureiras, aldeia do concelho de Santarém onde residem. Começaram a namorar à distância e sem se conhecerem pessoalmente.

Amélia e Fernando não são do tempo do Facebook nem de encontros às cegas, mas o casal que celebrou no sábado, 25 de Maio, as suas bodas de ouro também iniciou a sua relação à distância e sem se conhecer presencialmente. Começaram a namorar por carta e só passados dois anos, quando Fernando regressou da guerra do Ultramar, é que se encontraram pela primeira vez.
“Foi um momento especial. Lembro-me de sentir um nervoso miudinho porque não sabia se ia gostar. Mas acabei por apaixonar-me logo que o vi”, confessa Amélia com um sorriso enquanto Fernando vai limpando algumas lágrimas que insistentemente vão caindo de tanta emoção. Afinal, não é todos os dias que o casal de 74 anos, de Abitureiras, concelho de Santarém, consegue juntar toda a família, mesmo a emigrada em França, amigos e vizinhos num almoço onde não faltou nada. Nem mesmo as ferraduras (bolos tradicionais oferecidos pelos noivos aos convidados), a decoração, o bolo de noiva de dois andares e as brincadeiras preparadas pela cunhada.
Amélia e Fernando estiveram emigrados durante 21 anos em Hannover, na Alemanha, até irem residir para as Abitureiras, terra natal do reformado. Fernando Serrão já vivia e trabalhava em Hannover, na Alemanha, na empresa de pneus Continental quando Amélia, natural de São Pedro do Sul (Viseu), emigrou para o mesmo país. Entretanto, ficou amiga das irmãs de Fernando e começou a corresponder-se com ele. Do primeiro encontro ao primeiro beijo foram poucas semanas. Veio o pedido de casamento, pouco romântico e simples, tal como Amélia sonhava, e o dia do matrimónio, que contou com 25 convidados.
“Foi uma festa pequena mas com direito a tudo. Casei-me numa igreja de Hamburgo na Alemanha. Depois o copo de água foi na casa de uma das minhas cunhadas. Nas mesas tínhamos tudo, desde peru a carne assada, arroz doce e vários tipos de fruta”, conta Amélia ao mesmo tempo que recebe mais um presente. Desta vez é uma moldura em prata com uma fotografia do casal que o sobrinho mandou revelar.
Depois do casamento, o casal ainda viveu alguns anos na Alemanha, mas a vontade de regressar às origens e de colocar os filhos a estudar numa escola portuguesa levou a que construíssem a sua própria habitação e mudassem definitivamente para Abitureiras.
De início a adaptação não foi fácil, mas rapidamente o casal se integrou e começou a estar mais ligado à comunidade. Fernando ainda fez parte da Junta de Freguesia de Abitureiras e foi inclusive o principal responsável pela construção e abertura aos necessitados do CAF - Centro de Apoio à Família. Já Amélia foi durante muitos anos proprietária de uma loja de conveniência, a única na terra onde toda a população podia abastecer-se sem ter de se deslocar cerca de dez quilómetros até à cidade.

Um amor que curou o cancro
“Neste momento temos uma ligação muito grande com as Abitureiras e não nos vemos a viver noutro sítio”, afirma Amélia, lembrando a força que todos deram a Fernando Serrão quando, há dois anos, recebeu a notícia que tinha cancro no maxilar. Um dos momentos mais complicados que o casal passou, mas que conseguiu ultrapassar, apesar de ter ficado com algumas sequelas do tratamento de radioterapia, como o facto de ter dificuldades em falar e só poder ingerir alimentos líquidos.
Hoje, já reformados e com dois filhos e quatro netos, vão aproveitando a vida e fazem o que mais gostam, que é passear. E se a cozinha está sempre por conta de Amélia, que confessa ter mais mãos para os cozinhados, já a parte da bricolage e de tratar dos animais é da responsabilidade de Fernando. “O casamento é mesmo isto. Uma constante partilha de tarefas, para além de saber ouvir e falar quando é preciso. Porque a verdade é que toda a gente se enerva, mas é preciso controlar a maneira como se fala e foi o que sempre fiz”, admite Amélia enquanto vai sorrindo para o marido.

Um amor que nasceu a partir de cartas e fotografias

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