uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Vida social fica de lado quando o objectivo é ser campeão
foto DR Joel Catarino (à esquerda) e João Maia (à direita) com o treinador Diogo Soares

Vida social fica de lado quando o objectivo é ser campeão

Joel Catarino e João Maia representam o Clube de Ginástica de Torres Novas e são promessas na ginástica artística. O medo já quase os levou a desistir mas a vontade de vencer e de levar longe o nome de Torres Novas falou mais alto. A modalidade obriga-os a uma vida regrada, em que as noitadas, álcool e tabaco não entram.

“Não bebo álcool, nunca fumei um cigarro, nem me passa pela cabeça experimentar qualquer tipo de drogas. Não tenho namoradas para não ter distracções e redes sociais não me fazem perder tempo”. Literalmente de corpo e alma dedicado à ginástica artística masculina, já na fase de competição, o atleta Joel Catarino, 17 anos, integra a selecção nacional no nível elite e não dá aso a qualquer distracção. Só no ano passado somou 26 horas semanais de treino.
Todos os dias, à excepção de sábado e domingo, o jovem de Torres Novas começa os treinos às 08h00. Apenas interrompe às 10h00, para ir às aulas do curso de Técnico de Desporto que frequenta na Escola Secundária do Entroncamento. As aulas terminam por volta das 17h00 e ruma a Lisboa para um ginásio privado onde o esperam mais duas horas de treino. Chega a casa por volta das 23h00. E esta rotina repete-se dia após dia. A excepção é às terças-feiras e alguns sábados de manhã, onde tem autorização da Câmara de Torres Novas para treinar no Ginásio Municipal.
“Sinceramente, ando todo roto, psicológica e fisicamente”, diz Joel entre risos à reportagem de O MIRANTE. Mas a palavra desistir não existe no seu vocabulário. Pelo menos agora. Porque o medo já o assolou e fez pensar em parar. “Numa fase em que estava a aprender novos elementos senti medo de cair e magoar-me mesmo a sério”, admite o atleta do Clube de Ginástica de Torres Novas.
Joel sabe bem que as lesões nesta modalidade são agressivas e por vezes com graves consequências. “Se num exercício cairmos mal, podemos colocar a nossa carreira em risco e até a vida”, conta à reportagem de O MIRANTE que foi assistir a um treino do jovem, no Ginásio Municipal de Torres Novas.
O espaço é dotado de aparelhos para o treino de ginástica artística que se não fosse Joel Catarino a dar-lhes uso, ficariam ali a “ganhar pó”. É considerado pelos especialistas como um dos melhores ginásios do país.
Nos treinos, a música não pode faltar, por isso, assim que chega veste o equipamento, liga a música, e começa o aquecimento. É um aquecimento e um treino individual, solitário que serve para introspecção. “Nestes momentos passa-me tudo pela cabeça. As competições, a escola, tudo”, conta. Os Jogos Olímpicos de 2024 em França fazem já parte desse rol de pensamentos. “Era um sonho poder ir representar Portugal e vir de lá com uma medalha”, diz.
Ser atleta federado dá-lhe alguns privilégios, além de poder representar Portugal no estrangeiro. “Tenho as faltas justificadas sempre que me ausento por motivos de treinos ou competições e posso entrar na faculdade com notas mais baixas”. Privilégio que não necessitará de ser usado uma vez que além de atleta de topo é ainda um bom aluno.

Ginástica como terapia
Joel era uma criança muito irrequieta que os pais tinham dificuldade de controlar. Decidiram que a ginástica poderia ser uma solução e inscreveram-no nessa modalidade na União Desportiva e Recreativa da Zona Alta (UDRZA). O treinador Diogo Soares não reconheceu, de imediato, grandes qualidades no jovem. Era um grupo de pouco mais de 10 crianças com seis anos e até havia alguns que se destacavam mais que Joel. Começou a empenhar-se e a evoluir a nível técnico. De um momento para o outro viu que “o miúdo” tinha tomado o gosto e a técnica para a ginástica.
Em 2018 participou no Campeonato da Europa, em Glasgow, onde representou Portugal no escalão júnior com a equipa nacional e onde obteve o estatuto de alto rendimento. Sagrou-se vice-campeão nacional no escalão de elites já este ano.

João Maia uma promessa em ascensão

Outro atleta da mesma modalidade, também de Torres Novas, é João Maia. Treina em conjunto com Joel Catarino, com os mesmos horários e rotinas. João Maia também é um atleta federado mas da 1ª divisão. O jovem de 18 anos detém o título de campeão distrital de seniores da 1ª Divisão. Em 2017 sagrou-se campeão nacional de ginástica artística na Divisão Base.
Há 12 anos também por ser muito irrequieto os pais inscreveram-no na ginástica. Desde então não parou e a exigência da modalidade é algo que o desafia e motiva. João Maia é um jovem que também não se permite a escorregadelas sociais. Dedica-se a 100 por cento ao desporto e à escola. As saídas à noite, as discotecas e as namoradas ficam para terceiro plano, algo que não lhe tira o sono.
Também João Maia acompanha Joel Catarino nas deslocações para treinar em Lisboa. “É mesmo muito desgastante, mas se não for assim, ficaríamos sem treinar e era o fim da nossa carreira”. Faz um sacrifício diário, mas a cabeça não pára e durante a viagem aproveita para fazer os exercícios de matemática. Este ano vai para o ensino superior, para um curso também ligado ao desporto.

Pódios nas Super Finais de Ginástica Artística

O Clube de Ginástica de Torres Novas deslocou-se a Guimarães no passado dia 9 de Junho para disputar as Super Finais de Ginástica Artística Masculina da 1ª divisão e Elites. Joel Catarino e João Maia estiveram mais uma vez em bom plano. Joel Catarino, que já se tinha sagrado vice-campeão nacional de juniores Elites na classificação geral individual, foi agora vice-campeão nacional de cavalo com arções, paralelas e barra-fixa nas Super Finais.
João Maia, que se apurou para a final de cavalo com arções em 4º lugar no Campeonato Nacional da 1ª divisão, conseguiu superar-se e chegar ao pódio em 3º lugar no escalão de seniores. O ginasta alcançou o seu objetivo, que consistia em chegar às medalhas no seu primeiro ano na primeira divisão sénior.

Vida social fica de lado quando o objectivo é ser campeão

Mais Notícias

    A carregar...